Repare que Tamuz critica a invenção da escrita por acreditar que a possibilidade de registrar idéias e acontecimentos levaria os homens a perder sua memória, por simplesmente se acomodar e não mais fazer uso dela. Essa é uma visão platônica da escrita, segundo a qual ela não seria a representação da verdade, mas uma forma de imitá-la e, portanto, de iludir.
Hoje, sabemos que a escrita garantiu a perpetuação da história de povos que não tiveram continuidade e, por isso, não poderiam contar sua história. Além disso, é ela também a responsável por manter inalterados textos que, após o advento da imprensa, foram compostos por artistas que nos deixaram seu legado. Antes disso, muitas obras foram manipuladas e até reescritas...
A escrita garante a memória, mas – e nisso Platão estava certo – não garante a recordação.
Recordação significa “de volta ao coração”. É uma forma de reviver momentos e emoções. Isso a escrita não pode fazer por nós, a não ser que tenhamos a viva reminiscência daquilo que ela deixou registrado.
Diante desse aspecto tão dicotômico da escrita, vamos desafiar um pouco nossa reflexão.
Claro que essa é uma reflexão bastante subjetiva. Ela vai nos fazer pensar a respeito de nosso próprio uso da escrita. |