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Introdução

Nesta aula, focaremos a temática no espaço escolar. Portanto, sejam bem vindos a novas reflexões em um dos espaços institucionais mais poderosos de nossa sociedade.

A relação entre corpo e educação, historicamente, nunca possibilitou ao corpo um espaço privilegiado. Isso se deve ao fato de que, por fatores diversos, a escola sempre priorizou as experiências racionais em detrimento das corporais, por razão da influência cartesiana (séc. XVII). Conforme afirma Gonçalves:

Na escola, constatamos, assim, as características do processo civilizatório de formalizar as ações humanas, dissociando-as da participação corporal, de privilegiar as operações cognitivas abstratas, desvinculando-as de experiências sensoriais concretas, e de esquecer o sentido existencial do presente em função do futuro abstrato (GONÇALVES, 1994, p. 36).

 

As razões para isso fundam-se em fatores distintos, alguns dentre os quais apontados por Freitas (1999): a herança de culturas anteriores como a grega – na qual as atividades mentais eram mais valorizadas socialmente em detrimento do trabalho braçal – e a romana – em que o corpo deveria ser disciplinado, administrado, mas não modificado; a influência do cristianismo, que atrelou ao corpo a ideia de pecado; os conceitos disseminados por Descartes no período Iluminista, que comparando o corpo a um conjunto mecânico, criou o antagonismo entre corpo e razão, atribuindo a esta última importância ímpar em detrimento do corpo, que por ela era comandado. Além destes, a autora cita também o capitalismo como um dos fatores da atualidade que reforçam a alienação do corpo e de sua ligação com a noção de utilitarismo.

Corroborando com essa ideia, Tiriba afirma que:

No contexto de uma ordem capitalística em que o sentido principal do trabalho social é a produção e a acumulação de bens, a escola está ainda organizada de acordo com o pressuposto de que a razão pode decifrar a lógica interna da natureza. Isto explica que o objetivo fundamental do trabalho escolar seja o de desenvolver plenamente em seus alunos a capacidade racional para a compreensão e a submissão da natureza aos interesses do mercado. (...) Há, em consequência, uma supervalorização do intelecto e desprezo pelo corpo (TIRIBA, 2008, p. 4). 

Assim, para além dos fatores históricos que estabeleceram uma dicotomia entre corpo e mente, é possível conceber a ideia de que, atualmente, é a lógica de produção e eficiência do sistema capitalista, a qual necessita de corpos dóceis e disciplinados trabalhando em função de seus objetivos, onde se pode estar determinando de forma significativa o esvaziamento e a desvalorização da importância do corpo no ambiente escolar.


Isso se explica pelas palavras de Oliveira (2006, p.57), em que afirma “[...] a escola, como instituição eminentemente moderna, traz consigo formas muito peculiares de tratar o corpo, modelando-o de acordo com os interesses civilizatórios.” Tais interesses pressupõem uma negação do corpo, tendo em vista que este apresenta muitos riscos para a lógica de produção do sistema capitalista, que requer uma racionalidade tecnológica. Dessa forma, o corpo passa a ser uma possível ameaça ao que está instituído, pois é o corpo que vivencia o prazer e percebe que esta sensação pode ser constante, sem necessariamente termos que nos submeter a regras rígidas de um sistema, sem termos que violentar o prazer advindo de nosso corpo com vistas à adequação a uma conduta social desejável

Nesse sentido, de acordo com as investigações sobre o corpo nos principais períodos históricos da humanidade ocidental, foi observada uma invariável divisão entre corpo e mente, ou corpo e alma, ou razão e emoção, e a consequente desigualdade, valorizando em excesso a razão e o pensamento nas relações que se estabeleceram ao longo do tempo e que se encontram historicamente arraigadas nos valores sociais, culturais e políticos, e por consequência, nas escolas que nada mais são do que instituições representativas desse conceito de conhecimento ao longo da história ocidental.