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Desenvolvimento da Aula...

Alternativas e possibilidades de introduzir o corpo na escola

Especificamente na Educação Física, é possível reverter esse quadro: ao invés de oferecer esportes tradicionais que impõem suas regras e movimentos construídos para atletas de alto rendimento, e que possuem pouco significado para alunos que não estão nessa condição, nem têm maturidade motora para a realização plena dessas atividades, podemos construir jogos com regras combinadas por todos, resgatar atividades corporais da cultura local, danças e manifestações folclóricas e jogos e brincadeiras de cunho cooperativo.


Veja o que diz Silvino Santim a respeito dessa proposta:

A Educação Física poderá desenvolver a ideia de corporeidade como instrumento a ser exaurido em função de ideias de outra ordem, ou compreender o corpo como elemento básico humano que deve ser desenvolvido, construído e respeitado ao mesmo nível de todas as dimensões humanas. A educação física pode adotar uma filosofia que tenha como princípios o rendimento, a competição, e o confronto, onde a meta única e vencer para proclamar sua superioridade, ou então, desenvolver uma filosofia através da qual as atividades corporais são vividas como lazer, gesto, harmonia, arte e espetáculo. (Santim, 1987, p.52)

 

Nas outras disciplinas, o cotidiano escolar nos aponta que os alunos se expressam corporalmente a todo momento e em qualquer lugar, e que a construção do conhecimento se realiza em unidade e não dividido entre corpo e mente. Nesse sentido, motivá-los a descobrir suas inteligências múltiplas pode ser uma alternativa. 

http://www.suapesquisa.com/educacaoesportes/inteligencias_multiplas.htm

O professor pode construir estratégias para a superação de obstáculos que a escola reproduz em seu meio e educar também pelos movimentos, gestos, interpretações de músicas, pelas artes, entre outras ações.

O professor pode refletir o seu papel social de contribuir na manutenção ou modificação da sociedade em que vive e perceber que as suas atitudes influenciarão os alunos de maneira incisiva nesse caminho a ser seguido, sem a pretensão de achar que mudanças sociais ocorrem apenas no ambiente escolar.

Uma proposta metodológica que pode auxiliar no processo de mudanças consiste em transmitir os conteúdos de qualquer disciplina por intermédio de atividades que possuam movimento, desafios coletivos, curiosidades, experiências no cotidiano, jogos, entre outros.

Para isso, a ideia é possibilitar ações em que atividades corporais possam ser realizadas de forma criativa, para que os jovens se percebam como uma totalidade, como cidadãos participativos e construtores do seu local e produtores de cultura, resgatando jogos e brincadeiras de seus antepassados, inter-relacionar as diversas áreas de conhecimento como a alfabetização, a lógica matemática, os fenômenos da física e da química, as noções espaciais geográficas, entre outros.

O conhecimento dos gestos e expressões corporais das crianças são as suas próprias traduções e expressões culturais, pois passamos a conhecê-las por intermédio de um processo complexo e não por segmentos estanques e fracionados.

Para o professor, a mudança de concepções e atitudes possibilita a compreensão e ampliação de sua função social, bem como a percepção de seus limites e repressões corporais, em parte, influenciados por um sistema social que se mantém através de um intrincado sistema de controle e poder. Michel Foucault (1987) se debruçou sobre a questão da obediência e alienação corporal infringida pela sociedade, no intuito de controlar as ações sociais por intermédio do corpo. Veja o que ele diz a respeito:

O momento histórico das disciplinas é o momento que nasce uma arte do corpo humano, que visa não unicamente o aumento de suas habilidades, nem tampouco aprofundar sua sujeição, mas a formação de uma relação que no mesmo mecanismo o torna tanto mais obediente quanto e mais útil, e inversamente. Forma-se então uma política das coerções que são um trabalho sobre o corpo, uma manipulação calculada de seus elementos, de seus gestos, de seus comportamentos. (Foucault, 1987 p.127)

A corporeidade observada como mantenedora do status quo, através dos tempos, mantendo poderosos laços com o passado, se mantém em grande parte pela memória social que se estabelece de diversas formas nas pequenas ações do cotidiano, impregnadas na cultura, nos gestos corporais e em tantas outras atitudes passadas e repassadas pelas gerações, com valores e normas eficazes na reatualização histórica e, consequentemente, no reforço das identidades coletivas.