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Desenvolvimento da Aula...

Corpo, memória e sociedade

O papel da memória na construção e no reforço das identidades coletivas é consequência da dinâmica desse processo. A memória social resgata e controla o passado com o objetivo de referendar o presente e preparar as bases para uma possível perpetuação no futuro. O controle do corpo exerce forte influência como veículo ideológico. Entretanto, apesar da concepção central dominante na sociedade, a construção e o reforço de uma padronização estética realizam-se nas diferentes concepções individuais e por interesses de grupos diversos. 

Nesse sentido, esse processo se constrói de forma nem sempre harmônica, uma vez que as tensões vão definir os rumos da atualização e da edição da memória com objetivos a perpetuação das identidades.

As diferentes versões sobre o passado entram em conflito, pois as relações de poder e os seus interesses específicos encontram-se implícitos na busca de legitimação de uma versão sobre o passado e o corpo não fica a margem desse processo.

De fato, as referências que interligam os diferentes períodos históricos não são explícitas ou resgatadas de forma corriqueira. As construções da memória social pressupõem que exista um limite de símbolos que possibilitem a busca da veracidade dessas versões, pela própria dificuldade de se resgatar os fragmentos espalhados pelo tempo. Nesse sentido, o corpo exerce referência do passado, quando reproduz movimentos de sua história e tendências apreendidas através de seus antepassados e das principais correlações de poder existentes do período.

Corpo, memória e identidade são espectros de um mesmo processo social. No caso da formação da identidade, os aspectos culturais de um grupo ou de uma nação estão sempre interferindo nas construções da identidade individual, pela interação entre juízo moral e costumes cotidianos do lugar social onde o indivíduo se situa e no qual construiu sua estrutura psicológica e social. Por mais que possamos perceber que indivíduos possuem a capacidade de discernir sobre as coisas e de construir suas escolhas em todos os sentidos, os pilares fincados em cada estrutura individual são referências para a ação no presente e para as projeções do futuro. 


Portanto, em nossa sociedade atual, vivemos a padronização corporal influenciada pelos períodos históricos da sociedade, em especial a greco-romana, em que os corpos eram valorizados como forma de poder e hierarquia de uma suposta raça superior. Estes parâmetros endossam a concepção de mercado na atualidade, em que o corpo funciona como mercadoria para consumo e de veículo para grandes empresas multinacionais da estética, do lucro e da alienação. Veja, a esse respeito, o ponto de vista de Silvio Gallo:

O corpo humano e o corpo que sente, percebe, fala, chama a atenção para o corpo que somos e vivemos. O corpo é presença concreta no mundo, porque veicula gestos, expressões e comportamentos das ações individuais e coletivas de um grupo, uma comunidade ou sociedade. Assim vivemos um contexto histórico que busca fazer dos corpos máquinas de competição, voltadas para o lucro de uma sociedade pragmatista. (Gallo, 1997, p. 67)

No espaço escolar também vivenciamos estes parâmetros. Alunos são constantemente comparados aos outros por critérios padronizados de habilidades motoras, por estéticas apolíneas e por gestos mecanizados a serem reproduzidos quase como único caminho corporal para aceitação e valorização social. 

Corpos e gestos são, portanto, influenciados por parâmetros sociais, na direção da formação de uma identidade coletiva, para a aceitação de um grupo social.