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Desenvolvimento da aula

Site: Instituto Multidisciplinar de Formação Humana com Tecnologias
Curso: Construção do Texto - Estratégias para a Comunicação Oral e Escrita - TURMA 1 copiar 1
Livro: Desenvolvimento da aula
Impresso por: Usuário visitante
Data: sexta-feira, 5 jul. 2024, 19:30

Descrição

Desenvolvimento da aula

1. Aforismos da crase

Aforismos da crase

 

Ferreira Gullar

"A crase não foi feita para humilhar ninguém" – esse aforismo que escrevi em 1955 ganhou popularidade e terminou sendo atribuído a vários escritores, menos a mim: a Paulo Mendes Campos, Rubem Braga, Otto Lara Resende e até a Machado de Assis. E de pouco adiantou a probidade desses escritores (os vivos, naturalmente), apontando-me como o verdadeiro autor de aforismo que àquela altura já passava a ser atribuído a autores estrangeiros...

Nesse particular, aliás, eu não dou sorte. Num encontro aqui no Rio com García Marquez, na casa de Rubem Braga, contaram-lhe que, quando me perguntam se sou Ferreira Gullar, tenho mania de responder: "Às vezes." E o faço por uma razão simples: tenho dois nomes, o outro, de batismo, é José Ribamar Ferreira. E também porque nem sempre sou capaz de escrever os poemas que o Gullar escreve...  ainda que maus. Pois bem, não é que o García Marquez chegou de Portugal e, numa entrevista, atribuiu essa frase a Jorge Luis Borges? É claro que tais confusões só me lisonjeiam.

Mas a verdade é que certo dia me vi induzido a escrever uma série de aforismos sobre a crase, esse grave problema ortográfico e existencial que boa parte dos escritores, jornalistas e escrevinhadores em geral não conseguem resolver. A crase tornou-se assim um pesadelo nacional. Hoje menos, porque já ninguém sabe o que é escrever certo ou errado. Mas, naqueles idos de 1955, as pessoas tremiam diante de certos "aa". Talvez por isso o meu aforismo teve tão boa acolhida e rapidamente espalhou-se pelo país.

 A mania de forjar aforismos eu a adquiri dos surrealistas, que criaram obras-primas como: "Bate em tua mãe enquanto ela é jovem." Em 1955, no suplemento literário do Diário de Notícias, publiquei os meus "Aforismos sobre a crase", antecipados de uma introdução que não vou transcrever aqui porque não tenho comigo o recorte, extraviado em alguma das tantas pastas que guardo no armário do escritório. Os aforismos, tentarei relembrá-los e reconstitui-los. Vamos a eles.

 “A crase não foi feita para humilhar ninguém.” 

“Maria, mãe do Divino Cordeiro, craseava mal, e o Divino Cordeiro, mesmo, não era o que se pode chamar um bamba na crase.”

“Zaratustra, que tudo aprendeu com os animais do bosque, veio aprender crase numa universidade da Basiléia.”

“Quem tem frase de vidro não atira crase na frase do vizinho.”

“Frase torcida, crase escondida.”

“Antes um abscesso no dente do que uma crase na consciência.”

“Uns craseiam, outros ganham fama.”

“Os campeões da crase quando erram ditam leis.”

“Os ditadores não sabem que, em frases como a bala ou à bala, é indiferente crasear ou não.”

“Oh!, Univac, que craseais sem pecado, craseai por nós, que recorremos a vós!”

Nota: Univac era o computador mais avançado na época. Anos depois, abro uma revista e lá está no alto de um anúncio de página inteira: "A crase não foi feita para humilhar ninguém – computadores IBM”. Não me pediram permissão para usar o aforismo, claro, porque ninguém sabia de quem era. E eu estava clandestino, foragido da ditadura, sem poder botar a cabeça de fora. Não me atrevi a cobrar os meus direitos autorais. Mas a IBM bem que podia, agora que estamos em plena democracia, pagar o que me deve...

Fonte: GULLAR, Ferreira. Aforismos da crase. In: ______. A estranha vida banal, 1989. Disponível em: http://www.mail-archive.com/policia-livre@grupos.com.br/msg06833.html. Acesso em: 15 mar. 2011.

2. Problemas comuns na escrita – algumas regras que causam dúvidas

Problemas comuns na escrita – algumas regras que causam dúvidas

Os tópicos que se seguem estão divididos por assunto e têm o objetivo de oferecer um pequeno subsídio teórico para a prática que norteará o curso. Recomenda-se que seja consultada a bibliografia sugerida para complementar as informações aqui contidas.

3. Problema 1 - Ortografia e acentuação gráfica

Ortografia e acentuação gráfica 

Reforma ortográfica – algumas modificações

 A reforma ortográfica trouxe modificações que não alteram substantivamente a compreensão da escrita. As alterações ficaram no âmbito da acentuação gráfica e no uso do hífen, além da supressão do trema em todas as palavras.

No que diz respeito ao uso do hífen, as maiores dúvidas estão ligadas aos prefixos. Veja, a seguir, as principais mudanças do uso do hífen com prefixos.

 

Casos

Exemplos

  • é utilizado com palavras iniciadas por h.

sub-humano

  • se o primeiro elemento do substantivo composto terminar em r, o hífen continua

super-revista

  • se o prefixo terminar com letra diferente da primeira letra da palavra, não se usa o hífen

autoestrada

  • se o prefixo terminar com a mesma letra com que se inicia a outra palavra

inter-relação

  • se o prefixo terminar em vogal, e a primeira letra da palavra for s ou r, não se usa hífen, e dobra-se a primeira letra da palavra

autossuficiência

antirrábica

  • não se usa hífen com prefixo co, mesmo quando o segundo  elemento se inicia por o ou h. No caso de palavra iniciada por h, corta-se o h. Se iniciada por r ou s, dobram-se essas letras.

coorientador

coabitação

correlação

cosseno

  • usa-se o hífen com os prefixos ex, sem,  além,  aquém,  recém,  pós,  pré, pró, vice.

ex-aluno

pré-vestibular

 

 

Regra

Casos

Exemplos

Acento agudo

 

  • deixará de ser utilizado nos ditongos abertos, quando a palavra for paroxítona.

jibóia à jiboia

OBS: nas oxítonas, o acento permanece: herói.

  • não será mais usado em alguns hiatos

feiúra à feiura

Acento circunflexo

 

Não será mais utilizado nas formas verbais que possuem vogal dobrada

crêem à creem

Trema

 

Só será utilizado em nomes próprios

Müller

Acento diferencial

Não se usa mais o acento diferencial das palavras: pára/para, péla(s)/pela(s), pêlo(s)/pelo(s), pólo(s)/polo(s)

e pêra/pera.   

Atenção:

  • Permanece  o  acento  diferencial  em pôde/pode.(diferença no tempo verbal)
  • Permanece  o  acento  diferencial  em pôr/por.(verbo X preposição)
  • Permanecem os acentos que diferenciam o  singular do plural dos verbos ter e vir, assim como de seus derivados

 

 

As novas regras, para serem utilizadas de forma proficiente, devem ser consultadas com frequência, até que seu uso dispense essa consulta. Recomendamos, dessa forma, que isso seja feito nos momentos em que houver dúvida. A bibliografia deste curso traz algumas sugestões.

4. Problema 2 - Pontuação

Pontuação 

É famosa a mensagem enviada por Clarice Lispector a um dos revisores do Jornal do Brasil, quando a escritora ali publicava suas crônicas:

"Não me corrija. A pontuação é a respiração da frase, e minha frase respira assim.

A mensagem acabou sendo uma das frases célebres de Clarice, e está disponível na obra A descoberta do mundo. Rio de Janeiro: ed. Rocco, 2002.

A fala de Clarice é fruto de uma correção feita em seu texto, e sua defesa faz alusão ao estilo pessoal de cada um. Sabemos, contudo, que a pontuação é mais que a marca de pausa. Uma vírgula pode mudar completamente o sentido de uma mensagem. Vamos, então, definir pontuação.

 

Definição

A pontuação marca, graficamente, as pausas e a entonação, de modo a deixar clara a intenção comunicante do emissor.

 

Vamos tomar como exemplo uma frase bem simples:

João vai para a escola.

João, o sujeito da oração, é o foco da mensagem, pois é dele que se está falando. Vamos colocar uma vírgula: 

João, vai para a escola.

Aqui, João passa a ser o vocativo – ou seja, a pessoa com quem se fala – e a ele é dada uma ordem.

Na fala, essa distinção fica clara pela mudança de entonação. Na escrita, isso precisa ser sinalizado graficamente.

Há regras gerais de pontuação, como veremos a seguir.

2.1 – Vírgula

Entre os termos da oração

  • separando termos com a mesma função sintática, que não estejam unidos por conectivo. Ex: “João, Francisco, Antônio nasceram entre tantas dificuldades.” (o sujeito é composto, e os núcleos estão separados por vírgula)
  • isolando o vocativo do resto da oração. Ex: Você viu, mamãe, o que houve?
  • isolando o aposto do resto da oração. Ex: Meu avô, um ilustre escritor, viveu nesta casa.
  • Isolando o adjunto adverbial, se for extenso, ou para enfatizá-lo. Ex: Na manhã de hoje, houve um enorme engarrafamento.

 

Entre as orações

  • separando orações coordenadas assindéticas – ou seja, as que não estão unidas por conjunções coordenativas. Ex: Acordou cedo, tomou café, saiu.
  • separando orações coordenadas sindéticas – ou seja, as que são introduzidas por conjunções coordenativas. Nesse caso, a vírgula é usada antes da conjunção que inicia a oração seguinte. Ex: Cheguei cedo, mas não o encontrei.

Atenção:

No caso da conjunção e, não se usa vírgula se o sujeito da oração for o mesmo da oração anterior. Ex: Meu avô me chamou e conversou comigo.

Se o e introduzir uma oração cujo sujeito seja diferente do sujeito da oração anterior, deve-se usar a vírgula. Ex: Meu avô me chamou, e meu irmão foi comigo.

  • separando orações subordinadas adjetivas explicativas – ou seja, as que são introduzidas pelo pronome relativo que e expressam uma característica geral em relação ao sujeito da oração principal. Ex: Os novos alunos, que estão muito curiosos, assistirão a uma palestra.

Nesse caso, a vírgula sinaliza que todos os alunos estão curiosos. Sem a vírgula – os novos alunos que estão muito curiosos assistirão a uma palestra – a oração adjetiva estaria restringindo a curiosidade a alguns alunos.

  • Separando as orações subordinadas adverbiais – ou seja, as que são introduzidas por conjunções subordinativas.

Neste caso, temos três possibilidades:

- se a oração subordinada vier após a principal, a vírgula é facultativa:

Estávamos jantando, quando ele chegou./ Estávamos jantando quando ele chegou.

- se a oração subordinada vier antes da principal, a vírgula é obrigatória:

Quando ele chegou, estávamos jantando.

- se a oração subordinada for reduzida, a vírgula é obrigatória:

Chegando cedo, pegaremos bons lugares.

 

Atenção: O sujeito não deve ser separado do predicado por vírgula. Se houver entre eles um aposto, um vocativo, um adjunto adverbial ou uma oração intercalada, então poderá haver vírgula.

 

 

 

 

2.2 – Ponto e vírgula

Emprego:

 

  • nas orações conclusivas e adversativas, se a conjunção vier após o verbo. Nesse caso, é possível também o uso da vírgula.

Ex: Todos ficaram animados com a perspectiva do recesso; o diretor, contudo, suspendeu a folga. (adversativa)

Nossos trabalhos foram feitos com muito esforço; a nota, portanto, será excelente. (conclusiva)

  • separando orações quando, na segunda, houver omissão de um dos termos da oração anterior. Ex: Eu falo no que acredito; você, no que o fazem acreditar.
  • separando ideias enumeradas em tópicos.

Ex: As ações serão as seguintes:

    • juntaremos os documentos;
    • selecionaremos os mais relevantes;
    • enviaremos aos interessados.

 

2.3 – Dois pontos

 

Utilizados para introduzir elementos que serão enumerados.

Ex: Lembrei-me de vários detalhes: seu nome, seu endereço, seus traços.

 

2.4 – Reticências

 

Seu uso é mais estilístico, indicando surpresa, hesitação, dúvida ou mesmo uma interrupção na fala ou no pensamento.

Há, ainda, o uso das reticências quando se suprime algum trecho de um texto.

 

O ponto final, de interrogação e de exclamação são usados, respectivamente, nas frases declarativas, interrogativas e exclamativas. Nestas últimas, a marca estilística também é relevante.

5. Problema 3 - Homonímia e paronímia

3.1 Homonímia

Na língua portuguesa, existem palavras que podem ser escritas da mesma forma, porém pronunciadas de forma diferente; escritas de forma diferente, porém pronunciadas da mesma forma; escritas e pronunciadas da mesma forma. Em todos os casos, contudo, essas palavras têm significados diferentes.

 

3.1.1 – Tipos de homônimos

Tipos de homônimos

Definição

Exemplo

homônimos homógrafos

Quando escrevemos duas palavras da mesma forma, mas as pronunciamos de forma diversa

Rego as plantas diariamente. ( com e aberto)

O rego do rio estava seco. ( com e fechado)

 

homônimos homófonos

Quando a escrita é diferente, mas a pronúncia é igual

Vamos a uma sessão de cinema.

Vamos à seção infantil.

 

homônimos perfeitos

Tanto a grafia quanto a pronúncia são idênticas, embora o sentido seja diferente

Manga é uma fruta de sabor marcante. (manga fruta)

O irmão mais velho manga do caçula. (mangar no sentido de caçoar)

 

 

3.1.2 - Uso

A preocupação que o usuário da língua deve ter com os homônimos é não utilizar um pelo outro. Essa utilização inadequada é limitada por alguns fatores:

  • O contexto: é possível verificar qual a forma a ser utilizada pelo sentido geral do que se está dizendo.

 Ex.: Tivemos de cassar a licença dos criadores que caçavam animais silvestres.

  • Pela organização sintática da frase.

Ex.: São de São Pedro os mosaicos que aqui encontramos.

  • Pelo gênero do substantivo, que pode ser diferente dependendo do artigo empregado.

 Ex.: O capital empregado pelo governador tirará a capital do vermelho.

 

3.1.3 – Lista de homônimos bastante utilizados

Acender / Ascender

Acento  / Assento

Aço   /  Asso

Banco /  Banco

Caçar / Cassar

Cela  /  Sela

Censo / Senso

Cerrar / Serrar

Cessão / Seção  / Sessão

Cesto /  Sexto

 Cheque / Xeque

Concerto / Conserto

  Coser / Cozer

 Espiar / Expiar

Manga / Manga/ Manga

Paço / Passo

 São / São / São

 

3.2 Paronímia

Algumas palavras possuem uma estrutura fônica semelhante, mas sentidos diferentes. Elas são muito parecidas, por vezes, quase idênticas, com uma pequena diferença em um ou dois sons. Com isso, a probabilidade de se usar uma pela outra aumenta.

3.2.1 – Lista de parônimos bastante utilizados

Flagrante (evidente) / fragrante (perfumado)

Mandado (ordem judicial) /  mandato (procuração)

Inflação (alta dos preços) / infração (violação)

Eminente (elevado) / iminente (prestes a ocorrer)

Arrear (pôr arreios) / arriar (descer, cair)

Descrição (descrever algo) / discrição (ser discreto)

Infligir (impor uma pena) / infringir (desrespeitar)

Proscrever (excluir) / prescrever (receitar)

 

3.3 – Dúvidas frequentes

Caso

Explicação

Exemplo

POR QUE/POR QUÊ

 

Escrevemos por que – preposição + pronome

quando equivale a pelo qual.

 

Este é o caminho por que (pelo qual) passo todos os dias.

 

Quando, depois dele, vier escrita ou subentendida a palavra razão. Se ocorrer no final da frase, deverá ser acentuado.

 

Por que chegou atrasado? Você não compareceu por quê?

 

Escrevemos por que – preposição + conjunção – quando ele equivale a para que.

 

Esforçamo-nos por que (para que) todos possam trabalhar em equipe.

 

PORQUE/PORQUÊ

 

Grafamos porque – junto e sem acento – quando se tratar de uma conjunção explicativa ou

causal. Geralmente equivale a pois ou a visto que.

 

Conseguimos alcançar a meta porque nos esforçamos bastante.

 

Escrevemos porquê – junto e com acento – quando se tratar de um substantivo, que tem o mesmo sentido da palavra motivo.

Nem nós mesmos sabemos o porquê desse resultado.

ONDE/AONDE

 

Empregamos aonde com verbos que dão ideia de movimento ou aproximação.

Sabemos exatamente aonde queremos chegar.

 

Com verbos que não expressam ideia de movimento, empregamos onde.

 

Não sei onde te encontrar.

 

MAU/MAL

 

Mau é sempre um adjetivo – seu antônimo é bom.

Escolhi um mau momento para marcar as férias.

Mal pode ser:

  • advérbio de modo – antônimo de bem.

 

  • conjunção temporal – equivale a assim que.

 

  • substantivo – quando precedido de artigo ou de outro determinante.

 

Estou me sentindo muito mal.

 

 

Mal chegou, saiu.

 

 

Este mal não tem remédio.

AO ENCONTRO DE/DE ENCONTRO A

 

Ao encontro de significa aproximar-se de, ser favorável a.

 

Estamos de acordo. Sua proposto vem exatamente ao encontro de nossos interesses.

De encontro a tem o sentido de choque, oposição.

 

As opiniões dele sempre vieram de encontro às nossas. Ele nunca nos ajudou!

À MEDIDA QUE/NA MEDIDA EM QUE

 

À medida que indica desenvolvimento gradativo e tem o mesmo valor de à proporção que.

 

À medida que crescermos, agregaremos mais componentes à equipe.

 

Na medida em que indica relação de causa e tem o mesmo valor de visto que.

Na medida em que os resultados não foram os esperados, teremos de adiar o redimensionamento da equipe.

CESSÃO/SESSÃO/SEÇÃO

Cessão indica doação, ou seja, o ato de ceder.

Ele fez a cessão de seus direitos autorais.

Sessão é o intervalo de tempo que dura um evento.

Reuniram-se em sessão extraordinária.

 

Seção – ou secção – é uma parte, um segmento ou uma subdivisão de um todo.

Obtivemos a notícia na seção final do manual de instruções.

6. Problema 4 - Pronomes relativos

4.1 - QUE

Deve ser utilizado para substituir um substantivo, evitando sua repetição. Na construção do período, deve-se colocá-lo imediatamente após o substantivo repetido, que passará a ser chamado de elemento antecedente.
Por exemplo:

Roubaram a peça. A peça era rara no Brasil.

O substantivo repetido é peça.

Assim, teremos:

Roubaram a peça que era rara no Brasil. Ou: A peça que roubaram era rara no Brasil.

Obs: O pronome que pode ser substituído por o qual, a qual, os quais e as quais sempre. O gênero e o número são de acordo com o substantivo substituído.

4.2 - CUJO

Indica posse (algo de alguém).
Na construção do período, deve-se colocá-lo entre o possuidor e o possuído.

Por exemplo:

Encontrei o rapaz. Você conhece a namorada do rapaz.

O substantivo repetido é rapaz. O substantivo que indica elemento possuído é namorada.

Assim: Encontrei o rapaz cuja namorada você conhece.

ATENÇÃO: Não se usa artigo (o, a, os, as) depois de cujo.


4.3 – QUEM

Este pronome substitui um substantivo que representa uma pessoa, evitando sua repetição. Somente deve ser utilizado antecedido de preposição, inclusive quando funcionar como objeto direto, Nesse caso, haverá a anteposição obrigatória da preposição a, e o pronome passará a exercer a função sintática de objeto direto preposicionado. Por exemplo, na oração: A garota que conheci está em minha sala, o pronome que funciona como objeto direto. Substituindo pelo pronome quem, tem-se

A garota a quem conheci ontem está em minha sala.
Há apenas uma possibilidade de o pronome quem não ser precedido de preposição: quando funcionar como sujeito. Isso só ocorrerá, quando possuir o mesmo valor de o que, a que, os que, as que, aquele que, aquela que, aqueles que, aquelas que, ou seja, quando puder ser substituído por pronome demonstrativo (o, a, os, as, aquele, aquela, aqueles, aquelas) mais o pronome relativo que.

Por exemplo: Foi ele quem me disse a verdade = Foi ele que me disse a verdade. Nesses casos, o pronome quem será denominado de Pronome Relativo Indefinido.
Na construção do período, deve-se colocar o pronome relativo quem imediatamente após o substantivo repetido, que passará a ser chamado de elemento antecedente.
Por exemplo:

 Este é o artista. Eu me referi ao artista ontem.

O substantivo artista é repetido.

Logo:

Este é o artista a quem me referi ontem.


4.4 - QUAL

Este pronome tem o mesmo valor de que e de quem.
É sempre antecedido de artigo, que concorda com o elemento antecedente, ficando o qual, a qual, os quais, as quais.
Se a preposição que anteceder o pronome relativo possuir duas ou mais sílabas, só poderemos usar o pronome qual, e não que ou quem.

Então, só se pode dizer:

 O juiz perante o qual testemunhei. Os assuntos sobre os quais conversamos, e não O juiz perante quem testemunhei nem Os assuntos sobre que conversamos.


4.5 - ONDE

Este pronome tem o mesmo valor de em que.
Sempre indica lugar.

Exemplo:

Eu conheço a cidade. Sua sobrinha mora na cidade.

    • Substantivo repetido = cidade
    • Colocação do pronome após o substantivo = Eu conheço a cidade que...
    • Restante da outra oração = ... sua sobrinha mora.
    • Junção de tudo = Eu conheço a cidade que sua sobrinha mora. O verbo morar exige a preposição em, pois quem mora, mora em algum lugar. Então,

Eu conheço a cidade em que sua sobrinha mora.

Eu conheço a cidade na qual sua sobrinha mora.

Eu conheço a cidade onde sua sobrinha mora.

4.6 - QUANTO

Este pronome é sempre antecedido de tudo, todos ou todas, concordando com esses elementos (quanto, quantos, quantas).
Exemplo:

Fale tudo quanto quiser falar.

Traga todos quantos quiser trazer.

Beba todas quantas quiser beber.

7. Problema 5 - Concordância nominal

É aquela que se estabelece entre os termos determinados – termos substantivos e os diferentes elementos que os caracterizam – os determinantes.

Elementos determinantes

  • adjetivos:

Ex.: Novas e eficientes ações foram anunciadas pelo governo

  • artigos:

Ex.: Uma questão como essa merece estudo.

 

  • pronomes adjetivos:

Ex.: Esses testes têm um objetivo.

 

  • numerais adjetivos:

Ex.: Havia duas possibilidades de fuga.

 

Como vimos, os determinantes são usados no singular ou no plural, no masculino ou no feminino, de acordo com o número e o gênero do termo determinado.

A dúvida surge nos casos em que as frases não estão na ordem direta, e o determinante pode se referir a mais de um determinado.

Vejamos os casos mais comuns.

Caso

Regra

Exemplo

1. Um determinante, mais de um determinado

 

Para fazermos a concordância nominal, é preciso, antes, verificar a posição dos termos na oração.

 

a) Determinante antes do determinado

O determinante concorda com a palavra determinada mais próxima em gênero e número ou vai para o plural e para o gênero comum, se ambas forem do mesmo gênero.

Temos boa alimentação e acomodação./ Temos boas alimentação e acomodação.

 

Se as palavras determinadas forem de gêneros diferentes, o determinante concorda com a mais próxima em gênero e número ou vai para o plural masculino.

Temos boa alimentação e abrigo./ Temos bons alimentação e abrigo.

 

Se as palavras determinadas se referirem a uma mesma pessoa ou coisa, ou se o determinante se referir a apenas uma delas, teremos o determinante no singular.

Sempre serei seu fiel amigo e servidor.

 

Sendo o determinante um predicativo, ele irá para o singular ou para o plural, dependendo do verbo.

Estava calmo/ estavam calmos o coordenador e a supervisora.

 

Antes de nomes próprios, contudo, o plural é obrigatório.

 

As simpáticas Cíntia e Valéria.

 

b) Determinante depois do determinado

 

Depois de palavras determinadas do mesmo gênero, o determinante concorda com a mais próxima em gênero e número ou vai para o plural e para o gênero comum.

Vivem nesta casa mãe e filho dedicado./ Vivem nesta casa mãe e filho dedicados.

 

Se as palavras determinadas forem de gêneros diferentes, o determinante concorda com a mais próxima em gênero e número ou vai para o plural masculino.

Comprei casaco e saia nova./ Comprei casaco e saia novos.

 

Se o determinante for um predicativo, o plural é obrigatório.

O diretor e a professora ficaram satisfeitos.

 

Se o determinante for um pronome possessivo, deverá concordar com o termo mais próximo.

Quis mostrar o empenho e a dedicação sua.

 

Se o adjetivo estiver se referindo somente a um substantivo, concordará apenas com o último substantivo.

Comprei blusas e calça azul.

 

2. Um determinado, mais de um determinante

 

A palavra determinada vai para o plural e os determinantes ficam sem artigo.

Recebeu os diplomatas francês, inglês e italiano.

 

A palavra determinada vai para o singular e o artigo é obrigatório a partir do segundo determinante.

Recebeu o diplomata francês, o inglês e o italiano.

3. Verbo ser mais adjetivo

 

Algumas expressões formadas com o verbo ser não variam.

É proibido entrada de menores.

(Note que não há artigo determinando o substantivo.)

Se houver artigo antes do substantivo, o adjetivo concorda com ele.

É proibida a entrada de menores.

 

4. Palavras variáveis

Algumas palavras variam de acordo com o substantivo a que se referem. Vejamos os casos mais comuns.

  • Anexo e incluso

 

Seguem anexos os documentos.

Vai inclusa a procuração.

Atenção: A expressão em anexo é invariável.

Ex.: Os documentos seguem em anexo.

  • Mesmo e próprio

 

Elas mesmas realizarão a correção.

Eles próprios estarão à frente do processo.

  • Obrigado, agradecido e grato.

 

“Muito obrigadas”, agradeceram elas.

Nós todos estamos agradecidos por sua colaboração.

As secretárias estavam gratas pela ajuda recebida.

  • Tal qual.

Tal concorda com o termo anterior e qual com o posterior.

Os funcionários são tais quais seus chefes.

 Os resultados são tais qual o planejamento.

5. Palavras invariáveis

 

  • Menos

Acredito que agora elas estejam menos ocupadas.

  • Alerta

Estamos todos alerta.

  • Salvo

(No sentido de exceto, com exceção de)

Salvo prescrições contrárias ao acordo, tudo ocorrerá como havíamos previsto.

  • Pseudo/todo

(Quando usados em termos compostos)

Acabamos descobrindo que eles eram pseudo-especialistas.

  • A olhos vistos

Ela definhava a olhos vistos.

6. Possível

 

  • Em expressões superlativas, como o mais, o menos, o melhor, o pior, a palavra possível fica no singular.

Quero materiais o menos possível caros./ Quero materiais o menos caros possível.

  • Se o artigo estiver no plural, possível vai para o plural.

Dei-lhe as respostas mais espontâneas possíveis.

Alcançaremos os resultados mais altos possíveis.

7. Um ou outro

 

O substantivo sempre aparece no singular, assim como o verbo, quando essa expressão for o sujeito da oração.

Um ou outro será premiado na cerimônia.

8. Um e outro

 

O substantivo é usado no singular, mas o verbo poderá aparecer no plural ou no singular quando essas expressões funcionarem como sujeito.

Um e outro problema podem ser facilmente resolvidos./ Um e outro problema pode ser facilmente resolvido.

 

9. Nem um nem outro

 

O substantivo sempre aparece no singular,

tal qual o verbo.

Nem um nem outro operário aderiu à greve.

 

8. Problema 6 - Concordância verbal

Concordância verbal é aquela que se estabelece entre o verbo e o sujeito da oração.

Assim, o verbo poderá aparecer no singular ou no plural, concordando sempre

com uma das pessoas do discurso.

A regra geral da concordância verbal é muito simples: o verbo concorda em número e pessoa com o sujeito.

Ainda assim, há casos que suscitam dúvidas. Vejamos os mais comuns.

 

 

Caso

Regra

Exemplo

Núcleos do sujeito unidos por OU

 

Se a ideia expressa for de exclusão, o verbo fica no singular.

Roma ou Viena será a próxima sede da companhia.

Se a ideia não for de exclusão, o verbo irá para o plural.

Roma ou Viena são excelentes locais para a próxima sede da empresa.

Núcleos do sujeito unidos por COM

Mais frequentemente, o verbo fica no plural.

O Sr. Pedro Alcântara com os demais diretores da empresa estiveram presentes à

inauguração.

Para dar mais destaque ao primeiro elemento do sujeito ou quando o verbo vier antes do sujeito, pode-se utilizar o verbo no singular.

O diretor, com seu colegiado, aprovou as novas normas.

 

 

Núcleos do sujeito unidos por NEM

 

Mais frequentemente, o verbo fica no plural.

Nem eu nem meu irmão chegamos a tempo.

Quando o verbo precede o sujeito ou quando existe a ideia de exclusão entre os elementos do sujeito, é preferível que o verbo fique no singular.

Nem Paulo nem Marcos será eleito para o novo cargo.

 

Com a expressão nem um nem outro – e também com a expressão um e outro –, o verbo poderá ir para o plural ou ficar no singular.

Nem um nem outro são capazes de responder a nossas dúvidas./Nem um nem outro

é capaz de responder a nossas dúvidas.

Um e outro conheciam bem o trabalho./ Um e outro conhecia bem o trabalho.

Mais de/ menos de/ um dos que

 

Com as expressões que indicam quantidade aproximada, como mais de, menos de, perto de, cerca de, o verbo concorda com o numeral que se segue a essas expressões.

Mais de um funcionário faltou hoje./Mais de dois funcionários faltaram hoje.

Sobrou menos de um lugar na sala./Sobraram menos de dez lugares na sala.

Com as expressões um dos que/uma das que/um daqueles que/ uma daquelas que, o verbo irá para o plural.

Se desejamos dar destaque ao elemento do grupo, dando a entender que ele sobressai sobre os demais, admitimos também o singular.

O novo consultor é um dos que mais se destacaram na equipe neste ano./O novo

consultor é um dos que mais se destacou na equipe neste ano.

Pronomes relativos

 

Quando o sujeito da oração é o pronome relativo quem, o verbo fica no singular, na 3ª pessoa ou concordando com o antecedente do pronome relativo.

Sou eu quem aprovará a versão final./ Sou eu quem aprovarei a versão final.

Quando o sujeito da oração é o pronome relativo que, o verbo concorda com o antecedente

desse pronome relativo.

Sou eu que farei a análise.

 

 

Porcentagens e numerais fracionários

Quando o sujeito for indicado por uma porcentagem seguida de substantivo, o verbo pode

concordar com o numeral que compõe a porcentagem ou com o substantivo – que é a tendência

mais comum no Brasil.

1% dos novos contratos ainda não foram assinados./1% dos novos contratos ainda

não foi assinado.

Com sujeitos formados por numerais fracionários, a concordância, em geral, é feita com o numerador.

Um terço das receitas será aplicado na área de produção.

 

9. Problema 7 – Usos do SE

Quando se opta por utilizar o SE em um texto escrito, a dúvida que surge é de que maneira fazer essa utilização de acordo com a norma padrão.

Isso ocorre porque o SE tem muitas funções na Língua Portuguesa. A maior confusão ocorre quando é utilizado com a intenção comunicante de dar ênfase ao paciente da ação, e não ao agente, e também quando não se quer ou não se pode explicitar o sujeito da oração.

Assim, podemos utilizar o SE como índice apassivador do sujeito ou como índice indeterminador do sujeito.

Vejamos como fazer isso 

7.1 – Usos que suscitam dúvidas

Função do SE

Regra de utilização

Exemplo

Apassivador do sujeito

É utilizado na voz passiva sintética – aquela que se faz com o verbo + SE.

Só é possível com verbos transitivos diretos.

O verbo deve concordar com o sujeito.

Ouviam-se vozes no quarto.

Indeterminador do sujeito

É utilizado com o sujeito indeterminado formado pelo verbo + SE.

Nesse caso, todos os verbos que não forem transitivos diretos terão sujeito indeterminado quando utilizados junto com o SE.

O verbo deverá ficar sempre na 3ª pessoa do singular.

Fala-se de tudo nesta sala.

10. Problema 8 – Regência verbal

Definição

Regência verbal é a relação que se estabelece entre os verbos – termos regentes – e os elementos que os complementam – termos regidos.

Devem-se diferenciar os verbos que não precisam de preposição obrigatória dos que precisam de, além de determinar a preposição correta para os que estão nesse último caso.

 

8.1– Verbos com regências diferentes e diferentes sentidos

verbo

Regência e sentido

Exemplo

aspirar

Respirar, cheirar – sem preposição.

Aspirou o ar da montanha.

Almejar, desejar – com preposição a.

Aspiramos a uma vida melhor.

assistir

Prestar ajuda, assistência – sem preposição.

O enfermeiro assistiu toda a cirurgia.

Ver, presenciar – com preposição a.

Na sala de parto, assistimos ao nascimento de nosso sobrinho.

implicar

Acarretar – sem preposição.

Sua atitude implicou sérias consequências.

Amolar, chatear – com preposição com.

Ele implica com todos os alunos.

proceder

Ter fundamento – sem preposição.

A observação feita por ele não procede.

Ter origem – com preposição de.

Sua tristeza procedia dos últimos acontecimentos.

visar

Mirar, dar visto – sem preposição.

Visou o alvo.

Visou o cheque.

Desejar – com preposição a.

Visava a um alto posto.

 

8.2– Verbos regidos por preposição obrigatória

Verbo

Regência correta

Exemplo

Forma incorreta

Chegar, ir

Com a preposição a.

Chegamos ao clube.

Fomos ao clube.

Chegamos no clube.

Fomos no clube.

Obedecer, desobedecer

Com a preposição a.

Obedeço ao meu superior.

Obedeço meu superior.

Preferir

Com a preposição a.

Prefiro sorvete a chocolate.

Prefiro sorvete do que chocolate.

Responder

Com a preposição a.

Respondi ao chamado do chefe.

Respondi o chamado do chefe.

 

8.3- Verbos com diferentes regências e mesmo sentido

Verbo

Regências

Exemplo

Lembrar

Com pronome SE e preposição DE.

Lembrei-me de seu nome.

Sem pronome e sem preposição.

Lembrei seu nome.

Esquecer 

Com pronome SE e preposição DE.

Esqueci-me da festa.

Sem pronome e sem preposição.

Esqueci a festa.

 

8.4- Uso do acento grave indicativo de crase

A palavra crase significa fusão, junção.

Em Língua Portuguesa, a crase é a fusão das vogais idênticas a + a, indicada, graficamente, por meio do acento grave à.

A abordagem da crase juntamente com o estudo da regência verbal justifica-se pelo fato de haver vários verbos regidos pela preposição a, exigindo, dessa forma, a indicação gráfica da crase.

 

8.4.1- Casos de crase obrigatória

Caso

Exemplo

Na indicação de horas – se, ao trocarmos esse número por meio-dia,

obtivermos ao meio-dia, utilizamos a crase.

Chegou à uma hora em ponto. (Chegou ao meio-dia em ponto.)

Na expressão à moda de, mesmo que essa expressão esteja subentendida.

Fez um gol à Pelé. Fez um gol à moda de Pelé.

 

Nas expressões adverbiais femininas.

 

Chegaram à noite.

 

Quando o complemento do verbo regido por preposição a for introduzido por artigo a ou pronome a ou aquele(a).

Contaram àquela aluna toda a verdade.

 

8.4.2- Casos em que nunca se usa crase

Caso

Exemplo

Diante de palavras masculinas.

 

Não assisto a filme de terror.

 

Diante de verbos.

 

Estou disposto a estudar.

 

Nas expressões formadas por palavras repetidas.

Ficamos frente a frente.

 

Diante de palavra feminina plural, sem o artigo definido.

 

Refiro-me a pessoas interessadas.

 

Diante de pronomes não são antecedidos por artigo.

 

Isto não interessa a ninguém.

 

 

8.4.3- Casos de crase facultativa

Caso

Exemplo

Diante de nomes próprios femininos.

 

Não me refiro a (à) Lúcia.

 

Diante de pronomes possessivos femininos.

 

Obedeço a (à) minha consciência.

 

Depois da preposição até.

 

Fomos até a (à) sala de reuniões.

 

 

8.4.4- Com nomes de lugares

Caso

Exemplo

Com o verbo ir – se, com o verbo vir, usa-se o artigo antes do nome do lugar, com o verbo ir será feita a crase.

 

Vim da Itália.

Vou à Itália

 

Se, com o verbo vir, não se usa o artigo antes do nome do lugar, não haverá crase com o verbo ir.

Vim de Portugal.

Vou a Portugal.

 

11. Problema 9 - Vícios de linguagem

Muitas das construções que usamos na oralidade tornam-se desaconselháveis em situações formais. Seja por comprometer a comunicação, seja por desqualificar o falante, os chamados vícios de linguagem constituem um dos tópicos de estudo para o uso adequado da língua.

Os vícios de linguagem são registros que se encontram tanto na oralidade quanto na língua escrita.

Esses registros têm impactos diferentes sobre o receptor da mensagem, pois são, eles próprios, de diferentes ordens.

Vamos conhecer alguns deles.

9.1- Principais vícios de linguagem

Imagine a seguinte situação: você está em sua mesa de trabalho e alguém lhe traz um documento pedindo sua “rubrica”. Você reage espantado, mas a pessoa que emitiu a frase não compreende por quê.

Pois é: várias pessoas pronunciam “rúbrica”, com acento tônico na primeira sílaba, em lugar de “rubrica”, cuja sílaba tônica é a segunda.

Às vezes, a pronúncia correta é que causa estranhamento, pois a maioria das pessoas já se acostumou a ouvir a forma considerada incorreta. Quais as consequências disso sobre o processo da comunicação? Na verdade, não é justo considerar que esse problema de ortoepia interfira no entendimento da mensagem.

O interlocutor não deixará de rubricar o documento, ainda que o emissor da mensagem tenha cometido um “barbarismo” ao pronunciar a palavra rubrica.


Barbarismo
é todo desvio da norma que ocorre em alguns níveis do uso

da língua: o da grafia, o da pronúncia, o da morfologia e o da semântica.

 

Vamos a alguns exemplos:

Nível do desvio

Exemplo

Grafia

“opição” em vez de opção

Pronúncia

“rubrica” em vez de rubrica

Morfologia

“reaveu” em vez de reouve

Semântica

Retificar como ratificar e vice-versa

 

Repare que, dependendo do nível em que o desvio ocorre, a mensagem pode ou não ficar prejudicada. Se, por exemplo, alguém escrever “opição” no lugar de “opção”, o destinatário de seu texto entenderá a mensagem? Provavelmente, sim.

A consequência desse desvio é sua desqualificação como usuário da língua, mas a comunicação não deixará de se efetivar por causa disso.

O mesmo pode ser dito em relação à pronúncia da palavra “rubrica”.

Com relação ao desvio morfológico, pode acontecer de o destinatário não identificar com clareza sua intenção comunicante – ou porque você utilizou uma forma absolutamente incompreensível, ou porque, ainda que compreensível, ela se confunde com outra. Nesse caso, pode haver o comprometimento do processo de comunicação.

Esse comprometimento fica ainda mais sério quando o desvio ocorre no nível semântico. Nesse caso, estamos diante do que chamamos de “paronímia”, ou seja,

palavras muito parecidas, mas com significados diferentes, que podem ser usadas inadequadamente.

Vamos imaginar outra situação: alguém entabula uma conversa com você e sai-se com a seguinte frase: “Diga a sua progenitora que os reveses de hoje não são como os de antanho.”

Pode ser que estejamos enganados, mas é possível que muitas pessoas não entendam o que está sendo dito.

Por que isso acontece? Simplesmente porque o falante lança mão de palavras e expressões que não se usam mais, já caíram de uso. Com certeza, isso compromete o entendimento da mensagem, podendo mesmo chegar a impedir a efetivação da comunicação. A esse uso – desnecessário e cansativo, diga-se de passagem – de expressões antigas, chamamos “arcaísmo”.


O arcaísmo no uso desnecessário de palavras e termos já em desuso. O uso de arcaísmos acarreta
prejuízo do processo comunicativo. Não se trata de desqualificar o falante, mas de impedir que o
interlocutor receba a mensagem, pois não se pode exigir que as pessoas conheçam vocábulos que
a língua já abandonou.

 

Vamos a mais uma situação imaginária. Você está ajudando a arrumar o salão após o término de uma festa quando alguém lhe diz: “Vamos aproveitar que sobrou muitos doces e vamos congelar tudo.”

Essa fala reflete um tipo de construção bastante comum na oralidade: o verbo não concordou com o sujeito.

Isso é muito frequente quando colocamos o sujeito depois do verbo. Desse modo, em vez de dizer “sobraram muitos doces”, acabamos dizendo algo semelhante à fala da história imaginária.

Esse desvio não compromete a comunicação. Por outro lado, pode funcionar como um fator de desqualificação do falante. Tudo depende, também, da adequação a um determinado contexto daquilo que se fala. Numa conversa informal, esse deslize pode passar despercebido. Entretanto, num texto formal, ou mesmo numa situação de oralidade em que a formalidade deve ser levada em conta, ele depõe contra o emissor. Esse “vício de linguagem” é denominado “solecismo”. Ele inclui desvios na sintaxe, como concordância, regência e colocação de pronomes. Em nenhuma das três situações há comprometimento da mensagem.


Solecismo
é o desvio da norma padrão, no nível da sintaxe.


Bem semelhante é o desvio que se comete ao se dizer, por exemplo: “Pegue o guardanapo para limpar a boca dela.”

 

Para nos darmos conta do que ocorre na frase acima, precisamos lê-la em voz alta. Você já percebeu que a frase incorre num vício já nosso velho conhecido: o famoso “cacófato”.


Cacófato
é a junção de duas ou mais palavras de uma frase, produzindo um som desagradável.

 

E que efeito esse “vício de linguagem” tem sobre o processo de comunicação? Além de um desconforto por parte de quem escuta, nenhum... Deve-se evitar o cacófato, mas ele não compromete o processo de comunicação. É uma ocorrência eminentemente fonética, ou seja, da ordem do som das palavras.

É o caso, também, do “eco”.


Eco
é um vício de linguagem resultante da dissonância que o uso de terminações iguais
ou semelhantes pode causar.


Veja como ele acontece: “A presença do declarante ante a assembleia torna-o constante participante do grupo integrante do conselho.”

Problemas com o entendimento da mensagem? Nenhum. Mas o que dizer das rimas involuntárias? Nada confortáveis, ainda que inofensivas.

Também inofensiva, no que diz respeito à efetivação da comunicação, é a “redundância”.


Redundância
é caracterizada pela repetição desnecessária de uma informação.

 

É aquela construção que, sem perceber, utilizamos, mas identificamos imediatamente quando ouvimos.

É o famoso “entrar pra dentro”, “descer pra baixo”, e outros mais.

Há utilizações mais complexas, em que a redundância fica mais sutil, e, por isso mesmo, causa a impressão de que o emissor está querendo “enrolar”... Contudo, não há prejuízo para a mensagem.

Em casos menos inocentes, a comunicação pode ficar irremediavelmente comprometida. Alguns desses casos são os que veremos agora. Vamos começar com o seguinte: “Governador, o senhor já conversou com o prefeito sobre sua má administração?”

E agora? Quem, afinal, é o mau administrador: o governador ou o prefeito?


Quando o que se diz gera confusão e admite mais de uma interpretação,
dizemos que temos um enunciado com ambiguidade.

 

Esse vício de linguagem pode ser um impedimento à compreensão de uma mensagem. No mínimo, ela será entendida de forma inadequada.

A ambiguidade, portanto, é um dos vícios de linguagem cuja ocorrência é fatal no processo de comunicação.

Pode-se dizer que o mesmo ocorre com a obscuridade.


A obscuridade acontece quando a mensagem fica difícil de ser entendida
por problemas em sua construção.


Vejamos um exemplo: “O ladrão, preso ontem de madrugada, ao tentar roubar um pão na padaria que queria comer, foi conduzido, de sua casa, pelo policial militar responsável pela captura que deveria ter sido feita pelo BOPE, a um presídio de segurança máxima que não foi aceito na chegada.”

A construção está tão confusa que a mensagem, quando não é abandonada pelo receptor, é mal compreendida, ou mesmo, nem chega a ser entendida. Assim como a ambiguidade, a obscuridade é um empecilho ao processo comunicativo.

9.2- O comprometimento da comunicação

Para organizar melhor nossas ideias, vamos separar os vícios de linguagem de acordo com o grau de comprometimento da comunicação que eles podem acarretar.

Compromete ou não

Compromete

Não compromete

Barbarismo

Arcaísmo

Solecismo

 

Ambiguidade

Cacófato

 

Obscuridade

Eco

 

 

Redundância