Essa aula 3 me proporcionou uma compreensão mais profunda sobre como, desde a infância, o ambiente escolar influencia a forma como enxergamos e usamos nossos corpos. Lembro claramente de passar horas sentada, com pouquíssima ênfase em experiências sensoriais ou físicas. A reflexão me fez perceber que, embora a escola sempre tenha priorizado o intelecto, o corpo sempre esteve presente em todas as interações – fosse no desconforto de ficar imóvel por tanto tempo ou na necessidade de expressar emoções que não cabiam naquele espaço rígido. Essa divisão entre mente e corpo moldou não apenas o que aprendemos, mas também como nos comportamos e nos adaptamos às exigências do ambiente escolar. Repensar a escola como um espaço que também educa o corpo abre novas possibilidades para um aprendizado mais completo, onde mente e corpo funcionam juntos, em harmonia, e não separados como tradicionalmente ocorre.
Lembro, por exemplo, de uma vez em que fui impedida de ir ao parquinho porque não conseguia diferenciar as letras "q" e "j". Era uma criança, ainda aprendendo, e mesmo assim fui repreendida. O mais doloroso era que a sala de aula tinha janelas abertas, e eu podia ver as outras crianças brincando, correndo livres, enquanto eu ficava sentada, privada daquele momento de alegria e movimento. Aquela sensação de frustração e exclusão ficou marcada em mim. Não foi só o fato de não ir ao parquinho, mas o que isso representava: meu corpo, minha necessidade de movimento, minha alegria natural de ser criança, tudo foi reprimido em favor de um erro de escrita. Essa situação reflete exatamente o que estamos discutindo: o corpo é constantemente silenciado e disciplinado na escola, como se o movimento estivesse condicionado ao desempenho intelectual. Confundir letras, algo tão normal no processo de aprendizado, foi o suficiente para limitar minha expressão corporal, me privando não apenas da diversão, mas também de uma experiência mais leve e significativa de aprendizado.
Essa experiência me fez perceber o quanto a escola, como Foucault descreve, é uma “instituição de sequestro”. Ela controla não só o tempo, mas também o corpo das crianças, ajustando-os às demandas de um sistema que privilegia o raciocínio em detrimento da expressão física. Não poder brincar por causa de um erro simples na escrita era, na verdade, uma forma de disciplinar o meu corpo e moldá-lo às expectativas da escola. Era como se meu corpo precisasse ser corrigido e enquadrado para se adequar ao que era considerado aceitável. Isso me faz refletir sobre o quanto fomos condicionadas a acreditar que errar é motivo para punir o corpo, para restringir o prazer e a liberdade de ser criança.
Hoje, ao revisitar essas lembranças com o olhar mais crítico que essa aula me proporcionou, vejo que o controle do corpo vai muito além de disciplinar movimentos. Ele também se manifesta na maneira como somos condicionadas, desde cedo, a acreditar que o erro intelectual justifica a repressão física e emocional. Essa desconexão entre mente e corpo, tão presente na escola, afeta não apenas nossa relação com o aprendizado, mas também nossa própria liberdade de ser quem somos.