Olá pessoal,
O assunto de nossa aula 6 envolve o impacto do consumo no processo de construção e regulação da subjetividade. Conforme discutimos na aula anterior, e reforçado pelo texto que vocês leram e realizaram a tarefa 1, os processos de consumo não devem ser vistos como meras trocas de bens e serviços, mas possuem impactos significativos na sociedade, na cultura e na identidade.
A relação entre a cultura material (e por extensão os processos de consumo) e a subjetividade não é um fenômeno novo, mas suas implicações na contemporaneidade são discutidas por autores como Zygmunt Bauman, Colin Campbell e David Brooks. Ambos tomam por base o desenvolvimento da cultura de massa, o surgimento da indústria da propaganda e da cultura de consumo.
Há diferenças entre esses autores, especialmente entre Bauman e os dois últimos pelo fato do primeiro entender os processos de consumo como tendo um efeito negativo na esfera da sociabilidade e da subjetividade humanas. Para Bauman, a cultura do consumo teria como grande marca a liquefação das relações sociais, de trabalho e interpessoais, tornando os vínculos entre indivíduo, estado e sociedade precários e frágeis. Notadamente, a concepção de Bauman enfatiza os retrocessos e os aspectos negativos do consumo na contemporaneidade.
Entretanto, outros autores como Colin Campbell (A Ética Romântica e o Espírito do Consumismo Moderno. Rio de Janeiro: Rocco, 2001) e David Brooks (Bubos no Paraíso Rio de Janeiro: Rocco, 2002) desenvolvem uma visão alternativa, discutindo os impactos da cultura material do consumo de massa nos processos de subjetivação. Ambos partem da perspectiva de que o consumo assevera o individualismo como modelo de subjetivação contemporâneo; porém, tal individualismo deve ser visto como um fenômeno complexo, cheio de nuances e matizes.
A cultura de consumo contemporânea promove um entrechoque entre o individualismo econômico preconizado pelo capitalismo, e o individualismo romântico presente nas produções artísticas e culturais européias desde o século XIX. No entender de Brooks (2002), a contemporaneidade possiblitou o encontro entre o mundo burguês do capitalismo, baseado na tradição, na ética do trabalho duro e na moralidade cristã, e o mundo da contracultura boêmia expresso na liberdade criativa e de espírito compartilhado por intelectuais, artistas e diletantes. No anos 1960, os boêmios representavam o mundo hippie e da "nova era", enquanto que os ultracapitalistas yuppies tomaram de assalto a cultura ocidental nos anos 1980. A separação entre ambos os mundos era clara, posto que a liberdade "vagabunda" dos boêmios não combinava com a dureza da ética capitalista do trabalho duro.
Tal junção entre o individualismo utilitário (ou a ética capitalista burguesa) e o individualismo romântico (a contracultura boêmia), Brooks nomeia de Bubos (ou "burgueses boêmios"),uma nova elite cultural típica da Sociedade do Conhecimento onde criatividade e ganância econômica se misturam: