Ir para o conteúdo principal

A comunicação escrita

Site: Instituto Multidisciplinar de Formação Humana com Tecnologias
Curso: Construção do Texto - Estratégias para a Comunicação Oral e Escrita - TURMA 2
Livro: A comunicação escrita
Impresso por: Usuário visitante
Data: sábado, 29 jun. 2024, 14:56

Descrição

É importante sabermos de que forma a comunicação escrita é conceitualmente caracterizada.

1. A comunicação escrita

A palavra texto é uma das formas do particípio do verbo tecer. Texto é o tecido que se faz com palavras, que verbalizam as ideias. Por isso, escrever um texto exige um esforço maior que falar. É preciso saber o que se quer comunicar, escolher as ideias e os argumentos que serão utilizados para isso, organizá-los de forma clara, coesa e coerente, dar-lhes uma sequência lógica, tudo isso sem deixar de lado a norma padrão da língua.

Há vários tipos de texto, contudo, em nosso dia a dia de trabalho, utilizamos, com mais frequência, o texto argumentativo.

Esse tipo de texto demanda algumas técnicas de construção.

2. Estratégias de comunicação oral e escrita

A) Argumentação 

Quando se quer defender uma ideia, uma determinada posição, é necessário tomar uma postura crítica diante do tema. Para fazer isso num texto, lança-se mão do texto dissertativo argumentativo.

O texto dissertativo obedece a duas exigências básicas:

  • expor o que o autor pensa;
  • fazer a exposição por meio de argumentos.

Para tanto, o autor discute um determinado tema, com vistas a convencer o leitor de seu ponto de vista.

Argumento é o desenvolvimento crítico de uma ideia. Em um texto argumentativo, um assunto é exposto e discutido, veiculando as opiniões do autor a respeito do tema. O raciocínio é conduzido no sentido de provar a validade do que se está discutindo – isso é argumentar.

 

Nesse exercício de argumentação, o autor pode ter duas metas: convencer ou persuadir o leitor. No primeiro caso, a argumentação leva o leitor a aceitar o ponto de vista do autor, em função das provas de sua consistência. No segundo caso, o leitor não apenas aceita o ponto de vista do autor, como também passa a adotá-lo como seu, podendo, inclusive, mudar sua atitude a partir do que leu.

Há vários tipos de argumentos que podem ser usados num texto dissertativo argumentativo:

2.1. Dedutivo

É o que se desenvolve do geral para o particular, de modo que uma verdade que se aplica a um grupo é também aplicável a cada um de seus membros.

Ex: Se todos os homens são mortais e se eu sou um homem, necessariamente sou mortal.

Trata-se de um silogismo, que parte de uma premissa maior em direção a uma premissa menor, chegando à conclusão.

2.2. Indutivo

Faz o caminho inverso: parte do particular para o geral. Dessa forma, uma verdade constatada num número significativo de componentes de um grupo passa a ser aplicada a todo o grupo. É uma forma de generalização.

Ex: Vários descendentes de judeus apresentam uma síndrome congênita. Logo, o casamento entre judeus gera descendentes portadores da síndrome.

2.3. Causal

Estabelece a relação de causa e efeito num processo. Essa relação deve ser constante e regular para que se considere realmente uma causa como legítima. É comum haver mais de uma causa para explicar um fato.

Ex: No Brasil, o êxodo rural decorre da má distribuição de terras e da falta de uma estrutura socioeconômica que fixe o homem do campo no ambiente rural.

2.4. Analógico

Parte de uma analogia entre dois fatos para gerar uma conclusão. É utilizado em áreas específicas, como a Medicina, em que os diagnósticos são feitos a partir de casos semelhantes.

Na literatura, usa-se a analogia metaforicamente.

Ex: “Amor é fogo que arde sem se ver.” (Camões)

3. Como a argumentação é construída

Vamos ver como a argumentação é construída, lendo um texto argumentativo:

 

Empregabilidade: uma Ponte a Construir

 

Marcos Belizário

 

Numa sociedade como a brasileira, com tantos resgates sociais a fazer, inúmeras pontes devem ser construídas, unindo mundos que ainda não conseguem se enxergar plenamente. Um desses caminhos a construir é o que liga o emprego ao conjunto de milhões de brasileiros com algum tipo de deficiência, um milhão e meio deles vivendo na cidade de São Paulo. Segundo dados do Censo 2000, mais de 52% são considerados inativos, e mais de 78% não ultrapassaram sete anos de educação formal. Nesse caso específico, a ponte deverá ter como pilares básicos a legislação, a educação, o transporte e a informação.

A equação é de fácil entendimento: sem acesso – arquitetônico, de transporte e pedagógico – ao ensino, a pessoa com deficiência não desenvolverá as habilidades necessárias à inserção no mercado de trabalho. E, mesmo aqueles que superam esse gargalo inicial, continuam tendo no transporte adequado e na eliminação das barreiras arquitetônicas condições essenciais para exercer sua profissão. Os demais ficam longe do emprego, uma vez que muitos não têm sequer a atividade braçal como opção.

Os três primeiros alicerces têm evoluído bastante, com avanços concretos e experiências vitoriosas em diversos municípios. A lei já disciplina a acessibilidade física em locais de grande circulação e há 18 anos exige que as empresas com mais de cem funcionários destinem entre 2% e 5% das vagas de trabalho a pessoas com deficiência. Só na rede municipal de ensino em São Paulo são mais de 10 mil alunos matriculados com esse perfil. Na capital paulista também circulam 3.600 ônibus acessíveis e 30 táxis adaptados (de um total de 80 alvarás expedidos), facilitando o acesso ao estudo, ao trabalho e ao lazer. Por que, então, muitas empresas reclamam não encontrar no mercado pessoas com deficiência para preencher as cotas estabelecidas por lei, enquanto milhões de pessoas aguardam uma chance de bancar seu próprio sustento? A resposta pode estar no quarto pilar acima descrito: a informação.

Diversas empresas, preocupadas apenas em cumprir a lei, reservam vagas em níveis hierárquicos inferiores e pior remuneradas, sem perspectiva de ascensão na carreira. Já outros empregadores adiam a contratação de pessoas com deficiência – expondo-se até mesmo ao risco de sanções legais – simplesmente porque imaginam que terão de investir muito para ajustar seu espaço e alterar demais a rotina de trabalho da empresa. É urgente orientar o empresariado sobre como mapear melhor as vagas existentes e mostrar quais adequações podem ser feitas, com eficiência e baixo custo.

Fonte: Disponível em:  www.isocial.com.br/2_3_3.asp. Acesso em: set. 2012. 

O texto aborda a questão da inclusão social de pessoas com necessidades especiais por meio do desenvolvimento de sua empregabilidade.

Vejamos que argumentos o autor utiliza para defender seu ponto de vista.

 

Fica claro que, na opinião do autor, a inclusão social de pessoas com necessidades especiais passa por diversas esferas, inclusive a da empregabilidade, e isso deve ser fruto de conscientização, não de imposição. Releia o trecho em que este argumento é sustentado:

Diversas empresas,preocupadas apenas em cumprir a lei,reservam vagas em níveis hierárquicos inferiores e pior remuneradas, sem perspectiva de ascensão na carreira. Já outros empregadores adiam a contratação de pessoas com deficiência – expondo-se até mesmo ao risco de sanções legais– simplesmente 

porque imaginam que terão de investir muito para ajustar seu espaço e alterar demais a rotina de trabalho da empresa.

É urgente orientar o empresariado sobre como mapear melhor as vagas existentes e mostrar quais adequações podem ser feitas, com eficiência e baixo custo.

 Repare que os trechos destacados desenvolvem a ideia iniciada no parágrafo, trazendo, embutida neles, a opinião do autor. Além disso, o autor desenvolve seus argumentos a partir da relação de causalidade – a imposição legal é a razão pela qual as empresas contratam pessoas com necessidades especiais, e a existência dessa imposição é obstáculo para a conscientização.

Há, ainda, a questão do planejamento do texto, que deve obedecer às seguintes etapas:

4. planejamento do texto

Há, ainda, a questão do planejamento do texto, que deve obedecer às seguintes etapas:

4.1. Etapa intertextual

Uma vez estabelecido o tema sobre o qual se vai escrever, deve-se considerar o que se conhece sobre o assunto. Devem-se buscar na memória as relações com o tema em várias instâncias – livros, artigos, peças, filmes – e faça uma lista em tópicos para refazer leituras e consultas.

4.2. Etapa contextual ou pragmática

Qual o objetivo do texto? Que ponto de vista se quer defender com ele? Quem vai lê-lo?

A partir dessas questões, deve-se delimitar o espaço ocupado pelo texto bem como o tom que se vai utilizar para tratar o assunto em pauta. Na maior parte das vezes, um texto dissertativo argumentativo é escrito em tom formal, levando-se em conta a norma padrão da língua.

É bastante produtivo fazer tópicos para elencar as ideias que se pretende transformar em argumentos. Com isso, é possível ter noção do número de parágrafos a ser utilizado.

4.3. Etapa textual

Vamos, aqui, voltar àquela velha fórmula do texto com “início, meio e fim”. Ainda que você já tenha ouvido isso várias vezes e não tenha clareza do que isso signifique, de fato, é assim mesmo que um texto deve ser construído. Vamos esclarecer melhor.                               

  • Comece expondo a questão sobre a qual vai falar.
  • Desenvolva a argumentação, escolhendo os tipos de argumento mais eficazes para seu objetivo.
  • Utilize exemplos para ilustrar sua argumentação. Lembre-se da célebre máxima: contra fatos não há argumentos. Se você estiver firmemente decidido a provar seu ponto de vista e usar exemplos concretos para ilustrá-lo, você limita a contra-argumentação do interlocutor.
  • Retome a questão inicial para construir a conclusão.
  • Lembre-se de que cada parágrafo deve tratar de uma ideia, mas deve haver relação lógica entre os parágrafos.

É importante lembrar, ainda, que escrever bem não é escrever difícil. O bom texto é aquele que tem clareza, objetividade e correção.