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Desenvolvimento da aula - Leitura de Artigo

Educação, escola e divórcio entre natureza e cultura, corpo e mente


Desde a Revolução Industrial, (que inaugurou a reprodução em série de bens materiais) e, depois, a Revolução Francesa (que superou o feudalismo e propôs o mercado como eixo da vida social) a função social da escola vem sendo a de ensinar às novas gerações a lógica sob a qual o sistema capitalista-urbano-industrial-patriarcal se estrutura. 


No contexto de uma ordem capitalística em que o sentido principal do trabalho social é a produção e a acumulação de bens, a escola está ainda organizada de acordo com o pressuposto de que a razão pode decifrar a lógica interna da natureza. Isto explica que o objetivo fundamental do trabalho escolar seja o de desenvolver plenamente em seus alunos a capacidade racional para a compreensão e a submissão da natureza aos interesses do mercado, desprezando ou secundarizando outros caminhos de abordagem da realidade material e imaterial. Assim, alguns conceitos/idéias/sentimentos/visões de mundo – constitutivos dos ideais da modernidade – orientam concepções e práticas escolares em nosso tempo. Primeiramente, uma crença na razão como salvo-conduto para enfrentar os ritmos da natureza, que são tomados como obstáculos para um espírito conhecedor, pesquisador, desvendador de todos os mistérios da vida, que seria capaz, inclusive, de determinar os rumos da história. Há, em conseqüência, supervalorização do intelecto e desprezo pelo corpo. Esta é uma decorrência da lógica dual que, separando seres humanos de natureza, afirma a racionalidade como processo superior, em oposição à natureza, identificada com o corpo humano. 


No coração da lógica paradigmática está uma idéia de superioridade em relação à natureza: a faculdade da razão não apenas coloca o “Homem” acima dos animais, como, por sua qualidade, é superior a qualquer outra espécie. Decorre daí que o pensamento seja considerado a atividade humana mais importante, que a cultura se apresente como a característica peculiar do homem, pela qual se distingue como um ser especial, diferente dos animais e das coisas e, portanto, acima deles. Nesta perspectiva, a ordem natural seria inferior à ordem cultural, tudo O que é relativo a este plano se sobrepõe. Assim, a cultura antropocêntrica fragmenta o que é uno: separa os humanos da natureza, a razão da emoção, definindo uma oposição hierárquica entre as partes, uma das quais é sempre considerada como superior e sempre progride mediante a subordinação a outra (Mies e Shiva, 1997).  Assim, a natureza aparece subordinada aos homens, a mulher ao homem, o consumo à produção, o local ao global, a emoção à razão, o corpo à mente.