Ir para o conteúdo principal
Página

UMA VISÃO GERAL DO PROCESSO DA COMPRA

comprar

Olá pessoal,

Vamos começar a nossa aula 5, cujo objetivo é introduzir a temática do consumo e sua relação com os processos subjetivos. Além disso, procurarei incluir os impactos das tecnologias digitais na esfera do consumo, partindo do pressuposto de que tal enfoque nos ajuda a  entender os caminhos e os dilemas da subjetividade na cultura contemporânea.
 

Primeiro, uma nota sobre a minha abordagem teórica sobre o tema. Considero as práticas de consumo importantíssimas para se entender a contemporaneidade, posto ser um campo onde travam-se questões centrais como inserção do individuo na esfera cultural, reconfiguração dos processos identitários, e também a inclusão social - este última questão quando consideramos a entrada de classes econômicas menos favorecidas na dimensão do consumo, fenômeno este característico da sociedade brasileira nos últimos 25 anos. Logo, me afasto de perspectivas marxistas que discutem o tema enfatizando seus aspectos negativos e deletérios, por não acreditar que fenômenos sociais tão complexos possam ser exclusivamente vistos pelo prisma da alienação, da menos-valia e da expropriação.
 

A minha crítica à perspectiva marxista do consumo reside no fato de que tenho uma visão positiva deste, ao considerar o consumo como catalisador de empoderamento social, de busca de autonomia e de reconfiguração de identidades individuais. Ver o consumo desta maneira significa partir do pressuposto de que este se torna uma das esferas privilegiadas onde travam-se os embates que definem as trilhas da subjetividade no mundo contemporâneo. Portanto, as práticas de consumo são fenômenos sociais e culturais extremamente relevantes, e que possibilitam a expressividade e o exercício das individualidades, porém não deixando de todo um conjunto de constrangimentos econômicos, políticos, sociais e culturais que atravessam tais práticas.
 

Em primeiro lugar, precisamos definir o que entende-se por práticas de consumo. Estas podem ser definidas como o conjunto de processos envolvidos na escolha, compra, consumo, avaliação e descarte de bens. Isto significa que entendo a compra como sendo um processo que pode ser divido em 3 estágios temporais: o momento anterior ao ato de compra(envolvendo itens como a formação da intenção de compra e de critérios de escolha de bens), o ato de compra em si (o ato de aquisição do bem, seja em plataformas físicas ou virtuais) e o momento posterior à compra (passando pelo uso do bem adquirido, sua consequente avaliação por parte do consumidor e o subsequente processo de descarte). A imagem abaixo auxilia na visualização desses estágios:

decisão

Alguns benefícios dessa visão da compra como um processo devem ser aqui ressaltados. Primeiro, ela possibilita um entendimento mais aprofundado dos processos de formação da intenção de compra (motivação) e de busca de informação por ocasião do momento anterior da compra, inclusive verificando o papel de variáveis externas ao consumidor (o papel da propaganda, de formadores de opinião ou de grupos sociais). Segundo, auxilia a vislumbrar que a escolha de um bem não necessariamente o leva à compra, posto que o consumidor pode experimentar gargalos ao longo do processo de compra (por exemplo, um atendimento pouco atencioso por parte de vendedores, filas quilométricas de pagamento, má organização no ambiente de compra, um site de comércio eletrônico "pesado", que demora a carregar as páginas cujo ambiente de pagamentos é inseguro). Por fim, a fase posterior ao ato de compra introduz questões importantíssimas, não apenas pelo fato do consumidor utilizar o produto e formar a percepção se o mesmo o satisfez (ou não), mas também incluir a problemática do descarte dos bens e seus respectivos impactos sociais e ambientais

 

Em segundo lugar, a compra abrange dois tipos de bens a serem adquiridos: bens tangíveis (bens concretos, dotados de materialidade) e bens intangíveis (bens não-materiais, onde ocorre a ausência de materialidade). No primeiro grupo, encontram-se os chamados produtos que são representados pela grande maioria dos bens de consumo que permeiam o nosso cotidiano (desdecommodities agrícolas e minerais até os bens de consumo cotidiano, como itens de supermercado, roupas, eletrodomésticos, eletroeletrônicos, automóveis, etc). No segundo grupo, mais difícil de definir dada a sua ausência de materialidade e de concretude, encontram-se osserviços (sim, eles são bens intangíveis de consumo), as experiências e os processos de aquisição do conhecimento

.
 

A grande característica dos serviços é a simultaneidade entre consumo e avaliação, isto é, o ato de prestação do serviço (a experiência) coincide com a avaliação que o consumidor faz dessa experiência, tornando este peculiar dentre do processo de compra. Para os pesquisadores de marketing de serviços, este seria o "momento da verdade" da prestação do serviço, posto daí a resultar a satisfação ou insatisfação do consumidor para com essa experiência. Isso se aplicaria a uma ampla gama de experiências, desde um simples corte de cabelo em um salão de beleza, passando pelo atendimento em uma loja de departamentos, a fruição de um pacote turístico (um cruzeiro, por exemplo), a aquisição de conhecimentos por intermédio de um curso, uma aula ou uma palestra (seja esta presencial ou não presencial), ou até mesmo a confiança que uma dona de casa deposita numa determinada marca de café solúvel ou de sabão líquido para lavar as roupas de sua família.

 

Vamos continuar essa discussão sobre o consumo ao longo dessa semana.

 

Boas leituras e reflexões!

 

Abraços a todos