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Desenvolvimento da Aula

Desenvolvimento da Aula

2. Introdução

2.2. Continuação

O corpo contemporâneo, ou melhor, o imaginário relativo ao corpo contemporâneo, difere de qualquer outro período histórico já presenciado. Nunca se teve uma preocupação tão grande com a beleza, a juventude e o prazer. A eterna busca pelo hedonismo se apresenta, também, como fator determinante nesse processo.

Apesar de o corpo ter sido deixado de lado ao longo da história pelo racionalismo humano, ele sempre ressuscita. O que não é diferente nos dias de hoje. Cada vez mais o corpo é alvo de grandes preocupações e questionamentos. Assistimos, especialmente nos grandes centros urbanos do mundo ocidental, uma crescente glorificação do corpo, com ênfase cada vez maior na exibição pública do que antes era escondido e, aparentemente, mais controlado.

Em uma breve perspectiva histórica, ressaltamos inicialmente um corpo sacralizado, identificado como o corpo religioso cristão. Na Idade Média do ocidente europeu, com a influência da Igreja Católica, as teias simbólicas sobre o corpo indicavam a tendência de concebê-lo como algo pecaminoso, desvalorizado, profano. Evidenciava-se a separação entre corpo e alma, prevalecendo a supremacia da segunda sobre o primeiro. O bem da alma estava acima dos desejos e prazeres da carne. Imaginava-se o corpo culpado, perverso, necessitado de purificação, o que incentivava indivíduos a submetê-lo a autoflagelações, apedrejamentos e execuções em praça pública. Entretanto, contrariamente ao que foi dito, o corpo poderia ser também encarado como uma fonte de salvação da alma, assumindo, então, outra função. Podemos dizer que o corpo, nesse período histórico, passa a ser, ao mesmo tempo, tanto responsável pelo pecado, como responsável pela redenção no período renascentista, a concepção de corpo difere da anterior, já que, nessa época, a apropriação do imaginário passa a concebê-lo como algo belo, especialmente no que diz respeito às artes. O corpo nu aparece como destaque por pintores como Michelangelo, Da Vinci, entre outros. A vida terrena passa a ser valorizada juntamente com o pensamento científico e o estudo do corpo. Aos poucos, vai se estabelecendo uma compreensão corporal mais ampla, resultado do avanço do conhecimento da anatomia e fisiologia, passando-se para uma visão funcional, o que o afastava ainda mais da antiga visão religiosa.

Na lógica industrial, o corpo passa a ser visto como força de trabalho. Ele passa a ser suporte dos signos cambiados com desejos ideológicos, veiculados midiaticamente. Mais contemporaneamente, a partir da concepção erógena que reconheceu o corpo em sua totalidade de prazer, ele pode então ser tomado em sua materialidade visível como objeto de culto narcisista. Logo, ao mesmo tempo em que a humanidade vai avançando na construção do conhecimento, percebemos uma mudança na relação dos indivíduos com o seu corpo e na transformação dele pela interação histórica e dialética que se vai processando. Nessa perspectiva, talvez possamos falar de um corpo transformado (um corpo contemporâneo) que abarca e imprime as transformações de uma transição social, que ainda está por completar-se, por estar constituindo a realidade atual e por ser fruto de um processo dialético.