E agora chegando ao final da aula, convido as seguintes reflexões:
Como num jogo de xadrez em que cada peça representa um valor e status, e possui um espaço específico no tabuleiro em que se é reconhecido e respeitado por todos os que jogam, pois representam os poderes que se instalaram na sociedade medieval, os esportes também vão muito além de uma simples partida ou jogo, pois representam bem mais que um clube ou seus atletas ou a quantidade de troféus conquistados, eles representam um forte sentido de identidade, seja de clube, de cidade ou até de uma nação.
Tais atividades extrapolaram o espaço dos esportes e invadem o campo do fenômeno social de grandes proporções.
As identidades que se formam no entorno dos esportes possuem um poder tamanho de parar um país e de envolver uma toda uma nação, sem precedentes.
Não é sem intenção que as grandes marcas, empresas e as mídias tentam a todo custo aderir os seus produtos a algum esporte ou modalidade olímpica.
Trago a vocês uma experiência vivenciada por mim:
Há tempos, assistindo um programa em um canal de esportes que dissertava sobre a guerra da Bósnia Herzegovina na década de 1990, observei atentamente que o documentário, dentre outras hipóteses, citava como um dos motivos para a deflagração da guerra um jogo de futebol entre as nações envolvidas em que teria sido este jogo o estopim das tensões anteriormente deflagradas pelas questões étnicas entre os países envolvidos.
Tal programa demonstrava um explícito poder que aquela partida de futebol possuiu no início do conflito que durou anos, em pleno território europeu.
Apresentaram, em detalhes, a "guerra" no estádio entre as torcidas de ambas as equipes, envolvendo inclusive os atletas de campo.
E finalizaram o programa com entrevistas atuais dos jogadores, de ambos os lados, que estiveram envolvidos naquele jogo e do quanto, na atualidade, grande parte deles estavam envolvidos em órgãos políticos dos mais variados, influenciando de sobremaneira os espaços do esporte e da política local.
Isso não parece ser obra do acaso, muito menos coincidências ou destino. Assim, torna-se necessário observarmos o tema com olhos atentos e com uma boa pitada de senso crítico...
Outro fato para as nossas reflexões:
No campeonato brasileiro de 2013, um fato sangrento envolveu 2 torcidas de grandes clubes de futebol no campeonato brasileiro (Vasco e Atlético Paranaense) e que, apesar da gravidade do fato, a divulgação de tal situação alcançou níveis estratosféricos em todos os canais de comunicação e mídia, além de intensos debates em todas as esferas sociais a respeito de tal situação.
Não se trata aqui de minimizar um fato grave e que deve ser firmemente punido pela sociedade. O que deve ser refletido aqui é a enorme proporção social que se desenvolve em tudo que envolve o esporte.
Entretanto, apesar de tanto poder em jogo, de tanta utilização de seus apelos emocionais nos diversos setores sobre o tema e de tantas construções de identidades diversas daquelas que tanto unem quanto diferenciam, os esportes em forma de jogo ou de brinquedo vão encontrar suas características fraternas e lúdicas também nos maiores recantos do planeta, nos mais diversos subúrbios dos países e serão jogados pelo simples prazer de jogar.
Assim, entre pés e mãos sujas e descalças, sem o menor interesse de alcançar algo, sem o menor compromisso com nada ou de possuir intencionalidades mais aprofundadas, o jogo e o esporte também desenvolvem a alegria, o prazer e a ociosidade benéfica.
Quem sabe aí é que encontramos o que há de mais humano perdido nas exigências de um mundo de produtividade atual?
Será que o mesmo esporte exageradamente competitivo que movimenta uma nação ou até todo o nosso planeta é o mesmo esporte que democratiza as relações mais anônimas em todos os cantos desse mesmo planeta no encontro de etnias, classes sociais e diferentes culturas?
Será que os esportes e sua concepção de competitividade exacerbada não nos influencia de sobremaneira a reproduzir os seus valores e conceitos nas nossas vidas?
Passo a bola para vocês!!!