|
|
Na contramão da concepção cartesiana – em que a mente domina o corpo e as paixões, e tem o poder de explicar todas as funções corporais de modo puramente mecânico – Espinosa (1632-1677), ao invés de perguntar “o que é um corpo”, ao invés de buscar uma definição, interroga: “o que pode um corpo?” Ao fazer esta pergunta, fere a lógica descrita por Descartes, segundo a qual todas as funções corporais podem ser explicadas, medidas, quantificadas. Para Espinosa, estamos fechados nos limites corpóreos, mas podemos fugir sempre, graças à força que nos impulsiona para além. Assim, não haveria hierarquia entre corpo e alma, “há uma força inconsciente no espírito, assim como há uma potência insuspeita no corpo” (Barros e Passos, 2000, p. 3). |
|
Entretanto, ao assumir a função de formar as novas gerações para a reprodução do modelo urbano-industrial, a instituição escolar ignorou concepções que não fragmentam nem subordinam o corpo à mente. Ao contrário, optou por uma visão que, ao hipervalorizar o ego e o intelecto, nega a verdade do corpo. De fato, temos sentido as conseqüências de um cotidiano regido por uma rotina de esforços mentais e inflexibilidade física. As doenças se manifestam, são resultado de um modo de funcionamento – da sociedade, da fábrica, da escola, da instituição familiar, de cada um de nós – que é alienado em relação a muitas das mais elementares necessidades físicas, como respirar profundamente, alimentar-se sadiamente, dormir bem, relaxar. |
|