Para Nietzsche, a tradição filosófica ocidental inaugura um afastamento em relação à natureza, que é nefasto para os humanos, na medida em que provoca um desequilíbrio patológico entre corpo e mente, razão e emoção. Na sua visão, algo de essencial se perdeu quando, a partir de Sócrates, os gregos começam a se afastar dos rituais a Dionísio, o deus da música e da embriaguez, e passam a privilegiar Apolo, o deus da racionalidade argumentativa, do conhecimento científico, da lógica. Dionísio é o deus que não habita o Olimpo, mas a natureza. Representa a força vital, a alegria, o excesso, enquanto Apolo, o deus severo, representa a ordem, a norma, o equilíbrio. Para Nietzsche, “a história da tradição filosófica é a história do predomínio do espírito apolíneo sobre o espírito dionisíaco” (Marcondes, 1997, p.243), ou seja, é a história do predomínio da razão sobre o desejo. A decadência e a fraqueza da cultura ocidental teriam sua origem neste predomínio da racionalidade sobre a imaginação, as emoções, as sensações, que o filósofo define como “forças afirmativas da vida”. Em sua visão, esta distorção teria sido reforçada por elementos trazidos posteriormente pelo cristianismo, como a culpa, o pecado, a submissão, o sacrifício.
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O conceito de corpo (do latim, corpus) vem se transmutando ao longo da história do Ocidente. Durante a época moderna, a discussão sobre o que se convencionou chamar de “problema da relação entre alma e corpo” manteve algumas das concepções antigas e medievais. Mas o desenvolvimento da ciência, em especial da física, em moldes mecanicistas, trouxe a noção de “corpo material”, radicalmente separado da alma.
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