Os dois textos são excelentes. Baumann mostra sua preocupação com a desumanização da relação o sujeito -objeto com a comoditização no atendimento aos desejos e necessidades acelerados pelo uso da Internet. Além da exposição das intimidades e informações pessoais que serão usadas para ofertas de ecommerce 24x7, comprando por impulso e depois devolvendo ou acumulando para exibir status ou descartar. Os fetiches da subjetividade do consumo, em que o sujeito tem sua identidade marcada ou construída pelo modo de consumo, pela marca e o tipo de produto que consome, não por sua livre escolha, mas por políticas de privatizações e terceirizações e da precarização da força produtiva. Citou o caso da privatização do abastecimento de água aumentando consumo de água engarrafada. E dos trabalhadores que precisavam investir $ na sua própria qualificação para se manterem competitivos no mercado de trabalho. Acredito que ele preferiu focar na precariedade das relações humanas e das políticas públicas como observador das causas e efeitos mantendo a distância de um analista de fora do processo, mas ciente da complexidade desta realidade da cultura do consumo. A característica dessa experiência chamou de "mixórdia" (complexidade, multilateralidade, heterogeneidade). Entendo que Baumann traça o pano de fundo da contemporaneidade.
O texto de Brooks com ironia a cada parágrafo faz um recorte do modo de vida BUBOS partindo do particular da cidade de Wayne para mostrar como o marketing pode gerar modos de compra como uma auto expressão de uma identidade filosófica, uma moda, a partir de uma indústria cultural ao mesmo tempo capitalista e boêmia. O texto fica ainda mais interessante porque apresenta uma linha do tempo para mostrar como surgiu o estilo de vida burguês desde o sec XVIII.. Como era feita a demonstração de status para se diferenciarem (educados X rudes) pelo tipo de consumo dos W.A.S.P. (branco, anglo-saxão,protestante). A moral protestante de B.Franklin de fala direta e sem rodeios que marca a cultura americana. Mostra a Arte dependente de patronagem e os artistas, boêmios ressentidos, porque suas obras não geravam o mesmo dinheiro que a produtividade e eficiência mental dos burgueses tinham para fazer negócios e acumular riquezas.
Esta distinção mostra a espírito romântico e criativo da boêmia versus o materialismo e o pensamento racional dos burgueses.
Enquanto o burguês buscava expansão do status, o boêmio buscava a expansão do "eu".
O evangelismo ou transcendentalismo americano de Emerson, Thoreau e Fuller buscavam transcender o pensamento materialista e racional burguês na busca por aprimoramento pessoal e avanços tecnológicos. Depois decepcionados, veem a tecnologia como ameaça a conexão espiritual do homem com a natureza.. A busca deles era uma razão para viver. Isso ajudou a boêmia americana a ser mais naturalista e preocupada com o bem viver. No movimento da cultura Beat, também viviam bem.
A ironia do texto aponta que nenhum deles rejeitava a riqueza.
O texto aponta que o capitalismo burguês facilitou a mobilidade social.
O texto mostra que na era da informação, as ideias se fundem com os negócios, a criatividade e o modo produção e de consumo se alinham. Feita a paz entre boêmios e burgueses.
A cultura Bubos se confirma pela acumulação de riquezas convertidas em experiências relevantes intelectual e espiritualmente.. Para o BUBO o modo de consumo define o eu, não mais pelo status do valor real do objeto, mas pela sua explicação , sua origem e narrativa criativa (storytelling) que valida o processo em que o foco é a experiência do consumo.
O ideal BUBO é consumir para ter paz.
Refletindo sobre isso é como se este modo de consumo pudesse purificar a alma do consumidor que consumisse produtos que dessem reconhecimento a culturas minoritárias, por exemplo.
Creio que os Bubos criam uma aura de valor social a um produto para se distinguir dos demais, se apropriando de algo original, ressignificando , marcando o seu "eu", a sua identidade no produto recriado, mais do que sinceramente promover a cultura que pretende resgatar.
A conclusão de Brooks no fim do texto define bem essa contradição: Se a burguesia transforma tudo que é sagrado em profano, os BUBOS tornam profano tudo que é sagrado.