Seleção vocabular
Um dos pontos que se deve levar em conta no momento de produzir um texto é o cuidado com a seleção vocabular. Você vai perceber que essa seleção não está vinculada ao conhecimento da gramática, mas, sobretudo, ao bom senso e a informações que você pode – e deve – consultar sempre que tiver dúvidas.
Seleção vocabular
Além de estar atento a todas as normas gramaticais que se inserem no padrão culto da língua, de dominar as estratégias para a obtenção da clareza, da coesão e da coerência do texto, o usuário da língua deve, ainda, ser cauteloso com relação à utilização do vocabulário.
Não se trata, aqui, de escolher certo ou errado, mas de usar adequadamente as palavras. Para isso, é importante que se saiba que as palavras mantêm relações entre si, e que essas relações podem determinar o sentido que se pode obter a partir de determinadas combinações.
Por essa razão, é relevante compreender, por exemplo, que os sinônimos – atrás dos quais corremos, no dicionário, quando não queremos mais repetir uma palavra num mesmo texto – são apenas aproximações de sentido, já que não existem sinônimos perfeitos. O mesmo se pode dizer, por conseguinte, dos antônimos.
Além disso, as palavras podem ser polissêmicas, ou seja, uma mesma palavra pode ter vários significados. Se levarmos em conta que a linguagem é polissêmica por natureza, entenderemos que, ao lidar com as palavras, temos de cuidar para que não criemos ambiguidades que não estavam em nossos planos. Afinal, a ambiguidade pode ser uma estratégia textual, mas pode também se transformar em armadilha, quando sua ocorrência não é prevista pelo usuário.
O mesmo cuidado deve ser tomado em relação aos homônimos e parônimos.
Homônimos são palavras que podem ter o mesmo som, ou a mesma grafia, ou as duas coisas ao mesmo tempo, embora tenham sentidos diferentes. Por exemplo: sessão e cessão. Embora pronunciadas da mesma forma, são usadas em diferentes contextos, com diferentes sentidos.
Parônimos são palavras semelhantes, com diferença de um ou dois fonemas, e sentidos diferentes. Por exemplo: iminente e eminente.
Dessa forma, ao fazermos a seleção vocabular para a escritura de um texto, devemos ter alguns cuidados:
cessão, seção, sessão |
eminente, iminente |
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Como a empresa vem trabalhando com contenção de despesas, e devido aos altos custos da manutenção da lanchonete para os funcionários, a diretoria cominica que, a partir do próximo mês, será cobrada uma taxa de R$50,00 mensais a cada funcionário, para manutenção do serviço. |
Repare que a leitura fica muito mais hesitante. Na ordem direta, a compreensão das informações é mais imediata e não causa tanto desconforto ao leitor. Veja como ficaria:
A partir do próximo mês, cada funcionário deverá contribuir com R$50,00 mensais para os serviços de lanchonete. A medida tem o objetivo de garantir o funcionamento da lanchonete, sem que ela seja afetada pelo corte de custos operado pela empresa. |
Como não tinha amigos, sentia-se só.
O conectivo como traz a ideia de causa à a causa de sua solidão é não ter amigos.
Vamos reduzir a oração, utilizando o gerúndio:
Não tendo amigos, sentia-se só.
A carga semântica é a mesma, ainda que se tenha eliminado o conectivo.
Além disso, é preciso muito cuidado para não utilizar uma oração reduzida em relação a uma principal ou a um antecedente com o qual não se relaciona. Veja:
A diabetes é o desequilíbrio de insulina no organismo, podendo, sua falta, levar a situações de gravidade.
Repare que o sujeito da oração principal é diabetes. Ao utilizar, na oração reduzida, o verbo no gerúndio, a relação dessa oração é em relação ao sujeito da primeira. Contudo, não é essa a intenção comunicante da frase. O que se quer dizer é que a falta de insulina leva a situações de gravidade, e não a falta da diabetes.
Uma forma de melhorar a frase seria utilizar, por exemplo, um pronome relativo, já que esses pronomes sempre estão ligados ao antecedente imediatamente anterior:
A diabetes é o desequilíbrio, no organismo, de insulina, cuja falta pode levar a situações de gravidade.
à A nível de – nível deve ser utilizado quando se fala, efetivamente, de camadas ou partes. Nesse caso, utiliza-se a preposição em: A situação está sendo resolvida no nível da diretoria.
As utilizações como A nível de direção, esta peça é fraca são absolutamente sem sentido e devem ser evitadas a todo custo.
à Enquanto no lugar de como – a palavra enquanto dá ideia de concomitância temporal:
Enquanto todos pensavam numa solução, ele ouvia música.
Ela tem sido muito utilizada da seguinte maneira: Nossos colaboradores, enquanto pessoas, devem ser respeitados.
É uma construção que já está esvaziada, além de não haver sentido nessa utilização. Nesse caso, é melhor simplificar e utilizar “como”.
Esses são cuidados importantes para a seleção vocabular de um texto, mas, claro não são os únicos.
Agora, vamos juntar o que vimos até agora em um exercício simples. Leia o texto a seguir e reescreva-o, de modo a eliminar seus problemas de clareza, coesão, coerência e vocabulário.
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