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O CIBERATIVISMO

Olá pessoal,

Como vimos na aula anterior, o empoderamento do indivíduo é uma tendência sociocultural duradoura, que veio para ficar. A difusão dos gadgets tecnológicos, o aumento da capacidade de transmissão de dados e o barateamento das conexões de internet, bem como o crescimento exponencial do número de indivíduos interligados pelas redes sociais virtuais amplia a capacidade de expressão de opiniões, crenças, valores, gostos, preferências e anseios destes nos mais variados âmbitos da atividade humana. Ver tal processo apenas pela ótica das práticas de consumo é ter um enfoque reducionista e absolutamente estreito de um fenômeno de tamanha magnitude na história contemporânea: o aumento das interconexões entre os indivíduos.

Conforme apontado por vocês em aulas anteriores, novas formas de sociabilidade tornam-se cada vez mais frequentes: relações sociais mediadas pelas tecnologias digitais, tanto de caráter síncrono e assíncrono, onde a não-presencialidade torna-se a regra (e não mais a exceção). Neste cenário, relações interpessoais de base "líquida" (Zygmunt Bauman), baseadas na "força de laços fracos" (Richard Sennett), cada vez mais efêmeras e frágeis apontam para um futuro sombrio dos relacionamentos na era da ubiquidade do digital...

Entretanto, como também discutimos em aulas anteriores, a contemporaneidade traz o selo da ambiguidade e do paradoxo. Redes sociais virtuais de massa - como o Facebook e o Twitter - viabilizaram a expressão de diferentes opiniões, ideias e posicionamentos econômicos, políticos, sociais e estéticos. É na esfera da política que o empoderamento dos cidadãos atinge o seu ápice, culminando no ciberativismo: o uso das tecnologias digitais como formas de articulação política dos projetos e anseios de uma determinada coletividade.

Em seu livro recente, porém já clássico, "Redes de Indignação e Esperança" (Rio de Janeiro: Zahar Editora, 2014), o sociólogo catalão Manuel Castells analisa o fenômeno do ciberativismo tendo por base manifestações populares recentes ocorridas em diversas partes do mundo que tiveram como ferramenta de catalisação as redes sociais virtuais:  os protestos contra a crise financeira na Islândia ocorridos entre 2009 a 2011: a Revolução tunisiana da "liberdade e dignidade" ocorrida no final de 2010; a Revolução Egípcia que se deu em janeiro de 2011, com a ocupação da Praça Tahir no Cairo; o Movimento dos Indignados ocorrido na Puerta de Sol, em Madrid, em maio de 2011; e, por fim, o movimento Occupy Wall Street, ocorrido em Nova Iorque no final do mesmo ano de 2011.

Assistam abaixo o trailer do documentário "A Praça" ("The Square"), um olhar dramático sobre a Revolução Egípcia:

Abaixo, uma reportagem sobre o movimento "Occupy Wall Street":

Além de convocados pela internet, todos estes protestos (a despeito da disparidade de agendas e realidade socioculturais distintas) tinham os seguintes elementos em comum: a maioria dos  manifestantes era composta por jovens entre 20 e 30 anos de idade, as lideranças eram fluidas e autoproclamadas a todo o instante, os protestos eram organizados espontaneamente e, o mais importante, sua inspiração encontrava-se para além da esfera de atuação das consolidadas lideranças políticas tradicionais de oposição. A capacidade de organização e liderança fluidas assustaram tanto os partidos políticos tradicionais de oposição quanto os políticos e partidos das bases governistas, que demoraram a ter uma compreensão mais aprofundada desse fenômeno. 

As chamadas Jornadas de Junho, ocorridas em 2013, foram o equivalente brasileiro desta dinâmica de protestos impulsionadas pelo ciberativismo. Seu mote, inicialmente contra o aumento de R$ 0,20 das passagens de ônibus na capital paulistana, foi articulada pelo Movimento Passe Livre. A adesão em massa da população a estes protestos se deveu, principalmente, à escalada da repressão dos órgãos do estado aos manifestantes, tendo se difundido rapidamente por todas as capitais brasileiras. Sua agenda tornou-se difusa, confusa e diluída por uma amplo espectro de demandas que iriam desde a indignação contra a baixa qualidade dos serviços públicos prestados pelo Estado, passando pelo protesto contra a corrupção generalizada dos políticos brasileiros, chegando a denúncia dos gastos exacerbados na construção das obras de infraestrutura para os grandes eventos esportivos dos anos seguintes (leia-se, Copa do Mundo de Futebol e os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro). Um retrato interessante deste momento histórico é dado pelo do documentário "Junho", cujo trailer reproduzo abaixo:

Para aprofundar a nossa discussão, leiam a seguir o texto de discussão sobre o ciberativismo.

Abraços a todos