Ir para o conteúdo principal
Livro

Desenvolvimento da aula

Desenvolvimento da aula

11. Problema 9 - Vícios de linguagem

Muitas das construções que usamos na oralidade tornam-se desaconselháveis em situações formais. Seja por comprometer a comunicação, seja por desqualificar o falante, os chamados vícios de linguagem constituem um dos tópicos de estudo para o uso adequado da língua.

Os vícios de linguagem são registros que se encontram tanto na oralidade quanto na língua escrita.

Esses registros têm impactos diferentes sobre o receptor da mensagem, pois são, eles próprios, de diferentes ordens.

Vamos conhecer alguns deles.

9.1- Principais vícios de linguagem

Imagine a seguinte situação: você está em sua mesa de trabalho e alguém lhe traz um documento pedindo sua “rubrica”. Você reage espantado, mas a pessoa que emitiu a frase não compreende por quê.

Pois é: várias pessoas pronunciam “rúbrica”, com acento tônico na primeira sílaba, em lugar de “rubrica”, cuja sílaba tônica é a segunda.

Às vezes, a pronúncia correta é que causa estranhamento, pois a maioria das pessoas já se acostumou a ouvir a forma considerada incorreta. Quais as consequências disso sobre o processo da comunicação? Na verdade, não é justo considerar que esse problema de ortoepia interfira no entendimento da mensagem.

O interlocutor não deixará de rubricar o documento, ainda que o emissor da mensagem tenha cometido um “barbarismo” ao pronunciar a palavra rubrica.


Barbarismo
é todo desvio da norma que ocorre em alguns níveis do uso

da língua: o da grafia, o da pronúncia, o da morfologia e o da semântica.

 

Vamos a alguns exemplos:

Nível do desvio

Exemplo

Grafia

“opição” em vez de opção

Pronúncia

“rubrica” em vez de rubrica

Morfologia

“reaveu” em vez de reouve

Semântica

Retificar como ratificar e vice-versa

 

Repare que, dependendo do nível em que o desvio ocorre, a mensagem pode ou não ficar prejudicada. Se, por exemplo, alguém escrever “opição” no lugar de “opção”, o destinatário de seu texto entenderá a mensagem? Provavelmente, sim.

A consequência desse desvio é sua desqualificação como usuário da língua, mas a comunicação não deixará de se efetivar por causa disso.

O mesmo pode ser dito em relação à pronúncia da palavra “rubrica”.

Com relação ao desvio morfológico, pode acontecer de o destinatário não identificar com clareza sua intenção comunicante – ou porque você utilizou uma forma absolutamente incompreensível, ou porque, ainda que compreensível, ela se confunde com outra. Nesse caso, pode haver o comprometimento do processo de comunicação.

Esse comprometimento fica ainda mais sério quando o desvio ocorre no nível semântico. Nesse caso, estamos diante do que chamamos de “paronímia”, ou seja,

palavras muito parecidas, mas com significados diferentes, que podem ser usadas inadequadamente.

Vamos imaginar outra situação: alguém entabula uma conversa com você e sai-se com a seguinte frase: “Diga a sua progenitora que os reveses de hoje não são como os de antanho.”

Pode ser que estejamos enganados, mas é possível que muitas pessoas não entendam o que está sendo dito.

Por que isso acontece? Simplesmente porque o falante lança mão de palavras e expressões que não se usam mais, já caíram de uso. Com certeza, isso compromete o entendimento da mensagem, podendo mesmo chegar a impedir a efetivação da comunicação. A esse uso – desnecessário e cansativo, diga-se de passagem – de expressões antigas, chamamos “arcaísmo”.


O arcaísmo no uso desnecessário de palavras e termos já em desuso. O uso de arcaísmos acarreta
prejuízo do processo comunicativo. Não se trata de desqualificar o falante, mas de impedir que o
interlocutor receba a mensagem, pois não se pode exigir que as pessoas conheçam vocábulos que
a língua já abandonou.

 

Vamos a mais uma situação imaginária. Você está ajudando a arrumar o salão após o término de uma festa quando alguém lhe diz: “Vamos aproveitar que sobrou muitos doces e vamos congelar tudo.”

Essa fala reflete um tipo de construção bastante comum na oralidade: o verbo não concordou com o sujeito.

Isso é muito frequente quando colocamos o sujeito depois do verbo. Desse modo, em vez de dizer “sobraram muitos doces”, acabamos dizendo algo semelhante à fala da história imaginária.

Esse desvio não compromete a comunicação. Por outro lado, pode funcionar como um fator de desqualificação do falante. Tudo depende, também, da adequação a um determinado contexto daquilo que se fala. Numa conversa informal, esse deslize pode passar despercebido. Entretanto, num texto formal, ou mesmo numa situação de oralidade em que a formalidade deve ser levada em conta, ele depõe contra o emissor. Esse “vício de linguagem” é denominado “solecismo”. Ele inclui desvios na sintaxe, como concordância, regência e colocação de pronomes. Em nenhuma das três situações há comprometimento da mensagem.


Solecismo
é o desvio da norma padrão, no nível da sintaxe.


Bem semelhante é o desvio que se comete ao se dizer, por exemplo: “Pegue o guardanapo para limpar a boca dela.”

 

Para nos darmos conta do que ocorre na frase acima, precisamos lê-la em voz alta. Você já percebeu que a frase incorre num vício já nosso velho conhecido: o famoso “cacófato”.


Cacófato
é a junção de duas ou mais palavras de uma frase, produzindo um som desagradável.

 

E que efeito esse “vício de linguagem” tem sobre o processo de comunicação? Além de um desconforto por parte de quem escuta, nenhum... Deve-se evitar o cacófato, mas ele não compromete o processo de comunicação. É uma ocorrência eminentemente fonética, ou seja, da ordem do som das palavras.

É o caso, também, do “eco”.


Eco
é um vício de linguagem resultante da dissonância que o uso de terminações iguais
ou semelhantes pode causar.


Veja como ele acontece: “A presença do declarante ante a assembleia torna-o constante participante do grupo integrante do conselho.”

Problemas com o entendimento da mensagem? Nenhum. Mas o que dizer das rimas involuntárias? Nada confortáveis, ainda que inofensivas.

Também inofensiva, no que diz respeito à efetivação da comunicação, é a “redundância”.


Redundância
é caracterizada pela repetição desnecessária de uma informação.

 

É aquela construção que, sem perceber, utilizamos, mas identificamos imediatamente quando ouvimos.

É o famoso “entrar pra dentro”, “descer pra baixo”, e outros mais.

Há utilizações mais complexas, em que a redundância fica mais sutil, e, por isso mesmo, causa a impressão de que o emissor está querendo “enrolar”... Contudo, não há prejuízo para a mensagem.

Em casos menos inocentes, a comunicação pode ficar irremediavelmente comprometida. Alguns desses casos são os que veremos agora. Vamos começar com o seguinte: “Governador, o senhor já conversou com o prefeito sobre sua má administração?”

E agora? Quem, afinal, é o mau administrador: o governador ou o prefeito?


Quando o que se diz gera confusão e admite mais de uma interpretação,
dizemos que temos um enunciado com ambiguidade.

 

Esse vício de linguagem pode ser um impedimento à compreensão de uma mensagem. No mínimo, ela será entendida de forma inadequada.

A ambiguidade, portanto, é um dos vícios de linguagem cuja ocorrência é fatal no processo de comunicação.

Pode-se dizer que o mesmo ocorre com a obscuridade.


A obscuridade acontece quando a mensagem fica difícil de ser entendida
por problemas em sua construção.


Vejamos um exemplo: “O ladrão, preso ontem de madrugada, ao tentar roubar um pão na padaria que queria comer, foi conduzido, de sua casa, pelo policial militar responsável pela captura que deveria ter sido feita pelo BOPE, a um presídio de segurança máxima que não foi aceito na chegada.”

A construção está tão confusa que a mensagem, quando não é abandonada pelo receptor, é mal compreendida, ou mesmo, nem chega a ser entendida. Assim como a ambiguidade, a obscuridade é um empecilho ao processo comunicativo.

9.2- O comprometimento da comunicação

Para organizar melhor nossas ideias, vamos separar os vícios de linguagem de acordo com o grau de comprometimento da comunicação que eles podem acarretar.

Compromete ou não

Compromete

Não compromete

Barbarismo

Arcaísmo

Solecismo

 

Ambiguidade

Cacófato

 

Obscuridade

Eco

 

 

Redundância