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Desenvolvimento da Aula

4. O corpo como mercadoria

4.1. Continuação

A indústria é um dos setores que mais se beneficiam com essas disciplinas corporais. As escolas treinam as pessoas para assumirem padrões corporais que a maioria dos empregos exige. Os ritmos orgânicos do corpo são ajustados de modo a responder às necessidades de um dia de trabalho normal, começando e terminando em uma determinada hora, com intervalos cuidadosamente especificados para se comer, ir ao banheiro e descansar. Tanto para os trabalhadores das fábricas como para os dos escritórios, o movimento do corpo ocorre dentro de limites cuidadosamente definidos por engenheiros industriais para maximizar a eficiência.

A forma da disposição desses corpos no espaço que se encontram, seja no trabalho, nas escolas ou em qualquer outro ambiente social, permite que, esse corpo, uma vez vigiado e modelado, possa ser influenciado ou até mesmo coagido, de modo a entrar em consonância com o ponto de vista de determinada sociedade. Sendo assim, o corpo (seus sentimentos, estilos de movimento, padrões de reação e saúde) não é apenas uma realidade individual governada por suas próprias leis biofísicas e pelos efeitos das peculiaridades de cada um, o corpo também é fruto das ideologias à sua volta.

Superada a concepção de corpo-máquina de Foucault que culminou com a necessidade da força de trabalho para o desenvolvimento tecnológico durante a Revolução Industrial, deparamos uma realidade, se não perfeitamente idêntica, ao menos muito semelhante quando nos remetemos a alguns aspectos que vieram influenciando o imaginário relativo ao corpo, em especial, a partir das últimas décadas do século XX. Apesar de termos atingido uma condição tecnológica bastante favorável e de nos liberarmos de grandes enclaves relacionados ao corpo, percebemos que estes apenas foram camuflados e modificados. Mesmo com revoluções ocorridas e com o apeteço pela liberdade de expressão, vivemos, hoje, em um constante pan-ótico, onde a vigilância e a socialização dos corpos se apresentam de maneira muito marcante

Como sugeriu Goldenberg (2002), existe um dever ser constante com relação à condição corporal dos indivíduos na contemporaneidade que faz com que eles sejam os principais “guardas” de si mesmo. Logo, corpo-máquina é substituído, ou melhor, complementado pela concepção de corpo-mercadoria, sem que se percam algumas de suas características disciplinadoras

Ressaltamos uma (re)sacralização do corpo que é venerado por verdadeiros cultos com mandamentos e doutrinas a serem seguidos, não havendo mais a contradição entre o sagrado e o profano. Estes se entrelaçam em nome de algo além: o hedonismo. A busca do corpo perfeito virou uma espécie de religião com uma quantidade de fiéis jamais vista até então. Essas questões permeiam um universo comandado por imagens e signos, ideologicamente veiculados pela mídia e que, segundo Debord (1997, p.152), comandam a “Sociedade do espetáculo”. Nesse sentido, o sujeito que deseja é tomado imageticamente pela ideologia vigente que se resume a corpos esteticamente perfeitos.