O curso busca formar, em última instância, um educador comprometido com a educação inclusiva e com a diversidade cultural, para a construção de uma sociedade justa, igualitária e fundamentalmente ética, ou seja, que contribua ativamente para uma cidadania ativa. (OLIVEIRA; NOGUEIRA, 2002, p.101).
Tratar a importância do corpo na construção do conhecimento em um curso superior de formação de professores das séries iniciais não é tarefa fácil, pois a educação ainda sofre significativa influência cartesiana que mantém o corpo como objeto secundário nos processos de ensino-aprendizagem.
Portanto, ações corporais na construção cotidiana do conhecimento, nos espaços escolares, é um importante desafio a ser experimentado, pois se trata de superação de conceitos rígidos de educação que se perpetuam na modalidade presencial e se transferem para a modalidade a distância de forma mais arraigada.
No caso da EAD, que visa à popularização e democratização da Educação Superior se estendendo a diferentes lugares, através da educação, viabilizada e mediada pelas TICs, podemos criar com métodos prazerosos e lúdicos a sedução essencial para a manutenção de tais camadas da população inseridas no ensino superior.
Vislumbram-se movimentos de mudanças graças às teorias pedagógicas que versam sobre a corporeidade e seu papel na dinâmica da relação do sujeito e experiências nas suas diversas inteligências com o mundo no qual está inserido.
Diversos estudos de Tiriba (2008); Salvador (2007); Oliveira (2006); Freitas (1999) e Gonçalves (1994) apontam para a importância do estudo da corporeidade na educação e as suas contribuições na construção do conhecimento voltado para a ampliação das inteligências múltiplas, na superação do ensino meramente racional e conteudístico de inspiração cartesiana.
Aprender vai muito além do que armazenar conteúdos. Implica em experimentar, vivenciar, dar função e contextualizar os diferentes conteúdos formais ou não que são apresentados dentro de um contexto escolar e através das relações inter-humanas (SALVADOR, 2007, p.249).
Há que se considerar no processo de construção do conhecimento, para além da simples informação transmitida em sala de aula, os saberes que são construídos por meio das relações humanas em cada espaço da escola e que não deve ficar restrito a aula de educação física. Práticas corporais como as que ocorrem no recreio ou nos momentos de entrada e saída da escola podem ser de suma importância para o processo educacional.
[...] o pensamento de Descartes (século XVII) ainda influencia de sobremaneira o pensamento científico da atualidade, caracterizando a concepção dominante do corpo como instrumento mecânico do pensamento. Esta concepção “naturaliza” as ações cognitivas dissociadas do corpo, resultando na limitação do espaço escolar para o corpo poder se expressar apenas nas aulas de educação física, como se os domínios afetivos e motores não participassem da construção do conhecimento. Nesse sentido, observamos que geralmente as relações entre os jovens e o seu espaço escolar ficam reduzidas à quadra de esportes, com tempo limitado e, no máximo, dois encontros por semana. (SALVADOR, 2007, p.253).
Portanto, o objetivo do projeto é resgatar as vivências corporais em busca da construção do conhecimento amplo e crítico, não somente no aspecto racional, mas por intermédio dos afetos, sensações, sociabilidades e ludicidade, oportunizando a confluência entre razão e emoção, assumindo lugar de destaque junto aos processos cognitivos.
Podemos observar experiências realizadas e trabalhos acadêmicos sobre tais conceitos aliando ferramentas da Web às práticas, por intermédio do que denominamos“oficinas lúdico corporais”, na modalidade semipresencial. Um desses projetos está sendo desenvolvido no curso de Licenciatura em Pedagogia, da UERJ, através da disciplina de Seminário de Práticas Educativas 1, já citado anteriormente e experimentado desde o ano de 2008 e que será abordado adiante.
A EAD e as experiências na formação de professores
No contexto social as mudanças constantes no cenário mundial ocasionadas pela velocidade da globalização vêm impondo transformações constantes no tecido sociocultural. Tal emergência, trazida pelo advento da cibercultura,[1] impõe mudanças nos paradigmas tradicionais da educação, transformando-lhe os processos e permitindo o acesso à educação superior ao maior número de pessoas.
Parte exatamente daí o desafio a ser superado: a democratização do Ensino Superior por intermédio da EAD proporcionou a significativa participação de camadas da sociedade anteriormente alijadas desse ensino, entretanto, permanece o desafio da qualidade do ensino e da adequação a um novo perfil de aluno, diferente do aluno da educação presencial.
Atualmente, vivemos a “Era da informação e do conhecimento” (LEVY, 1999). Estes são as principais fontes de produção de riqueza, o saber antes se prendia apenas ao seu arcabouço teórico e hoje se mostra como figura móvel. Levy (1999) fala do conhecimento transmitido e produzido de maneira cooperativa, numa troca mútua.
Para Lemos (2002) o corpo está inexoravelmente incluído no desenvolvimento da cultura. Ele contempla a discussão entre corpo e máquina ao situar os conceitos no advento da cibercultura e ao afirmar que estamos diante de um corpo ampliado, transformado e refuncionalizado. O corpo não é mais apenas biológico, se tornou tecnológico porque nos dá, entre outras coisas, a possibilidade de lhe implantar próteses.
A história da educação a distância já é registrada desde o séc. XI através do ensino por correspondência, sendo esta a principal metodologia utilizada até o final da Segunda Guerra Mundial. A partir daí, outros recursos midiáticos foram adotados, como o rádio e a televisão. Esse novo modelo surge como uma forma de ampliar o acesso à educação. Com o surgimento da internet, a educação a distância tem em suas mãos novas e complexas tecnologias comunicacionais inauguradas pela “Era Digital”, expandindo seu alcance, reunindo em ambientes virtuais de aprendizagem, ferramentas educacionais mais dinâmicas e interativas.
O Ministério da Educação (MEC) vem investindo, significativamente, na última década, em políticas públicas em EAD a fim de ampliar e democratizar o acesso ao Ensino Superior. Dentro deste contexto, o projeto de Educação a Distância do Consórcio Centro de Educação Superior a Distância do Rio de Janeiro (CEDERJ) surge em 1999, entre a Fundação CECIERJ - Fundação Centro de Ciências e Educação Superior a Distância do Estado do Rio de Janeiro - e as seis universidades públicas sediadas no Estado.[2]
Os cursos são oferecidos em polos regionais, com o objetivo de contribuir com a ampliação do acesso ao Ensino Superior público, gratuito e de qualidade às diferentes localidades em todo o Estado do Rio de Janeiro.
Quando se trata do Curso de Licenciatura em Pedagogia da UERJ: “Colocar as práticas tecnológicas a serviço da construção dos conteúdos essenciais para o exercício do magistério nos anos iniciais da Educação Básica é o foco central do curso em tela.” (OLIVEIRA, 2002, p.102). Nesse curso alguns experimentos na área conceitual e metodológica começam a tomar vulto maior.
Nesse quadro destacamos a experiência do projeto das disciplinas de Seminários de Práticas Educacionais, que possuem um conceito de construção das diferentes áreas do conhecimento por intermédio de experiências além do conceito cartesiano de ensino.
O aspecto das múltiplas inteligências[3] e da participação da corporalidade no processo de ensino e aprendizagem permeia toda a construção de tal experiência pedagógica. A ludicidade e o prazer acompanham as ações experimentadas no cotidiano das disciplinas.
A disciplina “Seminário de Práticas Educativas 1”[4] é o objeto desse ensaio acadêmico por ser precursora do projeto citado. O projeto pedagógico destaca a necessidade da inserção do conceito de corporeidade no cotidiano da prática pedagógica, principalmente na necessidade de inclusão desta temática no currículo do curso superior de formação de professores, visando trabalhar as diferentes áreas do conhecimento através da ludicidade. Segundo Salvador (2008, p.2) sobre o projeto pedagógico da disciplina:
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Na área de Corpo e Movimento, especificamente na Disciplina Seminário 1 em práticas educativas, o desafio se torna ainda mais instigante e trabalhoso, na medida em que o corpo, com seus gestos e expressões, traduz um acúmulo de história, cultura e política da sociedade, em que os conteúdos desta leitura pedagógica necessariamente ultrapassam o paradigma racional e cognitivo. Este campo de estudos nos convida às subjetividades e interpretações que os corpos nos fornecem constantemente e que as escolas e seus profissionais envolvidos tradicionalmente tendem a negligenciar.
Segundo Silva (2001) essa nova modalidade em comunicação, inaugurada pela Era Digital, é uma característica da sociedade da informação e produz uma revisão na relação entre emissor, receptor e mensagem. Para ele o conceito de interatividade tira o sujeito da posição de mero receptor de informações para coautor na elaboração do conhecimento.
As atividades da disciplina, por se tratar de um curso semipresencial, contam com novas interfaces digitais como: blog, fóruns de discussão, textos, troca de mensagens eletrônicas e vídeos.
[1]Cibercultura é uma expressão criada por Pierre Levy para resumir o mundo digital centralizando múltiplos usos. É a cultura contemporânea atravessada pelas tecnologias digitais, em que sua dimensão sociocultural promove trocas entre a sociedade, a cultura e as novas tecnologias digitais, graças à convergência das mídias no espaço virtual. A cibercultura é um termo utilizado na definição dos rearranjos sociais das comunidades no espaço eletrônico virtual.
[2]UERJ, UFRJ, UFF, Unirio, UENF e UFRRJ.
[3]Referimo-nos aqui ao conceito de Gardner de inteligência corporal-cinestésica que está relacionada com o movimento físico e com o conhecimento do corpo. É a habilidade de usar o corpo para expressar uma emoção (dança e linguagem corporal) ou praticar um esporte. "O controle do movimento corporal está, evidentemente, localizado no córtex motor, com cada hemisfério dominante ou controlador dos movimentos corporais no lado contralateral." (GARDNER, 1995, p.23).
[4]A disciplina de Seminário de Práticas Educativas 1 será denominado a partir daqui como “Seminário 1”