A Educação a Distância tem evoluído constantemente, buscando melhores formas de oferecer as condições necessárias ao desenvolvimento de aprendizagens significativas. Com o crescimento social da internet, instituições de ensino dos mais diversos segmentos e cantos do planeta, passaram a experimentar o uso das redes de dados em apoio aos processos pedagógicos, tanto como complemento a aulas presenciais, quanto como ambientes autossustentáveis de Ensino a Distância.
“As redes telemáticas (em especial, a internet) conquistaram espaço dentro do ambiente educacional, abrindo leque de novas possibilidades nos processos de construção de conhecimento”. (FIORITO, 1995). A rede de dados assume papel de preponderante importância. A quantidade incomensurável de informações nela contida e a troca de informações que nela se processa moldam comunidades eletrônicas cooperativas, incrementando a comunicação pessoal e profissional, por meio de intercâmbios coletivos repletos de heterogeneidade. Com ela, surgiu uma nova forma de se relacionar com o mundo, menos real do que virtual; com o tempo (cada vez mais acelerado pelas novas tecnologias) e com o território (em que o local vem gradativamente sendo substituído pelo global). Não há dúvida de que a comunicação mediada por aparatos tecnológicos digitais conectados em rede é o mais importante instrumento pedagógico da sociedade contemporânea, sobretudo por estar associada às especificidades da Educação a Distância.
A imbricação desses fatores demonstra o nascimento de um novo paradigma de tecnologia na educação, viabilizado pelo surgimento da internet – os ambientes virtuais de aprendizagem e as Comunidades on-line - que representam novos espaços, formas e possibilidades para aprender, marcadamente, diferentes dos utilizados no início da Educação a Distância. Certamente não é só a base tecnológica que mudou profundamente, pois a concepção de Educação a Distância também passa por um período de reflexão e transformação, em que procura se distanciar do modelo ‘Taylorista’ da era industrial, e busca, nessa nova era da informação e da comunicação, encontrar nessa perspectiva de rede a promoção de um ambiente mais dialógico, colaborativo, ativo e reflexivo.
“A Educação a Distância nada tem a ver com formar pessoas em série como numa linha de montagem. Falta, portanto uma teoria para a Educação a Distância com base na internet. A Educação a Distância com base na internet, constitui-se numa fronteira nova que demanda habilidades novas, competências e tecnologias específicas.” (GADOTTI, 1999). Sob a luz do pensamento de Gadotti, se faz necessária uma aproximação do conceito de ciberespaço, por se constituir no espaço de interligações e de interações das redes de computadores na sociedade contemporânea, além de ser o ‘espaço intermediário’ utilizado como campo de observação, ação e análise de (re)encadeamentos educativos.
A rede de redes chamada internet que continua, de fato, crescendo exponencialmente, é o maior fenômeno de massa de todos os tempos, pois a economia, a cultura, o conhecimento, a política passam por um processo de ‘apropriação’ dessa nova dimensão espaço-temporal que é o ciberespaço[1] como se um novo espaço coletivo de sensibilidade, de inteligência coletiva, de solidariedade e de relação social surgisse pleno de plasticidade e subjetivação.
Se na modernidade o tempo era uma forma de estruturar o espaço em quarteirões, vias, avenidas, estradas etc., diminuindo as barreiras físicas e temporais, o espaço cibernético se encontra também na origem de uma nova arquitetura, de um novo urbanismo, criando ‘territorialização e desterritorialização sucessivas’; com a cibercultura[2] contemporânea nós assistimos a um processo onde o tempo real vai aos poucos exterminando o espaço físico.
A ideia do ciberespaço como um conjunto de redes de telecomunicações criadas com o processo digital das informações caracteriza-se, principalmente, como um espaço metafórico de comunicação e interação humana sem fronteiras, aberto a todo aquele que, sem pedir licença circula por um “não lugar’, entre tudo e todos numa espécie de ‘Realidade Aumentada’ (RA), de Realidade Virtual e do Metaverso, tecnologias que hoje a gente já conhece e não são mais uma novidade tão grande assim, mas que já tinham sido imaginadas pela ficção científica antes mesmo de fazerem parte do nosso dia-a-dia.
Há 24 anos, Lemos (2000) definiu o ciberespaço à luz de duas perspectivas: como o 'lugar onde se está' quando se entra em um ambiente virtual (realidade virtual), e como o 'conjunto de redes' de computadores, interligadas ou não, em todo o planeta. Para o autor, estávamos caminhando para uma interligação total dessas duas concepções do ciberespaço. Lemos estava certo, a interligação das redes entre si e a interação por mundos virtuais é uma realidade.
Atividade: problematize e faça uma breve análise (no máximo uma lauda) da cultura digital contemporânea, considerando as práticas do seu curso de graduação e formas de mediação tecnológica na área de atuação profissional.
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[1] O termo ‘cyberspace’ foi cunhado pelo escritor de ficção científica William Gibson no seu monumental "Neuromancer" de 1984. Para Gibson, o cyberespaço é um espaço não físico ou territorial, que se compõe de um conjunto de redes de computadores através das quais todas as informações (sob as suas mais diversas formas) circulam. O cyberespaço Gibsoniano é uma ‘alucinação consensual" onde podemos nos conectar através de "chips" implantados no cérebro. A Matrix, como chama Gibson, é a mãe, o útero da civilização pós-industrial onde os cybernautas vão penetrar. Ela será povoada pelas mais diversas tribos, onde os cowboys do cyberespaço circulam em busca de informações vitais para suas empresas ou suas vidas. (Ver Lemos, André. As Estruturas Antropológicas do Cyberespaço).
[2] Segundo Lévy,‘Cibercultura’ é o conjunto de técnicas, de maneiras de fazer, de maneiras de ser, de valores, de representações que estão relacionadas com a extensão do Ciberespaço.
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FIORITO, M. I. apud NEVES, A.; BARROS, F. A. Uma Arquitetura Consensual para Ambientes Virtuais de Estudo. In: NEVES, André; F. e Paulo C. C. F. Projeto Virtus: educação e interdisciplinaridade no ciberespaço. Recife: Editora Universitária UFPE; São Paulo: Editora Anhembi Morumbi, p. 33 – 45, 2000.
GADOTTI, M. O Ciberespaço da Formação Contínua: educação a distância com base na internet. Cadernos de Informática nº2. São Paulo, SP: IPF, 1999.
LEMOS, A.; AZEVEDO, J. S. G.; FONSECA, M. e PRETTO, N. de L. (Org.). Globalização e Educação – Mercado de Trabalho, Tecnologias de Comunicação, Educação a Distância e Sociedade Planetária. Ijuí, RS: Editora Unijuí, 2000.