As relações de poder que se estabelecem quando o sujeito assume o papel de consumidor passivo de informação na rede são profundamente assimétricas. Nesse contexto, o indivíduo não controla o fluxo de informações que recebe, nem participa ativamente de sua produção ou curadoria, mas se torna parte de um sistema mais amplo, alimentado por interesses comerciais, políticos e econômicos. Essas relações de poder envolvem diversos atores e mecanismos que moldam a forma como a informação circula e é interpretada:
Relações de Poder e o Sujeito Consumidor Passivo
Plataformas Digitais e Corporações Tecnológicas: Empresas como Google, Facebook, e Twitter dominam o espaço de disseminação de informação. Elas controlam os algoritmos que determinam quais conteúdos aparecem em nossos feeds, quais notícias são priorizadas e quais são ignoradas. Isso coloca um imenso poder nas mãos dessas corporações, que podem manipular o que vemos, o que pensamos e como reagimos, servindo a seus próprios interesses comerciais. No papel de consumidor passivo, o sujeito serve a esse sistema, contribuindo para o lucro dessas empresas ao consumir conteúdo e fornecer dados pessoais que são monetizados.
Interesses Políticos e Ideológicos: Além dos interesses econômicos, há forças políticas que se aproveitam da disseminação acrítica de informações. A proliferação de fake news, desinformação e teorias conspiratórias nas redes é frequentemente intencional, visando manipular opiniões, influenciar eleições, gerar polarização ou desestabilizar sociedades. Nesse caso, o sujeito que compartilha informações sem verificar sua veracidade contribui para a amplificação desses interesses, servindo a agendas políticas ou ideológicas sem perceber.
A Economia da Atenção: Estamos inseridos na chamada economia da atenção, onde as plataformas competem incessantemente pelo nosso tempo e engajamento. As informações que mais circulam tendem a ser aquelas que apelam para o emocional, o sensacionalismo ou o conflito, porque são mais propensas a gerar reações rápidas. Ao consumir e compartilhar esse tipo de conteúdo sem reflexão, o sujeito se torna um reprodutor do sistema, perpetuando ciclos de superficialidade e distração que beneficiam as plataformas, ao mesmo tempo em que enfraquecem a capacidade crítica da sociedade.
Como Romper com o “Efeito Manada”?
O efeito manada nas redes sociais ocorre quando indivíduos, diante de um grande volume de informações e de uma pressão social implícita, seguem o comportamento da maioria sem reflexão crítica. Romper com esse efeito e se tornar agente de transformação nesse contexto envolve várias estratégias:
Desenvolver uma Consciência Crítica da Informação: Para romper o ciclo de consumo passivo e disseminação sem filtro, o primeiro passo é adotar uma postura crítica em relação à informação. Isso significa questionar a fonte, verificar os fatos e estar atento às intenções por trás de cada conteúdo. Uma boa prática é seguir metodologias de fact-checking (checagem de fatos) antes de compartilhar algo. Isso requer desacelerar o processo de consumo, resistindo ao impulso de reagir imediatamente.
Educação e Letramento Midiático: É essencial promover o letramento midiático e digital, ou seja, capacitar as pessoas a entenderem como as informações são produzidas, disseminadas e consumidas na era digital. Isso envolve ensinar habilidades de leitura crítica de notícias, entender como funcionam os algoritmos, e como detectar viés ou manipulação nas fontes de informação. A alfabetização digital é uma ferramenta poderosa para dar ao indivíduo autonomia no uso da tecnologia.
Produzir Conhecimento a Partir da Informação: Produzir conhecimento com a informação, em vez de apenas consumi-la, exige um processo de reflexão e síntese. Não basta apenas receber passivamente a informação; é preciso contextualizá-la, analisá-la e transformá-la em algo que possa gerar valor para a sociedade. Isso pode ser feito através de discussões mais profundas, escrita crítica ou criação de projetos que usem a informação de maneira construtiva. O conhecimento não é apenas o acúmulo de dados, mas a capacidade de usar esses dados de maneira inteligente e transformadora.
Criar Redes Colaborativas de Verificação e Curadoria: Um caminho para combater o "efeito manada" é colaborar com outros indivíduos críticos para formar redes de curadoria coletiva de informação. Essas redes podem funcionar como grupos de discussão, fóruns ou comunidades que promovem a verificação de informações, compartilham fontes confiáveis e discutem temas de forma mais aprofundada, longe das bolhas algorítmicas que tendem a reforçar preconceitos ou distorções.
Valorizar a Diversidade de Fontes: Outra maneira de combater a passividade é buscar e consumir informações de fontes diversas. Isso envolve sair da zona de conforto e procurar diferentes perspectivas sobre o mesmo tema, comparando dados de várias origens. A pluralidade de fontes ajuda a escapar das bolhas informacionais e permite que o sujeito construa uma visão mais ampla e fundamentada sobre o que está acontecendo no mundo.
Engajamento Consciente com a Tecnologia: Para se tornar um agente de transformação, é necessário engajar-se de forma consciente com a tecnologia. Isso significa selecionar e personalizar as plataformas que se usa, ajustando as configurações de privacidade e de conteúdo para filtrar melhor o que se consome. Ao fazer escolhas ativas sobre como interagir com a informação digital, o sujeito assume maior controle sobre o fluxo de dados que recebe.
A Quem o Consumidor Passivo Serve?
Quando o sujeito age como um mero consumidor passivo de informação, ele essencialmente serve:
Aos interesses comerciais das grandes corporações de tecnologia, que lucram com o tempo de navegação e os dados coletados.
Aos interesses políticos e ideológicos daqueles que se beneficiam da disseminação de desinformação, discursos de ódio ou agendas específicas.
À perpetuação de um sistema de superficialidade e distração, que impede o desenvolvimento de uma sociedade mais reflexiva, crítica e bem-informada.
Para se tornar agente de transformação, é preciso desafiar a lógica do consumo passivo de informações e assumir um papel ativo e crítico. Isso envolve a prática de curadoria, verificação e produção de conhecimento, além do engajamento consciente com as tecnologias que utilizamos. Ao romper com o "efeito manada" e participar ativamente da construção de uma sociedade mais informada e reflexiva, o indivíduo pode contribuir para a construção de um futuro em que o conhecimento seja realmente transformador, e não apenas uma mercadoria a ser consumida.