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Fórum de debates - Turma 3

Desde pequenos a escola promove diversos tipos de controle corporal. Por que isso? Como a sociedade nos divide entre corpo e mente se somos seres indivisíveis? Boas descobertas?

Desde pequenos a escola promove diversos tipos de controle corporal. Por que isso? Como a sociedade nos divide entre corpo e mente se somos seres indivisíveis? Boas descobertas?

por Marco Santoro - Número de respostas: 19

A aula 3 demonstrou por intermédio das pesquisas que controles corporais acontecem desde as primeiras civilizações organizadas. Ao longo do tempo das sociedades constatamos que os controles corporais, embora diferentes, sempre existiram e perduram até os das atuais.

Então, cabem alguns questionamentos:

Por que tais controles corporais acontecem a milênios e são intensos e amplos?

De que tanto temem as elites sociais sobre a liberdade corporal desde os tempos históricos?

Por que nos separar entre corpo e mente, ou corpo e alma, ou razão e emoção se somos um ser indivisível?

Leiam a aula 3, analisem os conteúdos,  reflitam sobre o tema e venham para os debates!


Em resposta à Marco Santoro

Re: Desde pequenos a escola promove diversos tipos de controle corporal. Por que isso? Como a sociedade nos divide entre corpo e mente se somos seres indivisíveis? Boas descobertas?

por Marco Santoro -
Oi pessoal!!!

Abrimos a aula 3 na quinta feira, dia 5 de setembro e hoje, dia 7 de setembro, vocês ainda não participaram???

Venham!!!
Em resposta à Marco Santoro

Re: Desde pequenos a escola promove diversos tipos de controle corporal. Por que isso? Como a sociedade nos divide entre corpo e mente se somos seres indivisíveis? Boas descobertas?

por Gustavo Costa Lima Vieira -
Boa noite, professor!

A escola regula o corpo para criar indivíduos disciplinados que se concentram na razão e na produtividade. Eles refletem os princípios do capitalismo e do pensamento cartesiano. Ao limitar as expressões naturais do corpo em favor do desenvolvimento da mente, o controle corporal ajuda a manter a ordem e a eficiência no ambiente escolar. No filme Sociedade dos Poetas Mortos, o ambiente escolar rígido mostra o controle sobre o corpo e a mente dos alunos, limitando a liberdade individual.
Descartes, influenciando a tradição ocidental, separou o corpo físico da razão e da alma, com a mente sendo superior. A educação foi moldada por esse pensamento, priorizando a racionalidade e reprimindo o corpo. No filme, o professor Keating desafia essa divisão incentivando os alunos a "viverem suas paixões", unindo corpo e mente.
Com início nas civilizações grega e romana e fortalecido pelo capitalismo, controles corporais foram usados há milênios para manter a eficiência e a ordem social. O corpo dócil foi projetado para atender aos sistemas de produção. Esses controles são extensivos porque mantêm um modelo de sociedade que separa corpo e mente, mantendo a autoridade das elites.
As autoridades têm medo de que a liberdade corporal possa quebrar os sistemas de controle e ordem, ameaçando o estado atual de coisas. O corpo livre é instável e poderoso. A liberdade de pensamento e expressão corporal dos alunos ameaça o sistema educacional autoritário na Sociedade dos Poetas Mortos, levando à repressão.
A separação corpo-mente permite maior controle social e econômico, pois divide o ser humano e diminui sua capacidade de resistir. A dominação aumenta quando a razão é sobrevalorizada em relação ao corpo. A mensagem do filme, "Carpe Diem", que significa aproveitar o momento, propõe romper com a separação entre corpo e mente para viver plenamente.
Em resposta à Marco Santoro

Re: Desde pequenos a escola promove diversos tipos de controle corporal. Por que isso? Como a sociedade nos divide entre corpo e mente se somos seres indivisíveis? Boas descobertas?

por Lucas Bernardes de Almeida -
Professor, bom dia!

O controle corporal que vemos há milênios não é apenas uma questão de conformidade; é uma estratégia para manter a ordem e o poder. Desde os tempos antigos, a sociedade tem moldado corpos e comportamentos para garantir que todos se ajustem às expectativas e regras estabelecidas. A escola, por exemplo, com suas regras rígidas, é uma das principais instituições responsáveis por essa moldagem, assegurando que as pessoas se conformem e se adaptem ao sistema vigente.

As elites sociais sempre temeram a liberdade corporal porque ela pode desafiar a ordem estabelecida. Quando as pessoas se sentem livres para explorar seus corpos e expressar seus desejos, elas podem questionar e até subverter as normas sociais impostas. Esse medo é antigo e profundo, pois a liberdade corporal pode desestabilizar a hierarquia e o controle social que essas elites procuram manter.

Quanto à separação entre corpo e mente, ou razão e emoção, ela tem raízes na tradição filosófica que buscou simplificar e controlar a complexidade da experiência humana. Essa divisão ajuda a instituição a impor normas e valores que reforçam a obediência e a conformidade. No entanto, essa visão ignora a realidade de que somos seres indivisíveis, como lembra o filósofo Espinosa: “Há uma força inconsciente no espírito, assim como há uma potência insuspeita no corpo.” Reconhecer nossa integralidade poderia ajudar a construir uma sociedade mais equilibrada e respeitosa com as nossas verdadeiras necessidades.
Em resposta à Lucas Bernardes de Almeida

Re: Desde pequenos a escola promove diversos tipos de controle corporal. Por que isso? Como a sociedade nos divide entre corpo e mente se somos seres indivisíveis? Boas descobertas?

por Marco Santoro -
Obviamente para fazer parte de um coletivo ou uma sociedade é necessário um conjunto de regras que estabelecem ações possíveis e ações que devem ser evitadas em nome da convivência do bem comum.
Entretanto, observando o nascimento das primeiras escolas da sociedade ocidental, veremos que a arquitetura dessas escolas foi idealizada a partir das construções de presídios e manicômios que possuíam o objetivo de controle total de seus habitantes dos locais citados.
Michel Foucault se debruça de forma profunda nos estudos dos controles exacerbados das instituições. O livro "Vigiar e punir" do autor citado descortina os horrores dos controles sociais ao longo da história da sociedade.
Portanto, os controles exercidos nas instituições escolares possuem não somente o ordenamento em busca de uma convivência democrática e justa para todos, possuem um controle castrador das capacidades e possibilidades humanas de desenvolvimento que culminam na opressão da evolução dos estudantes que buscam desenvolver as suas experiências necessárias corporais e cognitivas.
Não à toa o ensino na sociedade ocidental é engendrado na modalidade de conteúdos técnicos, desprezando as essenciais subjetividades humanas.
Em resposta à Marco Santoro

Re: Desde pequenos a escola promove diversos tipos de controle corporal. Por que isso? Como a sociedade nos divide entre corpo e mente se somos seres indivisíveis? Boas descobertas?

por Pedro Moradillo Pregueiro -
O controle corporal promovido desde cedo pela escola faz parte de um processo mais amplo de socialização e disciplinamento que tem raízes profundas na história das sociedades. A razão pela qual essas instituições impõem regras sobre como nos comportamos fisicamente — como sentar, falar, andar, e mesmo como utilizar nosso tempo — está ligada a um desejo de moldar indivíduos que se adaptem a certos padrões de ordem, produtividade e conformidade que são valorizados pela sociedade.

A divisão entre corpo e mente, ou corpo e alma, é um conceito que tem suas origens na filosofia ocidental, especialmente no pensamento de Platão e, mais tarde, de René Descartes, que promoveu a ideia do dualismo cartesiano. Esse pensamento considera a mente (ou alma) como algo separado e superior ao corpo, que é visto como um elemento a ser controlado, disciplinado, ou até mesmo desprezado. Essa divisão artificial serve a interesses sociais e políticos, pois facilita o controle sobre o corpo, considerado a "parte inferior", enquanto a mente ou a alma é sujeita a outras formas de doutrinação e normatização. As elites sociais, historicamente, temem a liberdade corporal porque ela representa um rompimento com o controle que é essencial para a manutenção das hierarquias e das estruturas de poder estabelecidas. Corpos livres — que se movem fora das normas, que expressam desejos, afetos e necessidades próprias — podem desafiar as normas sociais e políticas, podendo inclusive inspirar resistência e revolução. O controle corporal, assim, serve para manter a ordem e a disciplina, neutralizando potenciais subversões que poderiam desestabilizar o status quo.

A separação entre corpo e mente (ou corpo e alma, razão e emoção) serve como uma ferramenta para deslegitimar certas formas de conhecimento, expressão e existência que não se alinham com as expectativas dominantes. Quando essa separação é feita, a parte "racional" ou "espiritual" é valorizada, enquanto o corpo, com seus desejos, sensações e afetos, é relegado a um segundo plano, controlado e vigiado.

No entanto, como seres humanos, somos indivisíveis — não existe um "corpo" separado de uma "mente". Somos seres complexos em que corpo, mente, emoções e alma coexistem e se influenciam mutuamente. A busca pela unificação dessas dimensões pode ser uma forma de resistência aos controles que limitam a nossa expressão plena, permitindo descobertas mais autênticas sobre quem somos e sobre o potencial de transformação que podemos exercer tanto individual quanto coletivamente.
Em resposta à Marco Santoro

Re: Desde pequenos a escola promove diversos tipos de controle corporal. Por que isso? Como a sociedade nos divide entre corpo e mente se somos seres indivisíveis? Boas descobertas?

por Ana Beatriz Lemos da Cunha -
O controle sobre os corpos existe desde as primeiras civilizações e continua até hoje. A escola, por exemplo, tem sido um espaço de aprendizado e socialização, por séculos, mas também de controle e disciplina. Desde a arrumação das carteiras até as regras de comportamento, a escola molda os corpos para se adaptarem a um modelo ideal de aluno. As raízes do controle corporal na escola nos lembram os tempos antigos. As sociedades sempre buscaram maneiras de controlar comportamentos e manter a ordem, por isso esses controles são amplos e intensos há muito tempo. As elites sociais têm medo da liberdade corporal porque ela pode ameaçar o status quo e o controle que elas têm sobre a população.

O conceito de separação entre corpo e mente (ou corpo e alma, ou razão e emoção), é uma construção histórica e filosófica utilizada para justificar diferentes formas de controle e domínio, apesar de sermos seres indivisíveis. Essa divisão permite que as pessoas de maior poder imponham crenças e valores que fortalecem seu controle. Por exemplo, as sociedades podem desvalorizar comportamentos considerados "irracionais" ou "emocionais", que são frequentemente associados a grupos marginalizados, ao valorizar a razão sobre as emoções.

Os controles corporais são uma ferramenta eficaz e duradoura para manter o poder e a ordem social. Eles são sustentados por construções históricas e filosóficas que dividem o ser humano, facilitando a dominação e o controle, e refletem os medos das elites sociais em relação à liberdade corporal.
Em resposta à Marco Santoro

Re: Desde pequenos a escola promove diversos tipos de controle corporal. Por que isso? Como a sociedade nos divide entre corpo e mente se somos seres indivisíveis? Boas descobertas?

por Vitoria Cristine Aguiar da Silva -
Boa tarde, professor! Segue a minha reflexão sobre o tema:

Os controles corporais intensos e amplos, que persistem há milênios, refletem uma tradição de disciplinar e moldar os corpos para servir aos interesses das elites sociais e do sistema produtivo. Desde a Revolução Industrial, a escola tem se consolidado como um instrumento de controle, organizando os corpos das crianças em estruturas rígidas e normatizadas. Esse controle é até descrito por Foucault como um método para criar corpos dóceis e produtivos, que seria um reflexo da necessidade das elites de garantir a submissão e o alinhamento das pessoas às demandas do mercado e da produção.

O receio das elites em relação à liberdade do corpo está fundamentado na ameaça que ela representa para a estrutura social vigente. A autonomia corporal, ligada ao desejo e à vitalidade, contraria as normas rígidas e o controle social. Nietzsche faz uma crítica à priorização da racionalidade em detrimento do desejo, simbolizada pela escolha do deus Apolo em vez de Dionísio, ressaltando que essa repressão ao corpo e às emoções constitui um desafio ao poder das elites. Ao abafarem a expressão corporal, essas elites garantem sua dominação e perpetuam a hierarquia social.

A distinção entre corpo e mente, assim como entre razão e emoção, remonta às tradições da filosofia ocidental e à visão mecanicista da ciência, que consideram o corpo como um mero instrumento independente da inteligência racional. Tanto Nietzsche quanto o Espinosa levantaram críticas a essa fragmentação, sustentando que ela resulta em um desequilíbrio patológico que desumaniza o corpo e reprime as forças vitais e emocionais. Ao valorizar a razão em detrimento do corpo, a cultura ocidental acaba por reforçar uma estrutura social que prioriza a disciplina e o controle, em prejuízo da expressão plena do ser humano.

Essa dicotomia entre corpo e mente favorece os interesses do controle social, permitindo que as normas e as estruturas de poder permaneçam inalteradas. A repressão dos anseios e a negação da integração entre corpo e alma tornam mais fácil a dominação e a submissão, enquanto um corpo livre simboliza uma força que pode ser altamente subversiva.

Então, eu acredito ser fundamental reconhecer e restaurar a conexão entre corpo e mente, além de valorizar as emoções e os desejos. Isso é crucial para promover uma vida mais equilibrada e uma educação que incentive a liberdade e o pleno desenvolvimento do ser humano.
Em resposta à Vitoria Cristine Aguiar da Silva

Re: Desde pequenos a escola promove diversos tipos de controle corporal. Por que isso? Como a sociedade nos divide entre corpo e mente se somos seres indivisíveis? Boas descobertas?

por Marco Santoro -
Oi pessoal!
Estão indo muito bem nas análises!
A aula 3 tem o objetivo de demonstrar para vocês que existem questões sociais, culturais e históricas que são verdadeiros absurdos para a humanidade, mas que de tanto ser repetido milhões de vezes, todos os dias e em (quase) todo o planeta que tais absurdos se tornam "normais" ou "naturais".
Uma dessas naturalizações se concentra no corpo de todos nós. Nossos corpos, movimentos, gestos e ações são poderosamente controlados. As ações, conceitos e arquiteturas são minuciosamente montados para que possamos aceitar sem maiores reações, inclusive muitos de nossos gestos e movimentos são obra de nossas percepções quando nos identificamos com os antepassados nossos.
Portanto, antes de julgarmos atitudes dos nossos próximos, façamos uma corajosa análise de nossas atitudes também.
Em resposta à Marco Santoro

Re: Desde pequenos a escola promove diversos tipos de controle corporal. Por que isso? Como a sociedade nos divide entre corpo e mente se somos seres indivisíveis? Boas descobertas?

por Amanda de Sousa Ribeiro -
Acredito que o controle corporal exista há tanto tempo por possuir várias vertentes sociais, culturais, religiosas e políticas também, as normas sobre os corpos ajudam a reforçar estruturas de poder, como as relações de classe, gênero e raça. As sociedades muitas vezes impõem regras sobre o corpo para garantir que certos grupos permaneçam em posições de privilégio, enquanto outros são subordinados. O controle dos corpos, especialmente das mulheres, tem sido historicamente usado para manter o patriarcado, definindo como os corpos femininos devem se comportar, vestir, e até reproduzir. Isso se reflete em práticas como casamentos arranjados, controle da sexualidade, mutilações, e regulamentação da gravidez. O corpo também é controlado como uma força de trabalho, o que remonta a sistemas de trabalho escravo e servidão, onde os corpos eram vistos como propriedade. No capitalismo moderno, o corpo continua sendo regulado em termos de produtividade, aparência e comportamento para se adaptar ao ambiente de trabalho. Por fim, a separação entre corpo e mente, corpo e alma ou razão é uma ideia que está enraizada em algumas tradições religiosas e culturais, mas é algo que ainda gera algumas controvérsias.
A visão de que somos seres indivisíveis é muito forte e tem ganhado mais força com avanços em áreas a psicologia.
Em resposta à Marco Santoro

Re: Desde pequenos a escola promove diversos tipos de controle corporal. Por que isso? Como a sociedade nos divide entre corpo e mente se somos seres indivisíveis? Boas descobertas?

por Vanessa Alves Pedro Marcelino -
“A confiança no próprio corpo está relacionada ao sentimento de confiança na vida”
Esta foi uma das frases que mais me chamou atenção ao longo da leitura desta aula 3, a forma como está questão pode estar totalmente relacionada ao ambiente escolar e a forma como as crianças são tratadas muitas das vezes desde os primeiros anos de escolaridade, faz com que essa frase se torne realidade, seja de forma positiva ou negativa.
Precisamos confiar na vida, no que ela transmite para nós, isto vai além de somente seguir a dinâmica da sociedade, dinâmica essa que vê o corpo, seus gestos e as atitudes do indivíduo como algo para ser moldado.
Na primeira apresentação desse fórum, é citado que na sociedade exige uma supervalorização da parte intelectual do ser humano em detrimento do desprezo pelo corpo, ou seja, o corpo passa a ser desvalorizado. Ao longo dos anos e até mesmo na sociedade atual, é possível observar isto que o corpo passa a ser disciplinado para se adaptar/adequar à vida em sociedade.
A escola é um dos ambientes que perpetua esta concepção ainda na sociedade atual, podemos observar e reconhecer que o ambiente escolar passou por mudanças ao longo das últimas décadas e que os métodos adotados nos anos 80, 90 por exemplo, já em sua maioria se esvaíram, como a aplicação de “castigos” físicos nos estudantes, porém, ainda é possível visualizar no cotidiano escolar, que há dominação e controle sobre o corpo, impedindo em determinadas situações a liberdade corporal do indivíduo.
Ao observar a primeira parte do artigo, a última frase citada, que foi sobre observações realizadas em uma escolha infantil de um município do Rio de Janeiro, é perceptível que mesmo com o passar dos anos da época em que estás considerações foram escritas, ainda pôde-se perceber que há uma certa familiaridade com o que é transmitido nas salas de aula da educação dos dias atuais, parece que temos muito a aproveitar com os estudantes nas áreas externas da escolas, permitir com que eles aprendem sobre si e sobre o outro, mas ao mesmo há um limite para essas questões.
O artigo cita que um dos objetivos para a dominação sobre o corpo é o fato que o objetivo fundamental do trabalho escolar seja o de desenvolver de maneira plena a capacidade racional para a compreensão e a submissão da natureza aos interesses do mercado, deixando de lado os sentimentos e a compreensão sobre o lugar do corpo no espaço escolar.
É importante considerar, desde as etapas iniciais da vida como quando as crianças estão na educação infantil, o corpo como algo presente na sociedade mas que não está separado da mente, do intelectual, é importante considerar que os seres humanos estão em constante contato com o outro, consigo mesmo e com a sociedade, algo que o torna apto para ser um indivíduo livre das “amarras” que a sociedade impõe.
Em resposta à Marco Santoro

Re: Desde pequenos a escola promove diversos tipos de controle corporal. Por que isso? Como a sociedade nos divide entre corpo e mente se somos seres indivisíveis? Boas descobertas?

por Julia Martins Torres -
Essa aula 3 me proporcionou uma compreensão mais profunda sobre como, desde a infância, o ambiente escolar influencia a forma como enxergamos e usamos nossos corpos. Lembro claramente de passar horas sentada, com pouquíssima ênfase em experiências sensoriais ou físicas. A reflexão me fez perceber que, embora a escola sempre tenha priorizado o intelecto, o corpo sempre esteve presente em todas as interações – fosse no desconforto de ficar imóvel por tanto tempo ou na necessidade de expressar emoções que não cabiam naquele espaço rígido. Essa divisão entre mente e corpo moldou não apenas o que aprendemos, mas também como nos comportamos e nos adaptamos às exigências do ambiente escolar. Repensar a escola como um espaço que também educa o corpo abre novas possibilidades para um aprendizado mais completo, onde mente e corpo funcionam juntos, em harmonia, e não separados como tradicionalmente ocorre.

Lembro, por exemplo, de uma vez em que fui impedida de ir ao parquinho porque não conseguia diferenciar as letras "q" e "j". Era uma criança, ainda aprendendo, e mesmo assim fui repreendida. O mais doloroso era que a sala de aula tinha janelas abertas, e eu podia ver as outras crianças brincando, correndo livres, enquanto eu ficava sentada, privada daquele momento de alegria e movimento. Aquela sensação de frustração e exclusão ficou marcada em mim. Não foi só o fato de não ir ao parquinho, mas o que isso representava: meu corpo, minha necessidade de movimento, minha alegria natural de ser criança, tudo foi reprimido em favor de um erro de escrita. Essa situação reflete exatamente o que estamos discutindo: o corpo é constantemente silenciado e disciplinado na escola, como se o movimento estivesse condicionado ao desempenho intelectual. Confundir letras, algo tão normal no processo de aprendizado, foi o suficiente para limitar minha expressão corporal, me privando não apenas da diversão, mas também de uma experiência mais leve e significativa de aprendizado.

Essa experiência me fez perceber o quanto a escola, como Foucault descreve, é uma “instituição de sequestro”. Ela controla não só o tempo, mas também o corpo das crianças, ajustando-os às demandas de um sistema que privilegia o raciocínio em detrimento da expressão física. Não poder brincar por causa de um erro simples na escrita era, na verdade, uma forma de disciplinar o meu corpo e moldá-lo às expectativas da escola. Era como se meu corpo precisasse ser corrigido e enquadrado para se adequar ao que era considerado aceitável. Isso me faz refletir sobre o quanto fomos condicionadas a acreditar que errar é motivo para punir o corpo, para restringir o prazer e a liberdade de ser criança.

Hoje, ao revisitar essas lembranças com o olhar mais crítico que essa aula me proporcionou, vejo que o controle do corpo vai muito além de disciplinar movimentos. Ele também se manifesta na maneira como somos condicionadas, desde cedo, a acreditar que o erro intelectual justifica a repressão física e emocional. Essa desconexão entre mente e corpo, tão presente na escola, afeta não apenas nossa relação com o aprendizado, mas também nossa própria liberdade de ser quem somos.
Em resposta à Marco Santoro

Re: Desde pequenos a escola promove diversos tipos de controle corporal. Por que isso? Como a sociedade nos divide entre corpo e mente se somos seres indivisíveis? Boas descobertas?

por Julia Vidal de Lacerda -
Professor, boa tarde!
Ao pensar em como o controle atinge a sociedade como um todo, é possível perceber que isso ocorre desde as primeiras civilizações, visto que era uma forma de manter a ordem social. Sendo observado na aplicação das normas de higiene, religiosas ou governamentais que são usadas para controlar a população. Isso pode ser exemplificado com a imposição religiosa de normas sobre vestimenta, alimentação e sexualidade para preservar a moralidade e a pureza espiritual.
Com isso, o maior temor da elite é a perda do controle e a desordem, ela enxerga a liberdade como uma ameaça a sua autoridade e quando a mostramos totalmente há o receio em desafiar as normas e acabar com a ordem social existente, fazendo com que a sociedade seja imprevisível e difícil de controlar.
Ao separar o corpo da mente, pode ser uma maneira de exercer controle e dominação sobre o povo. Entramos em um dualismo em que a mente tem o livre arbítrio e o corpo pode sofrer as consequências disso, isso pode ser visto com pessoas que não se identificam com o corpo/gênero que nasceram e, quando não tem acesso a recursos, podem acabar se ferindo para tentarem se identificar no próprio corpo.
Em resposta à Marco Santoro

Re: Desde pequenos a escola promove diversos tipos de controle corporal. Por que isso? Como a sociedade nos divide entre corpo e mente se somos seres indivisíveis? Boas descobertas?

por Julia Pereira dos Santos -
O artigo me fez pensar em uma experiência que tive em uma das escolas que estudei ao longo da vida. Nela, meu antigo professor de história propôs que a turma fizesse uma roda para descontrair e sair das tradicionais fileiras. Não levou muito tempo para que a coordenadora pedisse a ele que desfizesse a roda e retornasse com as fileiras imediatamente. Lembro que essa foi uma das poucas vezes, nessa escola, que as aulas de história ficaram mais interessantes, saindo do cotidiano e monótono.

Acredito que isso ocorre até hoje porque é uma maneira interessante para a escola controlar aqueles que estão inseridos no seu espaço. Fica mais fácil tornar quem está ocupando uma cadeira entre as quatros paredes de uma sala de aula preso, mas não de forma que a pessoa se mantém interessada, mas presa dentro de umm espaço físico limitado a conhecer seu próprio corpo e suas possibilidades. Por que muitas formas artísticas não são valorizadas no nosso país? Expressões artísticas como teatro e dança dificilmente são vistas sendo valorizadas dentro desses espaços, já que leem a arte como perda de tempo, o que importa é o racional, o lógico.

Com a reflexão que fiz do artigo, fica mais evidente, pra mim, que isso não é um projeto momentâneo, muito menos algo construído e pensado da noite para o dia, e isso explica o porquê de ser tão difícil a desvinculação do modelo tradicional de educação que vemos sendo aplicado nas escolas Brasil à fora. É verdade que existem instituições que vão contra esse movimento duro se ser desfeito, mas também são escolas que são vistas como fora da curva de uma maneira errônea, colocadas como más influências, muitas vezes, para responsáveis por crianças que precisam estar nas escolas.

" A confiança no próprio corpo está relacionada ao sentimento de confiança na vida". O artigo encaminha para seu final com essas palavras. Palavras essas que nos fazem refletir sobre qual seria o real interesse desses espaços em controlar os corpos dos indivíduos, de se entenderem no mundo enquanto seres pensantes, mas não só com a mente, mas com o corpo e tudo aquilo que ele é capaz de expressar. Se o corpo fosse lido e interpretado pelas pessoas com mais frequência, o sentido das coisas passaria a ter uma nova roupagem e um mundo de ideias diferentes.
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Re: Desde pequenos a escola promove diversos tipos de controle corporal. Por que isso? Como a sociedade nos divide entre corpo e mente se somos seres indivisíveis? Boas descobertas?

por Paula Cristina de Carvalho Silva -
Acredito que a escola trabalha essa estratégia de limitar os corpos para deter os alunos e consequentemente ,podemos ver que qd não se tem liberdade corporal,acaba não se tendi liberdade na mente,não se pode expor ideias e pensamentos .O filme Sociedade dos poetas mortos nos mostra bem isso,qd os alunos tiveram a oportunidade de se expressar,tudo mudou em.suas vidas e rotinas,um.novo mundo se abriu para eles
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Re: Desde pequenos a escola promove diversos tipos de controle corporal. Por que isso? Como a sociedade nos divide entre corpo e mente se somos seres indivisíveis? Boas descobertas?

por Moiss David Nicolau da Silva -
A escola é um instrumento fundamental para a manutenção da estrutura social, moldando crianças e jovens para se adequar às normas e padrões vigentes. Ao impor regras rígidas e rotinas, a escola não só ensina conteúdos acadêmicos, mas também controla comportamentos, preparando os alunos para cumprir papéis sociais e profissionais. Esse controle corporal e disciplinar ajuda a internalizar as normas sociais, garantindo que os indivíduos se tornem membros obedientes e produtivos da sociedade. Assim, a escola contribui para a perpetuação das estruturas sociais existentes, preparando os alunos para se ajustarem às exigências do mercado de trabalho e às expectativas sociais. Dividir corpo e mente na educação limita o desenvolvimento completo do indivíduo, pois desconsidera formas de aprendizagem que envolvem a expressão corporal e atividades práticas. Atividades, culturais e esportivas, onde o corpo é essencial, oferecem formas valiosas de conhecimento que vão além das regras e da lógica pura. Negar essas experiências aos jovens restringe seu crescimento pessoal e promove um controle social mais eficiente, ao impedir o desenvolvimento de habilidades e competências variadas. Integrar o corpo no processo educacional é crucial para um desenvolvimento mais holístico e enriquecedor.
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Re: Desde pequenos a escola promove diversos tipos de controle corporal. Por que isso? Como a sociedade nos divide entre corpo e mente se somos seres indivisíveis? Boas descobertas?

por Larissa de Assumpcao Barbosa -
Boa noite a todos!
Pudemos ver que tal controle sobre os corpos não vêm de hoje, não pe algo do nosso século. É uma construção de anos, que juntamente com sistemas, como o capitalismo, só se intensificam e soman-se a outros fatores que deixam o viver cada vez mais engessado.
Enquanto seres complexos somos formados não somente por nossas mentes, nosso corpo incluisve reflete o estado de nossa mente. É algo muito difícil separar uma coisa da outra e ambos trabalhando juntamente, dá um resultado tão incrível que só voltando lá atrás para entender o porquê de tanto medo das elites, de quem detêm o poder em determinado local, grupo ou posição social tem da liberdade corporal desde muito tempo atrás.
Creio que corpos discplinados, são interessantes para um tipo de propósito bem específico. Corpos disciplinados conseguem sentar, ouvir o professor atentamente (ou pelo menos fingir que está ouvindo e apenas balançando a cabeça em concordância as vezes) e seguir as instruções de forma bem clara, do jeitinho que o professor falou, sem criticar, sem colocar sua criatividade no meio, sem inovar, apenas seguir as instruções e passar de ano.
Esse tema me lembra o curtametragem chamado Alike, onde um pai já tem seu corpo muito bem disciplinado pelo cotidiano, pelo sitema vigente em sua sociedade e pelo seu emprego e o filho é uma criança que ainda não foi disciplinada de acordo com esse padrão que nos tole em muitas áreas da vida. Com o passar do tempo o filho vai se acostumando a rotina escolar monótona e de tanto ser tolido e continuamente vetado de ser criativo, crítico e interessado em coisas além da escola, vai se tornando alguém triste, como o pai. O que o liberta é o próprio pai em um ato de coragem (e um pouco de desespero em viver aquela vida) de tocar um violino, e praça pública, se expondo totalmente ao novo e ao diferente. Tal curtametragem nos faz refletir sobre como vamos nos acostumando com essa rotina que nos é imposta sem nem mesmo nos questionarmos do porque.
Em resposta à Marco Santoro

Re: Desde pequenos a escola promove diversos tipos de controle corporal. Por que isso? Como a sociedade nos divide entre corpo e mente se somos seres indivisíveis? Boas descobertas?

por Vanessa de Souza Valentim -
Os controles corporais surgem como uma forma de regulamentar comportamentos e manter a ordem social. Desde as primeiras civilizações, a gestão do corpo - por meio de normas, rituais e punições - funcionou como um mecanismo de controle social. As elites sociais, que muitas vezes ocupavam posições de poder político, econômico e religioso, viam a necessidade de moldar o comportamento dos indivíduos para garantir a estabilidade e a coesão social. Esses controles podem variar de práticas religiosas, costumes, leis e até mesmo ideologias, mas todos têm o objetivo comum de facilitar a convivência em sociedade.
As elites sociais frequentemente temem a liberdade corporal, pois a autodeterminação e a autonomia dos indivíduos podem ameaçar seu controle e influência. Quando as pessoas têm liberdade sobre seus próprios corpos, elas podem desafiar normas estabelecidas, questionar estruturas de poder e promover mudanças sociais. Além disso, a liberdade corporal pode levar a uma maior expressão da individualidade e da diversidade, o que pode minar as bases de uma sociedade hierárquica e autoritária. Portanto, a manutenção de certos padrões e normas é percebida como necessária para a proteção do status.
A separação entre corpo e mente (ou corpo e alma) é uma construção cultural e filosófica que remonta a diversas tradições de pensamento. Essa dicotomia surgiu como uma ferramenta para facilitar a compreensão da complexidade da experiência humana. No entanto, essa visão dualista pode ser redutiva, já que o corpo e a mente (ou a razão e a emoção) interagem de maneira indissociável. Tal separação tem implicações práticas, como nas áreas da medicina e da psicologia, onde muitas vezes se trata o corpo e a mente de forma independente. Uma abordagem mais holística reconhece que emoções, pensamentos e sensações corporais são interdependentes, e que a experiência do ser humano deve ser considerada de maneira integrada.
Em resposta à Marco Santoro

Re: Desde pequenos a escola promove diversos tipos de controle corporal. Por que isso? Como a sociedade nos divide entre corpo e mente se somos seres indivisíveis? Boas descobertas?

por Thiago Pinheiro da Silva -
É bem interessante a visão que o autor do artigo coloca, principalmente com o uso da lógica capitalista para nos explicitar os motivos da separação de corpos e mentes. A sociedade precisa que os nossos corpos e, no caso escolar, os das crianças, pré-adolescentes e adolescentes sejam controlados em detrimento de seus prazeres, para que os mesmos apenas aprendam o que seja útil para a produção capitalista, que envolve apenas o desenvolvimento e o uso da mente, como se o uso do corpo não pudesse possibilitar nada disso. As elites temem a liberdade corporal porque a partir do momento em que os indivíduos são livres junto aos seus corpos eles não estão cumprindo com os desejos dessa mesma elite, que seria a produção, que é a engrenagem do sistema capitalista. É interessante também citar que o autor fala que estamos sujeitos a doenças físicas e psicológicas por conta desse amplo controle do sistema, por estarmos, principalmente, parados e negando os desejos de nossos corpos com frequência, gerando a "contrapaixão" que o autor cita.

Um filme bem interessante que joga contra essa lógica é o "Capitão Fantástico", onde um pai e a sua família decidem abandonar todo esse sistema capitalista e ir viver de uma forma totalmente diferente, em contato com a natureza, onde os seus corpos - e mentes - são livres para que eles possam fazer o que quiserem. Uma uma experiência que é interessante citar é a educação especial. Eu estagiei dois anos em uma escola municipal da cidade do Rio de Janeiro, onde haviam muitas crianças autistas, deficiência intelectural, e com síndrome de down, onde muitas eram hiperativas. Nossas aulas eram muito baseadas no uso dos corpos para o aprendizado, principalmente nas disciplinas de português, matemática e história, onde essas crianças e adolescentes eram bem mais livres, talvez por não estarem inclusas - estão excluídas de todo um sistema, ainda mais por serem pobres - nessa lógica capitalista de produção e consumo. Elas, muitas das vezes, não se adaptavam ao ambiente escolar, a todo essa perspectiva de ensino onde os alunos precisam ficar quietos, sentados e comportados para "receberem o conhecimento" do/da professor/professora, então tínhamos que pensar em novas formas e o uso dos corpos como forma de aprendizado foi crucial para o avanço desses alunos e alunas. Muito interessante o tema.
Em resposta à Marco Santoro

Re: Desde pequenos a escola promove diversos tipos de controle corporal. Por que isso? Como a sociedade nos divide entre corpo e mente se somos seres indivisíveis? Boas descobertas?

por Alice Erthal dos Reis Cabral -
A escola, desde o início, promove diversos tipos de controle corporal como uma forma de disciplinar os alunos e prepará-los para as exigências da sociedade. O ambiente escolar tende a valorizar comportamentos como obediência, quietude e ordem, todos ligados a formas de controle do corpo, como sentar-se por longos períodos, levantar a mão para falar ou seguir rotinas estruturadas. Isso está relacionado a uma visão histórica e social que associa o controle corporal à moralidade, à produtividade e à ordem social.

Essa separação entre corpo e mente que a sociedade promove é fruto de uma tradição filosófica e cultural que vem de pensadores como Platão e, mais tarde, Descartes, que reforçaram a ideia de uma dualidade entre corpo (matéria) e mente (espírito ou razão). A sociedade ocidental, em particular, construiu suas instituições e práticas sociais sobre essa visão dualista, valorizando mais a mente (racionalidade, lógica, intelecto) do que o corpo (impulsos, desejos, necessidades físicas). No entanto, somos seres indivisíveis: corpo e mente atuam em conjunto, e nossas emoções, pensamentos e sensações físicas são interdependentes.

Boas descobertas em áreas como a neurociência, a psicologia e a filosofia contemporânea estão ajudando a superar essa divisão artificial. Pesquisas mostram que o corpo tem um papel central na cognição e no nosso bem-estar geral. A abordagem chamada "embodied cognition" (cognição corporificada) defende que nossos processos mentais não estão isolados na mente, mas estão profundamente conectados às nossas experiências corporais e ao ambiente ao redor. Essa visão mais holística reconhece que somos seres integrais, e que o controle corporal excessivo ou artificial, como o promovido em alguns contextos escolares, pode sufocar essa conexão entre mente e corpo, limitando o desenvolvimento pleno do ser humano.

Essa nova perspectiva está provocando mudanças em várias áreas, incluindo a educação, onde há cada vez mais ênfase em práticas pedagógicas que integram o movimento físico, a expressão corporal e o desenvolvimento emocional.