Ir para o conteúdo principal

Seleção vocabular

Site: Instituto Multidisciplinar de Formação Humana com Tecnologias
Curso: Construção do Texto - Estratégias para a Comunicação Oral e Escrita - TURMA 1
Livro: Seleção vocabular
Impresso por: Usuário visitante
Data: quinta-feira, 21 nov. 2024, 23:07

Descrição

Seleção vocabular

1. Seleção vocabular

Um dos pontos que se deve levar em conta no momento de produzir um texto é o cuidado com a seleção vocabular. Você vai perceber que essa seleção não está vinculada ao conhecimento da gramática, mas, sobretudo, ao bom senso e a informações que você pode – e deve – consultar sempre que tiver dúvidas.

Seleção vocabular

Além de estar atento a todas as normas gramaticais que se inserem no padrão culto da língua, de dominar as estratégias para a obtenção da clareza, da coesão e da coerência do texto, o usuário da língua deve, ainda, ser cauteloso com relação à utilização do vocabulário.

Não se trata, aqui, de escolher certo ou errado, mas de usar adequadamente as palavras. Para isso, é importante que se saiba que as palavras mantêm relações entre si, e que essas relações podem determinar o sentido que se pode obter a partir de determinadas combinações.

Por essa razão, é relevante compreender, por exemplo, que os sinônimos – atrás dos quais corremos, no dicionário, quando não queremos mais repetir uma palavra num mesmo texto – são apenas aproximações de sentido, já que não existem sinônimos perfeitos. O mesmo se pode dizer, por conseguinte, dos antônimos.

Além disso, as palavras podem ser polissêmicas, ou seja, uma mesma palavra pode ter vários significados. Se levarmos em conta que a linguagem é polissêmica por natureza, entenderemos que, ao lidar com as palavras, temos de cuidar para que não criemos ambiguidades que não estavam em nossos planos. Afinal, a ambiguidade pode ser uma estratégia textual, mas pode também se transformar em armadilha, quando sua ocorrência não é prevista pelo usuário.

O mesmo cuidado deve ser tomado em relação aos homônimos e parônimos.

Homônimos são palavras que podem ter o mesmo som, ou a mesma grafia, ou as duas coisas ao mesmo tempo, embora tenham sentidos diferentes. Por exemplo: sessão e cessão. Embora pronunciadas da mesma forma, são usadas em diferentes contextos, com diferentes sentidos.

Parônimos são palavras semelhantes, com diferença de um ou dois fonemas, e sentidos diferentes. Por exemplo: iminente e eminente.

Dessa forma, ao fazermos a seleção vocabular para a escritura de um texto, devemos ter alguns cuidados:

  • não confundir homônimos;


Homônimos


Palavras com a mesma grafia,
mesmo som ou ambos
mas com significados diferentes:

cessão, seção, sessão 

  • não confundir parônimos;


Parônimos

Palavras semelhantes,
com significados diferentes:

eminente, iminente

  • utilizar palavras em contextos apropriados. Por exemplo: temporário X passageiro. 
  • Podemos dizer que temos uma febre passageira, mas não temporária. 
  • não usar como sinônimas palavras que não o são em contextos específicos. Por exemplo: prematuro X precoce. Uma criança prematura não é a mesma coisa que uma criança precoce.
  • adequar as palavras à intenção comunicante

    . Ter cuidado com o uso de expressões que podem se tornar pejorativas.

    . Adequar o vocabulário à situação contextual - formalidade e informalidade.

    . Ficar atento a expressões que podem ser consieradas "politicamente incorretas"

  • respeitar a situação em que se dá a comunicação - em contexto formal, utilizar um vocabulário mais formal; em contexto coloquial, pode-se utilizar um vocabulário mais informal.
  • evitar repetições – elas não apenas tornam o texto cansativo como, ainda, podem criar um esvaziamento de sentido. Por exemplo: Ele ia ao trabalho cansado e fatigado, mas não desistia. Cansado e fatigado têm a mesma carga semântica. Não houve, na frase, nenhum acréscimo de valor com a utilização das duas palavras, apenas uma repetição desnecessária que, pode, inclusive, criar a sensação de que o autor do texto está “embromando”...
  • não usar arcaísmos, sob pena de ter um texto empolado e pretensioso. Por exemplo: Hodiernamente, fazemos uma verificação da frequência de todos os funcionários. Por que usar “hodiernamente”, se podemos usar “diariamente”?
  • optar pela ordem direta em vez de utilizar a inversa – a ordem direta facilita o fluxo de leitura, contribuindo para a clareza do texto. 

  • Sujeito + predicado (verbo + complemento verbal + adjuntos adverbiais) 
  • contribui para a clareza do texto
  • torna a leitura mais fuente
  • ordem inversa (hipérbato) - em textos técnicos, dificulta a leitura.

Como a empresa vem trabalhando com contenção de despesas, e devido aos altos custos da manutenção da lanchonete para os funcionários, a diretoria cominica que, a partir do próximo mês, será cobrada uma taxa de R$50,00 mensais a cada funcionário, para manutenção do serviço.

Repare que a leitura fica muito mais hesitante. Na ordem direta, a compreensão das informações é mais imediata e não causa tanto desconforto ao leitor. Veja como ficaria:

A partir do próximo mês, cada funcionário deverá contribuir com R$50,00 mensais para os serviços de lanchonete. A medida tem o objetivo de garantir o funcionamento da lanchonete, sem que ela seja afetada pelo corte de custos operado pela empresa. 

 

  • ter cuidado com a utilização do gerúndio – normalmente, utiliza-se o gerúndio em uma oração reduzida. O que é isso, mesmo? É uma oração que abriu mão do conectivo, utilizando, em sua forma verbal, o gerúndio, o particípio ou o infinitivo. Para isso, ela tem de manter a carga semântica que possuía com o conectivo. Veja um exemplo de oração desenvolvida que vira oração reduzida:

Como não tinha amigos, sentia-se só.

O conectivo como traz a ideia de causa à a causa de sua solidão é não ter amigos.

Vamos reduzir a oração, utilizando o gerúndio:

Não tendo amigos, sentia-se só.

A carga semântica é a mesma, ainda que se tenha eliminado o conectivo.

Além disso, é preciso muito cuidado para não utilizar uma oração reduzida em relação a uma principal ou a um antecedente com o qual não se relaciona. Veja:

A diabetes é o desequilíbrio de insulina no organismo, podendo, sua falta, levar a situações de gravidade.

Repare que o sujeito da oração principal é diabetes. Ao utilizar, na oração reduzida, o verbo no gerúndio, a relação dessa oração é em relação ao sujeito da primeira. Contudo, não é essa a intenção comunicante da frase. O que se quer dizer é que a falta de insulina leva a situações de gravidade, e não a falta da diabetes.

Uma forma de melhorar a frase seria utilizar, por exemplo, um pronome relativo, já que esses pronomes sempre estão ligados ao antecedente imediatamente anterior:

A diabetes é o desequilíbrio, no organismo, de insulina, cuja falta pode levar a situações de gravidade.

  • ter cuidado com os neologismos – muitas vezes, por analogia com palavras que importamos de outras línguas, acabamos por inventar vocábulos que não fazem parte de nosso vocabulário. Se tivermos dúvida quanto à existência de uma palavra, devemos buscar o dicionário. Em áreas específicas de conhecimento, muitas palavras ainda não foram aportuguesadas, porém, se a palavra existe em português, devemos utilizar a forma portuguesa. Um bom exemplo é estartar, emprestada do start inglês e utilizada, por analogia, com deletar. Esta última já faz parte do vocabulário ligado à informática e, aos poucos, vem tomando espaço em outros contextos. Estartar, contudo, não existe e, como tantas outras que estão no mesmo caso, deve ser evitada.
  • ter cuidado com o uso do jargão – sabemos que toda área de conhecimento tem seus jargões, mas é imprescindível que eles sejam utilizados estritamente dentro de seu contexto. O uso do jargão em situação descontextualizada pode revelar pouco caso do falante e até mesmo má fé.
  • evitar expressões sem sentido e incorretas – muitas expressões são tão difundidas que acabam por se tornar legítimas, embora não tenham sentido ou, muitas vezes, estejam sendo utilizadas de forma incorreta. Alguns exemplos conhecidos:

à A nível de – nível deve ser utilizado quando se fala, efetivamente, de camadas ou partes. Nesse caso, utiliza-se a preposição em: A situação está sendo resolvida no nível da diretoria.

As utilizações como A nível de direção, esta peça é fraca são absolutamente sem sentido e devem ser evitadas a todo custo.

à Enquanto no lugar de como – a palavra enquanto dá ideia de concomitância temporal:

Enquanto todos pensavam numa solução, ele ouvia música.

Ela tem sido muito utilizada da seguinte maneira: Nossos colaboradores, enquanto pessoas, devem ser respeitados.

É uma construção que já está esvaziada, além de não haver sentido nessa utilização. Nesse caso, é melhor simplificar e utilizar “como”.

Esses são cuidados importantes para a seleção vocabular de um texto, mas, claro não são os únicos. 

Agora, vamos juntar o que vimos até agora em um exercício simples. Leia o texto a seguir e reescreva-o, de modo a eliminar seus problemas de clareza, coesão, coerência e vocabulário.


Na qualidade de administradores do Condomínio em epígrafe e seguindo instruções ministradas pela Sra. Síndica, vimos por meio desta informar que temos recebido inúmeras reclamações sobre lixo que estão sendo jogados pelas janelas dos apartamentos para área de ventilação como guimbas de cigarro, pacotes de biscoito, absorventes afetando assim as áreas comuns do edifício e ainda ressaltamos para que todos os condôminos colaborem em não jogar esses mesmos objetos nos vasos sanitários uma vez que a tubulação de esgoto está sendo afetada. Solicitamos a conscientização de todos os moradores, para que mantenham as regras de boa convivência e limpeza, relevando mencionar que o nosso objetivo é manter a harmonia em nosso convívio, sendo necessária a colaboração de todos na conservação e limpeza das áreas comuns do Condomínio.