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Desenvolvimento da aula

O corpo saudável aos olhos da mídia

Continuação

                            Como permanecer jovem, atlético ou retardar o envelhecimento numa sociedade de culto ao corpo? A indagação gera uma necessidade de encontrar meios como resposta e que, ao mesmo tempo, rompam com as limitações do corpo. Esse sentimento acontece juntamente com a valorização atribuída aos produtos e às técnicas para “ser ou ter” um corpo belo. Além disso, corpos “sarados, turbinados” (termos vigentes na mídia como sinônimos de saúde e beleza) promovidos com os discursos da atividade física e saúde interessam à economia, ao padrão moral e ao discurso científico de cada época.

                                                     
Percebe-se atualmente significados sociais semelhantes: saúde, bem-estar, juventude e beleza. Tais significados são assimilados, frequentemente, por influência da mídia e da indústria comercial. Elas investem em publicidade para vender “receitas para a saúde”, objetivando tornar o corpo um artigo de comercialização. O principal local de “venda” deste produto acaba sendo as academias de ginástica, os clubes e até mesmo a escola.

  

 

Devemos estar atentos, pois o corpo, hoje, é manuseado pelos avanços biotecnológicos. Eles são mais rápidos e imediatistas se comparados à atividade física. Além disso, garantem status. A atividade física torna-se um instrumento auxiliar da biotecnologia que mantém a forma do corpo “esculpido”. O “corpo em forma” passa a integrar o estilo de vida de muitas pessoas, consoante suas crenças, nível socioeconômico e cultural. Ele significa “saúde” para jornais e revistas cujas reportagens tratam o emagrecimento, exercícios físicos, dietas e o corpo “ideal”. Os meios de comunicação de massa estão sempre apresentando, genericamente, dicas e receitas para a meta do corpo perfeito. As reportagens abordam variados assuntos: valor calórico da alimentação, tipos de exercícios físicos, cosméticos, queima calórica em diferentes atividades diárias e outros produtos e serviços.

Recentemente, o programa Globo Repórter (setembro de 2003) apresentou entre as reportagens uma avaliação sobre o gasto calórico em atividades cotidianas como lavar carro, louças, brincar com os filhos, entre outras. As atividades domésticas foram compreendidas como atividade física e enaltecidas pela perda calórica. Porém, outros aspectos como prazer, orientação postural e sociabilidade não foram mencionados.

 


Mas, qual a relevância disso? O importante é o consumo calórico para promoção de saúde. Será mesmo?!

A patologia da modernidade nesse contexto é a colonização do “mundo vivido” pelo “mundo sistêmico”, na expressão de HABERMAS (1989). Verifica-se a superposição da ação técnica da mídia, da utilização de meios, tais como propagandas de ginástica, cirurgias plásticas, dietas etc., com o intuito de determinar o consumo de uma imagem ideal (saudável/bela), socialmente reconhecida, em que impera o sistema econômico e político.

A mídia, de forma massificada, induz muitas vezes a ressaltar a imagem do corpo saudável e belo, como formas de constituir a identidade. É um retorno à vivência da “era narcisista”, valorizando a imagem corporal da jovialidade, beleza e saúde. Talvez, em razão de uma liberdade limitada, os indivíduos tornem-se mais prisioneiros de uma aparência programada e descartável.

Neste sentido, SILVA (1999) vem corroborar esta reflexão afirmando que a economia de mercado articula meios eficazes e sutis de dominação em que, através de seus artifícios de manipulação de massa, faz desaparecer a consciência da dominação naqueles que são dominados.