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Desenvolvimento da Aula...

O corpo em movimento 

O espaço educacional, apesar de representativa do sistema dominante, pode ser também um local de reflexões e mudanças que levem em conta a diversidade humana, que possa promover qualidade de vida para todos, respeitando as diferenças culturais de cada grupo social e construir a condição de cidadania e autonomia necessárias. Por intermédio das atividades corporais, experimentam-se, de forma mais explícita, as contradições e tensões sociais que possibilitem a superação social apontado na análise de Johnson: 

A constante pressão exercida pelos ideais, as formas do que há a nossa volta, a disciplina escolar e a organização do local de trabalho gradualmente reduzem a curiosidade sensual que trazemos de berço. Ao perder em flexibilidade, diminuímos nossa capacidade de perceber. Desconectados da consciência de nossas percepções tornamo-nos mais dependentes daqueles que supostamente sabem mais. Desde a mais tenra idade, somos ensinados que eles sabem mais do que nos, portanto o melhor é sermos crianças/estudantes/pacientes/cidadãos quietos, deixando que as autoridades comandem o espetáculo, mesmo que este tome a forma de uma histerectomia ou uma guerra nuclear. (Johnson, 1990, p. 128)

As consequências das relações vivenciadas na escola e na universidade estabelecem formas dicotomizadas em “corpo e mente”, caracterizadas nas ciências cartesianas. É óbvio que sabemos da impossibilidade de separarmos um ser vivo desta forma, entretanto, o pensamento de Descartes (século XVII) ainda influencia sobremaneira o pensamento científico da atualidade, caracterizando a concepção dominante do corpo como instrumento mecânico do pensamento. 

Esta concepção “naturaliza” as ações cognitivas dissociadas do corpo, resultando na limitação do espaço educacional para o corpo poder se expressar. Essa expressão fica, portanto, limitada apenas às aulas de educação física, como se os domínios afetivos e motores não participassem da construção do conhecimento. Nesse sentido, observamos que geralmente as relações entre os jovens e o seu espaço escolar ficam reduzidos à quadra de esportes, com tempo limitado e, no máximo, dois encontros por semana.

Na medida em que a escola ainda mantém em sua estrutura esta dicotomia – limitar as ações cognitivas e naturais do corpo a dois encontros semanais, nas aulas de educação física – as aulas de educação física poderiam funcionar como um dos importantes instrumentos de transformação da concepção cartesiana na escola. Entretanto, o que observamos regularmente é o desenvolvimento dos movimentos motores dos alunos, construídos de forma mecânica, com gestos padronizados e de objetivos excessivamente competitivos voltados ao rendimento biomecânico, em que a obediência aos gestos esportivos implementados ainda possui forte influência. Portanto, até em uma disciplina caracterizada como “corporal”, as metodologias geralmente apontam para o desenvolvimento corporal mecânico, com gestos e movimentos excessivamente padronizados em busca de gols, cestas, pontos com objetivos de atingir vitórias em resultados competitivos.