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Conceitos aplicados na construção do texto.

Site: Instituto Multidisciplinar de Formação Humana com Tecnologias
Curso: Construção do Texto - Estratégias para a Comunicação Oral e Escrita - TURMA 1
Livro: Conceitos aplicados na construção do texto.
Impresso por: Usuário visitante
Data: quinta-feira, 19 set. 2024, 13:40

Descrição

Vamos ver cada um desses conceitos, separadamente, e de que forma eles são aplicados na construção do texto.

1. Clareza

A clareza pressupõe a expressão das ideias de forma compreensível, de modo a que se garanta um só entendimento daquilo que se diz. Para a obtenção da clareza, é necessário adotar alguns procedimentos simples:

Estratégia

Por que utilizar

Problema

Solução

Períodos curtos e uso adequado dos conectivos

 

A leitura torna-se mais fluente quando os períodos são curtos, ou seja, quando não se colocam muitas orações em um mesmo período. Além disso, muitas vezes, a organização das orações em um período longo pode gerar ambiguidade, em função do uso inadequado dos conectivos.

A média da produção para o ano fiscal é maior do que a do ano anterior, porque aquele foi o ano em que se instalaram as prensas de estamparia, automóveis e hidráulica, portanto aumentando o número de peças estampadas durante o período, assim como também foi o ano em que se introduziram novos métodos de economia de tempo e economia de mão de obra, e que também  contribuíram para uma média maior de produção.[1]

A média da produção para o ano fiscal foi maior do que a do ano anterior. Instalaram-se novas máquinas automáticas, hidráulicas, de alta velocidade, para estamparia e introduziram-se novos métodos de economia de tempo e trabalho.

Vocabulário variado, porém simples e objetivo

 

A repetição de palavras torna o texto cansativo, daí a importância de se buscar variar o vocabulário. Isso, contudo, não deve ocorrer caso não haja substituições adequadas. O uso de um vocabulário rebuscado não valoriza o texto. Ao contrário, torna-o pesado e, muitas vezes, incompreensível.

Solicitamos o pagamento das mensalidades aprazadas no dito carnê, colaborando destarte para a manutenção precípua deste sodalício na orientação e assistência de seus associados. [2]

Solicitamos o pagamento das mensalidades até as datas de vencimento constantes do carnê.

Preferência pela ordem direta

 

Em  nossa língua, a ordem direta caracteriza pelo seguinte padrão de construção:

SUJEITO + PREDICADO (VERBO + COMPLEMENTOS VERBAIS + ADJUNTOS ADVERBIAIS)

A inversão da ordem, em alguns casos, pode comprometer grandemente a clareza do texto, sobretudo se o período for longo. Além disso, a interposição de várias orações também torna o texto praticamente ilegível.

 

Queremos, neste momento, observar, que o aceite àquela condição não deve ser entendido como uma aprovação à mesma, não no que diz respeito ao valor, que, apesar de ter ultrapassado a importância de R$350,00, que achávamos justa, dela não se afastou em demasia, mas, sim, quanto ao prazo de reajuste, qual seja, semestral, contrariando o relacionamento comercial passado, caução no prazo de um ano, não nos dando sequer a chance de contra-argumentação.[3]

Gostaríamos de registrar nossa insatisfação com a mudança do prazo de reajuste, que, ao se tornar semestral, sem a possibilidade de negociação, contraria nosso relacionamento comercial passado, calcado no prazo de um ano.[4]



É claro que, graças ao contexto, foi possível entender a mensagem, mas a inversão sintática poderia ter causado um grande mal-entendido!

2. Coesão

Coesão textual é a relação, a conexão, entre as palavras, expressões e frases do texto – oral ou escrito. Ela é obtida através da utilização de elementos gramaticais cuja função é estabelecer esses vínculos.

Utilizamos esses elementos para obter a coesão referencial e a coesão sequencial. A primeira garante que o receptor não tenha dúvidas quanto ao elemento ao qual o texto está se referindo. A segunda, que ele possa acompanhar o texto numa sequência lógica.

Exemplificando:

Marina e Flávia vivem brigando. Esta, por ser teimosa, aquela, por ser medrosa.

No exemplo acima, os pronomes demonstrativos esta e aquela garantem a coesão referencial, pois sabe-se que Flávia é a teimosa e Marina, a medrosa.

Vejamos mais um exemplo:

Primeiro, queremos agradecer a presença de todos; em segundo lugar, dizer-lhes que este evento é de grande importância para nós; por fim, gostaríamos de convidá-los a jantar conosco.

No exemplo dado, utilizou-se a sequenciação temporal, estabelecida pelos advérbios de tempo. Muitas vezes, deparamo-nos com textos em que o advérbio primeiro abre a fala, sem que, contudo, haja a sequência com a utilização dos demais advérbios que devem estar presentes para garantir a coesão sequencial. 

São vários os elementos que concorrem para a garantia de coesão em um texto. Vejamos os conectivos que carregam consigo uma carga semântica:

 

Carga semântica

Definição

Exemplo

Condição

Expressa condição entre as duas ideias que o conectivo une.

Não haverá evento se o orçamento não estiver preparado para isso.

Causa

Expressa a causa da ideia principal, unindo-a a ela.

Já que não estamos na lista, não contribuiremos para o presente.

Finalidade

Une duas orações – uma delas expressa o meio pelo qual será atingido o objetivo da outra.

Para ser classificado no concurso, ele estudou durante dois anos.

Tempo

Expressa a relação de tempo entre as orações.

Avisarei de sua chegada tão logo tenha acesso ao diretor.

Conformidade

Expressa acordo, conformidade entre as ideias que o conectivo está unindo.

Como conversamos ao telefone, estou lhe enviando a lista de participantes.

Disjunção

Expressa a ideia de exclusão ou inclusão entre as orações ligadas.

Após o evento, todos ficarão para o almoço ou seguirão diretamente para o escritório.

 

Há, claro, diversos outros conectores que, entretanto, podem ser consultados a qualquer momento em bibliografia especializada. Nosso objetivo é mostrar que temos de compreender os mecanismos da língua a partir de suas relações semânticas. Memorizar uma vasta lista de conjunções não ajudará em nada se não formos capazes de utilizá-las adequadamente em sua função conectiva.

Leia o trecho a seguir e procure eliminar os problemas de clareza e coesão.

Após alguns anos de estudo, Alfredo entrou em um curso para estudar idiomas na universidade que queria aprender. Certo dia, enquanto estudava sozinho, Alfredo percebeu que devia dizer aos professores que seu saber não era suficiente para o que queria. Estava perdido nesses pensamentos quando viu o incêndio do laboratório.

3. Coerência

A coerência do texto é mais complexa que a coesão. Ela está relacionada a duas questões que se situam no âmbito do receptor: a lógica entre os enunciados do texto e a adequação ao contexto.

Dessa forma, a coerência pode ser quebrada pela intencionalidade do emissor. No texto formal, contudo, essa quebra não tem espaço. Nesse tipo de texto, as informações devem ser compatíveis umas com as outras, assim como os exemplos utilizados para comprová-las. Em outras palavras, não pode haver contradição – com isso, teremos um texto coerente.

Algumas estratégias podem ser utilizadas para garantir a coerência do texto:

Respeitar, na medida do possível, a ordem cronológica dos acontecimentos

Em textos não literários, manter a linearidade cronológica do texto ajuda a manter sua coerência, além de garantir sua clareza. Assim, evite relatar antes o que ocorre depois.

Estabelecer a ligação lógica entre as informações do texto

As ideias e informações não podem ficar soltas no texto. À medida que o texto avança, devem-se relacionar essas ideias, interligando-as.

Evitar repetições de uma mesma ideia ou informação, a não ser que ela seja retomada para expor um novo ponto de vista

Uma ideia ou informação só deve ser retomada se isso for absolutamente necessário, ou seja, se for preciso, por exemplo, acrescentar um novo raciocínio que se relacione ao que foi dito. Do contrário, a repetição torna-se redundância, que, por definição, nada acrescenta ao texto.

Ter cautela para não haver contradições em relação ao que é dito no texto

Ao se escrever um texto baseado em determinada linha de raciocínio, defendem-se ideias e pontos de vista. Deve-se ter extrema cautela para não acabar defendendo, ao longo do texto, um ponto de vista que contradiga aquele que vem sendo defendido até então.  

Evitar generalizações

A generalização, além de ferir o princípio da argumentação – desenvolver ideias, de modo a defendê-las ou atacá-las -, pode dar ao texto um caráter preconceituoso.

Vamos a uma proposta de atividade relacionada aos princípios estudados nesta aula. Procure reescrever o período que se segue, de modo a eliminar os problemas que comprometem sua clareza, coesão e coerência.

 

Visando ajudar os órgãos no entendimento da Circular XXX, esclarecemos que no âmbito interno, vamos entender que há uma delegação subentendida da direção da Companhia aos superintendentes de órgãos e chefes de serviço, via tabela de limite de competência, para definirem que contratos devem ter prosseguimento nas bases pactuadas e quais os que deverão ser objeto de reavaliação.

Publique seu trabalho nas Discussões sobre o tópico 6.

Referências bibliográfias:

 GOLD, Miriam. Redação Empresarial: escrevendo com sucesso na era da globalização. São Paulo: Pearson, 2002.