A globalização e suas contradições – uma jornada
O tema globalização torna-se controverso na medida em que os estudos científicos precisam fazer recortes para tratar dos seus efeitos na cultura, política e economia, apesar das interdependências de causa e efeito destas forças para criar suas teses. E nesse sentido o debate extrapola o senso comum influenciado pelos avanços científicos e se não consegue dar solução rápida e eficaz aos problemas antigos e recorrentes, pelo menos traz mais clareza.. Com o avanço das tecnologias e a explosão do acesso à Internet, e as redes sociais, o indivíduo pode compartilhar informações em hipervelocidade, se convencendo da sua legitimidade e persuadindo os outros sobre suas convicções, moldando e ao mesmo tempo sendo política e culturalmente moldado. Todo o processo de globalização só faz sentido se trouxer avanços sociais de bem estar para o EU e o NÓS
Contudo, a minha atual percepção é de que os nossos problemas são reais e crescem na mesma medida em que são rapidamente compartilhadas as possiblidades de solução do que as efetivas ações para as suas resoluções. As soluções dependem de informação crível, de um consenso e de uma corresponsabilidade entre todos para que as ações sejam implementadas e ajustadas no processo. E é esse descompasso entre a verdade e as falácias, que apesar da mobilização das redes sociais, da informação cientifica veiculada e compartilhada em network, faz crescer a insegurança e o sofrimento das pessoas, gerando uma sensação de impotência para uma rápida resolução de problemas que afligem a sua comunidade local ou global. Ou seja, as ideias mostram a sua força apenas quando testadas e a solução bem implementada na resolução de um determinado problema. Se por um lado as tecnologias podem ajudar a acelerar o processo de informação, diálogo para tomada de decisão e implementação, ainda dependem de mobilização e vontade política local e global. Apenas a identificação do problema e o acesso mais fácil às tecnologias, infelizmente não garantem a resolução.
As redes de comunicação passam pelas relações de consumo, são serviços, e por isso mesmo impactadas de alguma maneira ao viés político e econômico do mundo hegemônico. E nesse sentido compartilho as considerações do acadêmico britânico David Harvey da Universidade de Cambridge em entrevista sobre O neoliberalismo e a atualidade de Marx” no Blog da Boitempo.
Creio que as considerações e David Harvey complementam a leitura indicada do sociólogo americano Manfred Steger traz a abordagem holística sobre o tema da Globalização como um processo de expansão mundial heterogênica das interconexões com foco nas ideias e relações sociais entre os países pelo avanço do uso das tecnologias que impactam a política, a cultura e a economia e seguem para além do pano de fundo econômico hegemônico das relações de consumo de bens e serviços.
O Professor Manfred explica e argumenta, em favor da sua visão, que a globalização criou um fluxo extenso, intenso e veloz através de redes de conectividade (Internet-Big Data – 5G Network), de mobilidade (viagens – migração de outras nacionalidades e refugiados) e de uma cidadania cosmopolita sem fronteiras (os nômades digitais). Os seus estudos com engajamento sobre o tema globalização buscam aumentar o nível de reflexão no nível individual e coletivo sobre o entendimento das ciências sociais em relação à expansão da consciência (ideias, ideologias, ativismo) e das relações sociais (redes sociais) nas reflexões e ações sobre os impactos dos problemas nacionais e mundiais no atual contexto digital, tornando-as ao mesmo tempo e paradoxalmente independentes e interdependentes. E apresenta os entendimentos e as tendências para o futuro dos estudiosos em relação aos rumos da globalização.
A primeira tendência apontada é a “desglobalização”, entendimento que surge após crise econômica 2008, a migração desordenada e a pandemia de COVID-19 que aumentou a insegurança, reduziu a mobilidade transnacional de pessoas e trocas comerciais e aumentou a polarização e o nacionalismo.
A segunda tendência (a visão adotada pelo Professor Manfred ) é a “reglobalização” DIGITAL de ideias e dados (Inteligência Artificial, como exemplo), entre outras, em detrimento das antigas trocas comerciais de bens e o aumento da mobilidade de pessoas, de empresas e de instituições.
A perspectiva, de qualquer modo, para as próximas décadas não é animadora, com previsão do aumento das incertezas, com o avanço dos problemas como crise econômica e ambientais (ainda sem tratamento adequado e ou solução sustentável). Esta situação tende a aumentar ainda mais as polarizações políticas, trazendo ideologias nacionalistas que impactam negativamente a mobilidade global de pessoas através de processos de migração ordenada entre os países. Estes processos são necessários para suprir a carência de mão-de-obra devido ao crescente envelhecimento e as baixas taxas de natalidade em países desenvolvidos.
Bibliografia Complementar:
O neoliberalismo e a atualidade de Marx: entrevista com David Harvey – Blog da Boitempo. Endereço eletrônico: https://blogdaboitempo.com.br/2023/05/31/o-neoliberalismo-e-a-atualidade-de-marx-entrevista-com-david-harvey/
The future of globalism – Center of Advanced Studies. Evento com Manfred B. Steger – Professor de Sociologia da Universidade do Havaí. Endereço Eletrônico: https://youtu.be/izHvGEUevNo?si=4Ry-RItmX7U9M1O2