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Desenvolvimento da Aula

Desenvolvimento da Aula

2. Introdução

2.3. Continuação

No século XX, o ser humano passa a estar mais atrelado à técnica e à tecnologia. A industrialização e os meios de comunicação começam a funcionar como propulsores da comunicação de massa. A reprodução corporal não fica mais apenas no âmbito da pintura, agora ela pode atingir um número elevado de indivíduos (Sant’Anna, 2007). Sendo assim, os sentidos instituídos advindos da produção imaginária acerca do corpo passam a ser influenciados pelas fotografias de revistas, pelo cinema, pela televisão e pela Internet, fazendo com que a parcela economicamente dominante da sociedade imponha esses sentidos às demais, padronizando-os.

O século XXI é cenário de uma série de transformações decorrentes de novos valores que vão sendo instaurados e substituídos, principalmente nas sociedades ocidentais. A tecnologia com base na informação e na ciência transformou nosso modo de pensar, produzir, consumir, comunicar e, consequentemente, alterou nosso modo de viver. Presenciamos mudanças tanto no plano da realidade sociopolítico e econômica como nos modos de subjetivação, o que também parece refletir no imaginário sobre o corpo. Desse modo, podemos refletir sobre alguns aspectos encontrados na literatura que procuram descrever características da sociedade contemporânea que influenciam o sujeito pós-moderno.

Habitamos um mundo onde há um bombardeio maciço e aleatório de informações que não se constituem como um todo. A realidade é fragmentada em retalhos, composta por vivências parciais. Não há uma crença na totalidade, visto que esta é plural. Lipovetsky (1983) salienta esse aspecto ao enfatizar que a sociedade pós-moderna se caracteriza por dispositivos abertos e plurais, por individualismos hedonistas e personalizados. O ambiente pós-moderno é povoado pela cibernética, pela robótica industrial, pela biologia molecular, pela medicina nuclear, num mundo traduzido por imagens e signos, cuja velocidade é a sua característica mais marcante. A velocidade com que o avanço da ciência se estabeleceu desenhou uma nova cartografia contemporânea comandada pela transitoriedade e pela efemeridade.

A Pós-modernidade apresenta-se sob a forma de um paradoxo ao revelar a coexistência, nem sempre harmoniosa, de duas lógicas: uma que estimula a autonomia do indivíduo e, outra, que o convida à dependência. A percepção que temos do tempo é subjetiva e ligada a um ritmo interno biológico que é afetado por vivermos em um mundo em que a aceleração é um princípio que precisa ser encarado e, por vezes, incorporado. Precisamos dar-nos conta de que as coisas do mundo estão se movendo mais depressa à nossa volta, e isso interfere na compreensão do tempo, no ritmo de vida e na absorção das novidades. Esse ritmo acelerado nos coloca frente a situações em que a reflexão e os questionamentos se tornam pouco frequentes.

De acordo com Sabino (2004), essa cultura corporal na sociedade contemporânea vem fazendo com que um número cada vez maior de pessoas tente adequar-se aos padrões de beleza vigente, visando a uma perfeição física praticamente inalcançável. Todos querem continuar jovens, belos e saudáveis e, para isso, não medem esforços. Em decorrência disso, esses indivíduos se tornam eternamente insatisfeitos com suas aparências, o que, consequentemente, os faz investir em tudo aquilo que surja com a promessa de possibilitar a reconstrução e a modificação desse quadro, tal como é demonstrado a seguir.

Quanto mais se impõe o ideal de autonomia individual, mais aumenta a exigência de conformidade aos modelos sociais do corpo. Se é bem verdade que o corpo se emancipou de muitas de suas antigas prisões sexuais, procriadoras ou indumentárias, atualmente encontra-se submetido a coerções estéticas mais imperativas e geradoras de ansiedade do que antigamente. (Goldenberg, 2002, p. 9)


O corpo contemporâneo ao qual fazemos menção pode vir a ser considerado um imaginário que reflete a noção de corpo como um meio para atingir a felicidade. Por outro lado, o que é feito com esse corpo aponta para dimensão de um fim em si mesmo, pois o corpo físico é, a todo o momento, encarado como responsável pelo sucesso pessoal em, se não todos, quase todos os campos da vida. O que importa é o aqui e o agora. A busca pelo prazer se reflete, principalmente, por tudo aquilo que perpassa o corpo e suas sensações. Sugerimos que, na sociedade em que vivemos, os indivíduos são obrigados a contemplar e consumir cada vez mais passivamente imagens de tudo o que lhes falta na vida real/imaginária. Eles vão seguindo as tendências fluidas e dispersas que vão surgindo, desaparecendo e (re)aparecendo. De certa forma, o que lhes falta na vida imaginária se reflete na vida real e o inverso também é verdadeiro. Portanto, real e imaginário não podem ser dissociados. Um alimenta o outro. Em função disso, a vida se torna uma imensa acumulação de espetáculos, onde as imagens corporais, por exemplo, passam a ser mercadorias em potencial, atendendo ao imaginário contemporâneo que deposita na boa forma física uma alternativa viável para realizarem-se existencialmente.