O que já podemos concluir, nesse primeiro momento, é que a língua pode discriminar as pessoas que a utilizam, seja falando, seja escrevendo. Essa dinâmica ocorre dentro das sociedades, muito embora essa desqualificação seja cada vez mais questionada por muitos estudiosos. Vejamos o que nos diz Marcos Bagno:
... nós somos a língua que falamos, e acusar alguém de não saber falar a sua própria língua materna é tão absurdo quanto acusar essa pessoa de não saber “usar” corretamente a visão ou o olfato. Nós somos muito mais do que meros “usuários” da língua: a noção de “usuário” faz pensar em algo que está fora de nós, uma espécie de ferramenta que a gente pode retirar de uma caixa, usar e depois devolver à caixa. Nossa relação com a linguagem é muito mais profunda e complexa do que um simples “uso”(...) (2003:17)
Pelo que acabamos de ler, podemos inferir que a língua é intrínseca ao homem, ou seja, não é um instrumental alheio a sua natureza. Na verdade, a linguagem é uma faculdade mental com a qual todos nascemos. Isso significa que todos estamos “equipados” para manifestar a linguagem de diversas formas, e a forma mais frequente de manifestarmos a linguagem é por meio da língua.
Quando vamos para a escola, já sabemos nossa língua. Na verdade, aos seis anos de idade, já somos considerados adultos linguísticos – conseguimos elaborar sentenças de sentido completo, compreender sentenças de sentido completo, selecionar palavras em um universo de milhares, articular o pensamento... Então, por que vamos à escola aprender Português? Aí é que está: não vamos! Já sabemos Português! O que fazemos na escola é sistematizar esse conhecimento, aprendendo a ler e a escrever nessa língua que já ouvimos desde que nascemos e falamos desde muito novos...
A comunicação, dessa forma, começa a se sofisticar à medida que vamos aprendendo a lidar com a língua de forma mais complexa, mas ela não depende da sistematização desse conhecimento para acontecer.